A jornada da heroína como passaporte para as Tecnologias

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Por Conexão UFRJ | O monomito, também conhecido como ” jornada do herói”, é um conceito cunhado em 1949 por Joseph Campbell e muito utilizado para contar histórias que partem de um mesmo modelo: um herói que passa por etapas e obstáculos enfrenta um processo do qual sai vitorioso e transformado. No entanto, focada na jornada do masculino, a proposta não se aprofunda em questões sociais que fazem com que mulheres enfrentem outros desafios não abordados ali.

Baseada nisso, em 1990, Maureen Murdock apresentou a jornada da heroína, na qual cria a versão feminina do processo. A partir dessa ideia revisitada, o projeto Jornada de Aprendizagem da Heroína, executado por pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), tem o objetivo de promover o acesso pleno e igualitário para meninas e mulheres em Stem – acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

O projeto funciona com [IS1] base na tese de doutorado de Luis Felipe Coimbra Costa, que visa à criação de uma plataforma digital capaz de incluir a lógica da jornada da heroína em cursos voltados para meninas de 15 a 21 anos que tenham interesse em Stem. Já em funcionamento, a aplicação Jornada da Aprendizagem está sendo desenvolvida a partir de parceria entre o Laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes) e o Laboratório do Futuro, ambos da Coppe, além do Departamento de Matemática do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa, Portugal.

O primeiro curso aplicado na estrutura da jornada contou com a maior participação do gênero feminino dentre todos os cursos disponibilizados pela plataforma de ensino a distância do IST, recebendo inscrições de mais de 390 estudantes, do Brasil e de Portugal. Com foco em aulas práticas, exercícios e exemplos, o programa era voltado aos fundamentos de Aprendizado de Máquina de maneira intuitiva.

Transformando visões

A estudante Cecília Altran, aluna do projeto, sentiu um impacto positivo ao encarar a plataforma e se deparar com um curso “recheado de palestras de mulheres incríveis e inspiradoras”. Ela, que sempre se interessou pela área, também enfrentou muitos medos por achar que Matemática, Engenharia e Tecnologia seriam muito difíceis. “Achava que eram áreas só para pessoas muito inteligentes ou homens, no geral. Já adulta que eu percebi o que realmente queria e confesso que no começo tive muita ansiedade, muito medo de ‘não dar conta’ e de essa área não ser ‘realmente para mim’, mas fico muito feliz de ter feito essa escolha”, explicou.

Luis Felipe Coimbra, doutorando da Coppe responsável pela concepção da tese que baseia o projeto, explica que existe um planejamento para prestar a diversos cursos o serviço de aplicação da Jornada, que será direcionado a pessoas sem experiência. Também está prevista a disponibilização de todos os artefatos e softwares do projeto com licença livre em um repositório público, de forma que qualquer pessoa possa executar, acessar e modificar o código fonte, além de redistribuir cópias com ou sem modificações.

O pesquisador defende que incluir as mulheres nas decisões estratégicas das empresas de Tecnologia permite uma visão mais ampla e qualificada para o desenvolvimento de produtos e serviços. “Mais mulheres programando possibilita o desenvolvimento de códigos mais inclusivos e menos preconceituosos. Exemplo disso são alguns casos ligados à inteligência artificial, no qual vários problemas acontecem por esses códigos terem sido desenvolvidos exclusivamente por homens. Na Academia, por exemplo, é necessário uma participação maior de mulheres na revisão de artigos científicos e na elaboração de propostas educacionais”, defende ele. 

Para os próximos passos, a equipe está em busca de empresas da área de tecnologia para parcerias com o projeto, sem contar a preparação de novas edições do curso já existente e o planejamento de novos cursos com a aplicação da Jornada. Além disso, está no horizonte a criação de novas jornadas para todos os gêneros e raças.

Este texto foi originalmente publicado por Conexão UFRJ de acordo com alicença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Equipe eCycle

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