Apenas 10% da população é responsável por 50% das emissões de gases do efeito estufa, aponta o estudo publicado na Nature Sustainability. Os dados analisados na pesquisa entre 1990 e 2019 evidenciam a desigualdade subjacente à crise climática.
Lucas Chancel, líder da pesquisa, observou que os 50% mais pobres da população mundial emitiram 12% das emissões globais em 2019. Em contrapartida, os 10% mais ricos foram responsáveis por 48% do valor total.
No entanto, esse padrão não é novo. Dados anteriores aos de 2019 apontam que desde 1990, esses 50% foram responsáveis por apenas 16% das emissões de gases do efeito estufa, enquanto 1% mais rico da população responde por 23% do valor total.
Esses números ressaltam a importância do movimento de justiça ambiental, que tem como propósito a redução das assimetrias sociais e econômicas decorrentes do contexto ambiental de determinados grupos sociais.
Estudos anteriores conseguiram comprovar esse desequilíbrio. Dados da Carbon Brief, por exemplo, evidenciaram os Estados Unidos como um dos maiores contribuintes para as emissões de gases do efeito estufa — contabilizando 20% das emissões desde 1850.
Contudo, Chancel procurou uma visão mais ampla, reunindo dados da diferença de emissões per capita. Para conseguir contabilizar a diferença, o especialista analisou três componentes de como um indivíduo poderia contribuir para as emissões globais: consumo, gastos do governo em seu nome e por meio de investimentos.
Quando os investimentos foram considerados na análise, foi possível observar que eles foram os maiores contribuintes para as emissões de 1% da população entre 1990 e 2019. Além disso, Chancel pode comprovar que durante o período do estudo, as emissões per capita desse grupo aumentaram em 26%, enquanto as do grupo de 0,01% aumentaram em 80%.
As maiores mudanças entre a desigualdade das emissões, de acordo com os resultados da pesquisa, ocorreram entre esse período. Há cerca de 30 anos, 62% da desigualdade de emissões se devia às diferenças entre países. Agora, a mesma quantidade de desigualdade se deve às diferenças dentro dos países.
Ao divulgar as descobertas em sua página no Twitter, Chancel evidenciou uma outra questão:
“Para resumir: as políticas climáticas que não levam em consideração a desigualdade de carbono provavelmente falharão, então devemos melhorar ou monitorar rapidamente essas questões. Também é fundamental reconhecer e acompanhar melhor o papel desempenhado pela poupança e propriedade de ativos na transição (ou falta dela).”
A questão da justiça ambiental dentro da pesquisa ressalta a importância não apenas da responsabilidade desse baixo percentual nos impactos das mudanças climáticas, mas também o reconhecimento de que suas ações infringem grupos marginalizados — que são diretamente afetados pelo capital investido em ações que agridem o meio ambiente.
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