Abelhas removem larvas mortas para reduzir transmissão de doenças na colmeia

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Mecanismo de defesa, denominado comportamento higiênico, pode ajudar no controle de parasitas e patógenos que atacam esses insetos sociais, aponta estudo

Imagem: Scaptotrigona depilis/Cristiano Menezes

Os insetos sociais, como formigas, cupins e abelhas, costumam apresentar um mecanismo de defesa em que removem crias mortas ou doentes a fim de reduzir a transmissão de doenças por parasitas e patógenos dentro da colônia.

Esse mecanismo, denominado “comportamento higiênico”, já tinha sido observado e estudado detalhadamente em abelhas com ferrão Apis mellifera, cujas operárias abrem com a mandíbula as células de cria onde estão uma larva ou pupa morta ou doente e as removem do ninho.

Agora, um grupo de pesquisadores da University of Sussex, da Inglaterra, em colaboração com colegas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), estudou por meio de um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) o comportamento higiênico em três espécies brasileiras de abelhas sem ferrão: a jataí (Tetragonisca angustula), a mandaguari (Scaptotrigona depilis) e a uruçu (Melipona scutellaris).

Os resultados do estudo foram descritos em um artigo publicado na revista Biology Open.

“Avaliamos o comportamento higiênico nessas três espécies porque são algumas das mais utilizadas no Brasil para produção de mel e polinização agrícola”, disse Denise de Araujo Alves, pós-doutoranda na Esalq-USP e uma das autoras do estudo, à Agência Fapesp.

Os pesquisadores coletaram favos de colônias dessas três espécies de abelhas e os congelaram durante dois dias, a fim de matar as pupas e larvas e simular o efeito causado por um agente patogênico.

Após contar a quantidade de células de cria com pupas e larvas mortas nos favos congelados, eles os reintroduziram em oito ninhos das três espécies de abelhas que foram monitorados a cada 24 horas, durante seis dias, para contabilizar os números de células abertas e de larvas e pupas removidas.

Os resultados do experimento indicaram que todas as três espécies de abelhas sem ferrão apresentaram níveis elevados de comportamento higiênico, removendo rapidamente as larvas e pupas mortas por congelamento.

As abelhas uruçu demonstraram melhor desempenho em executar essa tarefa. Em 48 horas após a introdução do favo congelado em suas colônias, as operárias dessa espécie de abelha removeram mais de 99% das pupas e larvas mortas.

Já as abelhas mandaguari removeram 80% da cria morta e as jataí eliminaram 62%.

“O comportamento higiênico dessas três espécies de abelhas sem ferrão é tão eficiente quanto o de abelhas com ferrão”, comparou Alves.

Curiosamente, os pesquisadores observaram que, em uma das colônias de mandaguari que apresentou desempenho mais lento na remoção de crias congeladas, 15% das abelhas adultas que emergiam de suas células tinham as asas deformadas – indicando a possibilidade da existência de doença ou desordem ainda não identificadas, mas com sintomas semelhantes aos causados pelo vírus da asa deformada em abelhas Apis mellifera.

Para avaliar a capacidade das abelhas mandaguari de identificar e remover as larvas e pupas contaminadas, os pesquisadores realizaram um segundo experimento: introduziram favos com crias vivas de colônia que apresentaram esse problema em outras colmeias saudáveis.

Os resultados desse experimento indicaram que as abelhas das colônias com níveis mais altos de comportamento higiênico no primeiro experimento também foram mais eficientes em detectar e remover a cria insalubre (com 12,5% de remoção) em comparação com as abelhas das colmeias menos saudáveis ou “higiênicas”, que removeram apenas 1% das pupas.

“Isso mostra que há uma variação dentro da espécie: quanto mais higiênica for a colônia, mais rápida será a detecção e remoção de larvas e pupas insalubres”, afirmou Alves.

“Como encontramos um número elevado de operárias com asas deformadas do lado de fora dos ninhos, acreditamos que essas abelhas acabam saindo ou sendo expulsas pelas outras operárias adultas e mais saudáveis”, afirmou Alves.

“Se a deformação das asas delas for causada por um agente patogênico, não é positivo que permaneçam na colônia”, avaliou.

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