5 lições da juventude sobre a Amazônia para as eleições de 2022

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Por Lays Ushirobira, do IPAM | A juventude, ao alavancar o crescimento do número de eleitores do Brasil – que até agora aumentou 6,2% em relação a 2018, segundo o Tribunal Superior Eleitoral –, vem mostrando seu poder de mobilização para semear ideias, soluções e escolher o futuro do país e da Amazônia. Mas para além da mobilização, os jovens têm outra lição para compartilhar: a solidariedade entre eles e outras gerações, que traz ainda mais força para a construção de um mundo mais ambientalmente sustentável, socialmente equitativo e economicamente próspero para todos.

“Nós vivemos em um conjunto e precisamos de bem estar para todos. Precisamos de políticos comprometidos com a vida, a dignidade e os direitos das pessoas”, ressaltou o ativista Paulo Galvão em entrevista ao Amazoniar, iniciativa do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) para promover um diálogo global sobre a Amazônia. No quarto ciclo, a equipe do projeto conversou com jovens que lideram a agenda socioambiental amazônica para entender suas ambições, sonhos e possíveis soluções para os desafios da região.

O Amazoniar encerra este ciclo celebrando o Dia Internacional da Juventude (12 de agosto) e somando ao chamado da comunidade internacional por ações conjuntas entre todas as gerações para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, sem deixar ninguém para trás. Confira as principais mensagens dos jovens que participaram do quarto ciclo da iniciativa:

1. As soluções para um desenvolvimento equitativo, inclusivo e sustentável precisam ser construídas coletivamente

A participação de todos em espaços de discussão e tomada de decisão em relação à agenda socioambiental é necessária para avançar o desenvolvimento sustentável. “Se o movimento não for construído no coletivo, não vamos chegar a lugar nenhum. O que dá um respiro [da emergência climática] é justamente o fato de que nós podemos construir esse espaço juntos e não estamos sozinhos”, destaca Paloma Costa, assessora do ISA (Instituto Socioambiental) e jovem conselheira em clima do Secretário-Geral da ONU.

“Há oportunidade de torná-los mais representativos para que de fato expressem o que a sociedade brasileira é e precisa”, afirma João Henrique Cerqueira, coordenador de relações institucionais do Clima de Eleição. “Decisões que representem os interesses da população não serão tomadas enquanto esses espaços não forem tão diversos quanto os brasileiros são.”

2. O conhecimento dos povos originários e tradicionais da Amazônia é essencial para a desenvolvimento da humanidade

Os povos indígenas e outras comunidades tradicionais da Amazônia estão na linha de frente da defesa pela conservação do bioma e não tem como falar de soluções para o desenvolvimento sustentável sem seus conhecimentos. “Nós não apenas vivemos na floresta, nós somos a floresta”, explica Txai Suruí, ativista do povo Paiter Suruí. “É preciso olhar para quem faz e já fez pela agenda do clima e tentar aprender ao máximo com essas pessoas para podermos readaptar nosso modelo de desenvolvimento e coexistência com o planeta”, completa João Henrique Cerqueira.

“Tenho falado com ativistas climáticos, do território e lideranças indígenas jovens que me ensinaram que existe um futuro ancestral. É olhar para o futuro sabendo valorizar e resguardar o que o constitui. Esse futuro ancestral é possível desde que você carregue a luta que já foi feita”, comenta a jornalista Paulina Chamorro.

3. A Amazônia em pé e o equilíbrio climático devem ser uma prioridades de todos candidatos e partidos

O desmatamento afeta negativamente o Brasil e o mundo inteiro. Assim, soluções para a conservação da Amazônia e a mitigação das mudanças climáticas precisam ser parte de todos os planos de governo, independentemente dos partidos dos candidatos. “Estamos falando da importância de pensar na questão climática e ambiental como algo suprapartidário, que não deveria estar em um plano de governo de apenas um candidato”, diz Suruí.

“É importante que a população olhe para esses programas de governo e questione os candidatos sobre o que eles pretendem fazer pela Amazônia”, alerta Ludmila Rattis, pesquisadora do IPAM. “Precisamos de pessoas que saibam dos problemas da Amazônia, que estejam comprometidas com as soluções e a governança da terra.”

4. A participação cidadã na política pública deve ser prática do dia-a-dia

De acordo com Cerqueira, no Brasil, temos uma tendência de acompanhar mais o Poder Executivo, o que acaba reduzindo a atenção do Legislativo. “O Legislativo deveria ser a expressão da população brasileira, mas quando olhamos para grande parte das lideranças eleitas no Congresso Nacional ou em qualquer Assembleia Legislativa, elas são muito distantes da realidade das pessoas”, diz.

“Participar localmente da política pública é muito importante”, diz Chamorro. “Qualquer poder local, mais próximo da população, é onde conseguimos falar com o tomador de decisão com mais facilidade. Quanto mais próximo de onde você está, mais possível é acessar um processo de tomada de decisão e gerar algum tipo de influência nas políticas públicas”, completa Cerqueira.

Nesta mesma linha, a participação cidadã deverá compor os diferentes fóruns de discussão, concepção, elaboração e execução das políticas públicas que serão estabelecidas para a Amazônia e para a proteção do clima.

5. Somos todos interdependentes da floresta e sua conservação é uma condição para o futuro das pessoas e do planeta

As eleições representam uma oportunidade de retomar e fortalecer políticas públicas que protejam a floresta amazônica e o Cerrado, os direitos de seus povos indígenas e comunidades tradicionais, bem como restabelecer maior segurança jurídica, redução do desmatamento e ações de descarbonização da economia. Com isso, o país poderia recuperar sua posição como referência mundial na área de desenvolvimento sustentável , assegurar a qualidade de vida de todos e atrair oportunidades econômicas e estratégicas compatíveis com a floresta em pé. “Esta pode ser a eleição mais importante do mundo porque o que acontecer no Brasil este ano vai ditar o que vai acontecer para o resto do tempo para a raça humana. Se a Amazônia for destruída, todos nós seremos também”, alerta a ativista pelo clima Tiana Jacout.

“A Amazônia em si é complexa e a proteção dela também. Precisamos nos debruçar para entendê-la, porque o que acontece lá reverbera no Brasil todo e em outros países. Como vivemos num mundo globalizado, que depende da produção de um país ou de outro, é um tema mundial. Se a quantidade de carbono armazenado na Amazônia é emitida, o mundo inteiro é prejudicado”, explica Rattis.

Quer entender melhor o contexto atual da Amazônia?

Para quem se interessa em começar a aprender mais sobre o atual contexto amazônico e algumas das possíveis soluções para seu desenvolvimento sustentável, o Amazoniar lançou “Cenários possíveis para a Amazônia no contexto das eleições brasileiras de 2022”. A publicação faz uma análise de três dimensões – desmatamento, qualidade de vida e geopolítica –, trazendo dois cenários preditivos: o que poderia acontecer se o país mantiver o atual ritmo de destruição da Amazônia e se adotar possíveis soluções para a conservação do bioma.

A pesquisadora do IPAM Olivia Zerbini, uma das autoras da publicação, traz um resumo dos principais pontos:


Este texto foi originalmente publicado por IPAM de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Carolina Hisatomi

Graduanda em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e protetora de abelhas nas horas vagas.

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