Estudos mostram que a poluição por plástico já afeta a saúde de populações humanas e animais
Plásticos e saúde é, ainda, um tema pouco explorado, já que os polímeros sintéticos foram materiais criados, relativamente, há pouco tempo — o primeiro plástico foi criado no século XX. Entretanto, estudos têm mostrado que essa tecnologia pode ser nociva para a saúde humana, animal e do meio ambiente. O plástico de uso único, por sua vez, possui um grande papel na poluição do lixo plástico, já que é facilmente descartado.
Como o plástico pode afetar a saúde humana?
A presença de milhões de toneladas de plástico nos oceanos, principalmente no Giro do Pacífico Norte, chega a formar ilhas de plástico. Assim, o material pode contribuir para a morte de animais marinhos e para o rafting plástico. Isso resulta no aumento das invasões biológicas e redução da biodiversidade.
Porém, o maior problema já estudado a respeito dos riscos à saúde causados pelos resíduos plásticos, mencionado em um relatório publicado pela The Endocrine Society, é a sua composição feita a partir de produtos químicos perigosos, como os disruptores endócrinos. Essas substâncias perturbam os sistemas hormonais do corpo e podem causar câncer, diabetes, distúrbios reprodutivos e deficiências neurológicas no desenvolvimento de fetos e crianças e morte prematura.
Uma vez no ambiente, o plástico — principalmente no formato de microplásticos — continua liberando disruptores endócrinos nos mais diversos tipos de ecossistema, causando problemas semelhantes nos animais. Esses problemas incluem dimorfismo sexual, feminização, câncer e outros problemas que resultam em queda populacional.
Entre as principais substâncias perigosas para a saúde encontradas nos plásticos produzidos estão os bisfenóis, retardantes de chama, ftalatos, dioxinas, estabilizadores de UV, chumbo e cádmio.
Quais são os problemas que o plástico pode causar?
O problema dos plásticos é, ainda, muito maior do que se imagina. Um estudo publicado na revista Environmental Science and Technology aponta que os seres humanos consomem de 39 mil a 52 mil partículas de microplástico por ano.
Além disso, ao levar em consideração que o microplástico também pode ser inalado, esse número passa a ser maior que 74 mil. Há microplásticos até mesmo na água potável e no ar, que são formados de diversas formas, como danos à embalagens de plástico e sacolas plásticas devido a mudanças de temperatura, descarte incorreto de materiais ou na lavagem de roupas.
Ecologistas da Stanford University’s Hopkins Marine Station revisaram 129 estudos realizados com 171.774 indivíduos de 555 espécies de peixes marinhos. Das espécies analisadas, 210 que são capturadas comercialmente apresentaram presença de grandes quantidades de plástico no sistema digestivo. Ao investigar os peixes mais vulneráveis à ingestão, os pesquisadores notaram que os que estavam em níveis tróficos mais altos da cadeia foram os que mais consumiram. Isso pode significar que o microplástico se bioacumula conforme os níveis tróficos da teia alimentar.
Outro estudo publicado na Aquaculture comprovou a presença de microplásticos na farinha de peixe e nos próprios animais. A pesquisa constatou que há algumas partículas que são tão pequenas que podem passar até mesmo pelas barreiras intestinais, penetrando nos tecidos dos órgãos. Isso pode provocar inflamação, tamanhos corporais menores e outras lesões.
No corpo humano
Em humanos — que podem estar se contaminando ao consumir animais marinhos — há evidências de que os microplásticos podem piorar a asma, inflamar o sistema imunológico, danificar os órgãos internos e chegar até às placentas de mulheres grávidas. Para o autor da pesquisa, vivemos em uma armadilha de plástico em que as partículas, de alguma maneira e em algum momento, voltam ao prato.
Em 2018, um estudo revelou que mais de 50% da população mundial tem microplástico em suas fezes. Segundo dados da organização sem fins lucrativos Orb Media, há microplásticos no ar que respiramos, em alimentos como o sal ou a cerveja e até na água que bebemos: cerca de 83% da água de torneira do mundo está contaminada com microplásticos. Um estudo encontrou partículas de microplástico até na água engarrafada.
Outro estudo identificou presença de plástico em todos os principais órgãos de filtragem do corpo humano. Os pesquisadores encontraram evidências de contaminação por microplástico em amostras de tecido retiradas de pulmões, fígado, baço e rins de corpos humanos doados para pesquisa.
O contato com o plástico começa na placenta e continua para o resto da vida. Um estudo que comparou bebês que consumiram leite na mamadeira com aqueles de amamentação direto do peito mostrou que o primeiro grupo ingeriu, em média, 1,6 milhão de partículas de microplástico por dia.
Por fim, um estudo mostrou que pessoas com doenças inflamatórias intestinais têm 50% mais microplásticos em suas fezes.
Por que é importante reduzir o consumo de plástico?
Reduzir a exposição individual aos plásticos é importante, já que esse material é amplamente utilizado em embalagens, construção civil, pisos, tintas, utensílios de cozinha, cuidados de saúde, brinquedos de plástico infantis, artigos de lazer, móveis, eletrônicos domésticos, têxteis, automóveis e cosméticos.
Soluções como os bioplásticos parecem não ser o suficiente, uma vez que são feitas com aditivos químicos semelhantes aos plásticos convencionais e também têm efeitos de desregulação endócrina.
Ainda que existam muitos consumidores conscientes, é preciso um esforço maior para reduzir a exposição aos plásticos. A necessidade de políticas públicas eficazes para proteger a saúde pública dos disruptores endócrinos é ainda mais urgente devido às projeções de crescimento da indústria do plástico.