Entenda tudo sobre o absorvente menstrual, seus impactos e alternativas
O absorvente é um item praticamente indispensável na rotina da maioria das mulheres que estão em idade reprodutiva (aquela que vem depois da puberdade e antes da menopausa). Isso porque a cada 28 dias, em média, se a mulher não engravidou, o organismo precisa expelir o sangue menstrual. Se você está nessa fase, entenda tudo sobre o absorvente menstrual, seus impactos e alternativas.
História do absorvente
A partir da Revolução Industrial (final do século XVIII) até a década de 1960, as mulheres ocidentais utilizavam pequenos pedaços de tecido dobrados para absorver a menstruação, as chamadas “toalhas higiênicas”. Elas eram costuradas em casa e, após o uso, lavadas e reutilizadas.
O primeiro absorvente descartável chegou ao Brasil em 1930, mas foi na década de 50 que começou a se popularizar. A novidade foi estampada em várias propagandas relacionando as mulheres que usavam os absorventes à ideia de modernidade. Entretanto, em alguns lugares no mundo as mulheres não têm acesso a nenhum tipo de absorvente, seja por habitarem localidades isoladas e distantes de cidades (como regiões áreas rurais), e/ou por não terem recurso financeiro para adquirir absorventes, e, em consequência disso, acabam deixando de ir à escola ou ao trabalho no período menstrual, e há também regiões nas quais a menstruação é um tabu. Um documentário chamado “Absorvendo o Tabu” mostra como na Índia rural, onde o estigma da menstruação persiste, as meninas e as mulheres acabam abandonando a escola e o trabalho, respectivamente, por não terem como “esconder” a menstruação. Hoje, estima-se que cada mulher use em média de dez a 15 mil absorventes descartáveis da puberdade até a menopausa.
Impactos ambientais
É possível reciclar o absorvente descartável. Mas, no Brasil, esse processo ainda é inviável. A verdade é que a maioria desses absorventes acaba indo parar em lixões e aterros sanitários, agravando o problema do lixo.
Com uso de árvores e petróleo como matérias-primas para sua fabricação, o absorvente externo é composto basicamente por celulose, polietileno, propileno, adesivos termoplásticos, papel siliconado, polímero superabsorvente e agente controlador de odor.
A camada de celulose de fibra junto do polímero superabsorvente forma o núcleo absorvente – esse núcleo é recoberto por uma camada de polipropileno (parte que entra em contato com a pele). O corpo do absorvente é formado por um filme de polietileno e nele são adicionados adesivos termoplásticos e papéis siliconados. Algumas substâncias utilizadas na fabricação do absorvente podem variar de acordo com o fabricante; a cobertura plástica, por exemplo, pode ser trocada pela cobertura de algodão. Já o absorvente interno, também conhecido como tampão, difere do absorvente externo na sua composição. Eles são constituídos principalmente por algodão, rayon (seda artificial), poliéster, polietileno, polipropileno e fibras.
O principal impacto ambiental desses produtos começa na extração e no processamento das matérias-primas, que se baseiam na produção dos plásticos (petróleo) e da celulose (árvores). Como a produção de plástico requer muita energia e cria resíduos de longa duração, é um produto de pegada ambiental elevada. E a celulose é uma matéria-prima que tem de ser bem fiscalizada para garantir sua origem sustentável (madeira certificada). Não só a produção do absorvente descartável em si, mas os componentes extras, como a embalagem e serviços, como a logística de transporte das matérias-primas e do produto, geram impactos no ciclo de vida do produto.
O Instituto Real de Tecnologia, em Estocolmo, na Suécia, realizou uma avaliação do ciclo de vida do absorvente interno e externo. Eles avaliaram a extração da matéria-prima, transporte, produção, uso, armazenamento e gestão de resíduos, e concluíram que o processo crucial para todo o ciclo de vida deste produto é o processamento do LDPE (polietileno de baixa densidade), devido ao elevado consumo de energia para produzir esse plástico.
Esse estudo concluiu que, entre o absorvente externo e o interno, o externo tem um maior impacto ambiental devido ao maior uso de componentes de plástico. Isso não quer dizer que o absorvente interno não tenha também um impacto ambiental significativo – a fibra de algodão contribui com 80% do impacto total da produção desses absorventes, pois o cultivo intensivo de algodão requer grandes quantidades de água, pesticidas e fertilizantes.
Assim, o absorvente descartável, fino e moderno, traze junto com ele danos significativos para o ambiente, mesmo antes de chegarem até suas consumidoras.
Saúde
O uso tão comum de absorvente no dia a dia de muitas mulheres traz a reflexão sobre possíveis impactos de sua utilização na saúde. Alguns problemas, como alergias e infecções, podem estar relacionados ao uso do absorvente descartável, principalmente em mulheres que têm a pele e a mucosa mais sensíveis às fragrâncias, corantes e materiais sintéticos, que estão na composição de alguns desses produtos.
Absorventes com camada de plástico, por exemplo, podem prejudicar a ventilação da área e favorecer, assim, o aparecimento de infecções. Mas também podem existir casos de alergia causada pela intoxicação pelo agrotóxico glifosato, utilizado na plantação do algodão, que acaba indo parar na corrente sanguínea após o contato com a pele e a mucosa vaginal.
Outro problema associado ao uso de absorvente é a Síndrome do Choque Tóxico, uma doença rara (afeta uma a cada 100 mil pessoas), porém grave se não tratada com rapidez. Causada pela toxina da bactéria Staphylococcus aureus, essa doença tem metade dos seus casos associados à utilização de um absorvente interno de alta absorção e de material sintético.
Um lembrete importante, e que pode ajudar a evitar alguns dos problemas citados, é fazer a troca do absorvente no tempo indicado pelo fabricante, ou pelo seu ginecologista (entre quatro e oito horas), evitando a proliferação das bactérias.
Alternativas
Para aqueles que buscam alternativas de produtos mais ecológicos, e sem química nociva em sua composição, vale a pena dar uma testada nas opções que existem para verificar se alguma delas é adequada para você:
Absorvente de pano
É uma alternativa para aqueles que preferem produtos de uso externo. Eles exigem consumo de energia e água na lavagem, mas economizam no uso geral de matérias-primas na fabricação, por serem reutilizáveis.
Esse tipo de produto segue o mesmo formato do absorvente descartável, mas é feito 100% de algodão (o que é benéfico para a pele, pois a ajuda a “respirar”) e pode durar até cinco anos. A ideia é que ele seja lavado e reutilizado, como se fazia antigamente, antes dos absorventes descartáveis.
Coletor menstrual
O coletor menstrual é um copo de silicone hipoalergênico (não causa alergia) que é utilizado para coletar o sangue menstrual. Ele pode ser usado numa média de 8 horas por vez, dependendo da intensidade do fluxo, e depois é necessário esvaziá-lo e limpá-lo com água e sabão. Recomenda-se que, antes do primeiro uso, esterilize o copo em água, fervendo durante três minutos.
Eles são reutilizáveis, não contêm dioxina nem rayon e são fáceis de manter. É uma alternativa mais ecológica, por evitar a geração de resíduos sólidos, e mais econômica, pois o produto pode ser utilizado por anos, fazendo com que as mulheres economizem em absorventes descartáveis.
Confira um vídeo com informações de como fazer o uso do coletor menstrual.
Soft-tampon
O soft-tampon é uma espécie de espuma que é introduzida na vagina para absorver o sangue menstrual. Segundo o fabricante, ele é feito com materiais não tóxicos e que não poluem o meio ambiente, e foi lançado com o objetivo de permitir que as mulheres façam exercícios e sexo durante o período menstrual, sem temer desconfortos e vazamentos. O absorvente é leve e maleável. Entenda melhor e veja dicas de quem testou.
Absorvente biodegradável
Se você tem preferência pelos absorventes externos e internos descartáveis, mas quer causar menos impacto ao meio ambiente e/ou tem a pele sensível aos produtos sintéticos, existe a opção dos absorventes biodegradáveis, produzidos com algodão orgânico, sem material sintético e produtos químicos.
O fabricante que comercializa esse produto no Brasil é a marca Natracare, que diz produzir itens hipoalergênicos e que se biodegradam em até cinco anos (as condições dessa biodegradação não são especificadas).
Calcinha com camada absorvente
A calcinha com camada absorvente é uma calcinha que contém um material capaz de conter o fluxo menstrual, sendo, ao mesmo tempo, à prova de manchas. A função dessa calcinha, segundo uma das fabricantes, é reter o líquido, impedir vazamento, matar germes e bactérias e garantir a pele seca. Existem opções com camadas absorventes de maior capacidade de retenção (equivalente a dois absorventes internos médios) e de menor capacidade de retenção. A vantagem é que ela é reutilizável, podendo ser lavada e utilizada novamente, como uma calcinha normal. Porém não foi especificado pelos fabricantes o material usado na composição da camada absorvente.