O que é e como funciona o adestramento inteligente?

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Adestramento inteligente é um método de treinamento de cães que se fundamenta no reforço positivo, em vez de punições. A técnica utiliza o que há de mais atual na psicologia canina para solucionar problemas de comportamento ou ensinar o animal a realizar pequenos truques, com base em estudos atualizados sobre o assunto.

Os cachorros têm uma maneira peculiar de se comunicar conosco e demonstrar suas emoções. E, às vezes, eles não entendem o que queremos dizer com castigos, respostas negativas e broncas. Na verdade, essas atitudes podem ter o efeito contrário, tornando seu cachorro retraído, fechado, triste e estressado.

Por outro lado, o adestramento inteligente é uma excelente alternativa para fazer o seu cachorro entender melhor que ele não deve morder, pular nas pessoas, puxar a guia ou destruir o seu sofá, sem a necessidade de puni-lo pelo comportamento indesejado. Uma das grandes motivadoras dessa abordagem é a treinadora norte-americana Kathy Sdao, especialista em comportamento animal com mais de trinta anos de experiência.

Em seu livro Plenty in Life is Free: Reflections on Dogs, Training and Finding Grace, Sdao incentiva os tutores a utilizar a inteligência no processo de adestramento, a partir de três atitudes principais: observar o bom comportamento, marcar o bom comportamento (com um sinal ou um “sim”) e recompensar o bom comportamento. Segundo ela, essas são as três competências essenciais dos treinadores de sucesso.

No Brasil, o treinador Alexandre Rossi também delineia essa abordagem no livro Adestramento inteligente: como treinar seu cão e resolver problemas de comportamento. Os especialistas sugerem que, se você deseja obter um bom comportamento do seu cão, é preciso reforçar o bom comportamento, pois os princípios do condicionamento nos dizem que todos os comportamentos que são reforçados serão mais frequentes e mais fortes. Parece simples? E é! Mas esse método nem sempre é prioridade quando tentamos educar um cãozinho.

Por que o adestramento inteligente é tão eficaz?

A maior parte das pessoas não percebe que o cachorro está tendo determinado comportamento até que isso passe a incomodar. Nossa tendência é ignorar bons comportamentos e notar somente o que dá errado. Isso nos leva a ser muito mais eficientes em distribuir correções do que recompensas.

O primeiro passo para iniciar um adestramento inteligente é observar o seu cão. Quando ele fizer algo que você aprova, reforce esse comportamento de forma consistente e generosa. Kathy Sdao sugere reservar cerca de cinquenta guloseimas por dia, algumas das quais podem incluir as refeições diárias do seu cão, e usá-las para capturar e recompensar todos os comportamentos que você gosta que o seu cão tenha ao longo do dia.

Essa abordagem vai contra a corrente da mentalidade de “obediência” mais tradicional, em que os humanos comandam e os cães obedecem, mas nos dá uma oportunidade única de ser proativos em nosso treinamento, moldando os comportamentos que queremos antes que ocorram problemas.

Além disso, ao reforçar consistentemente os comportamentos que desejamos mais, estamos dando aos nossos cães informações claras sobre o que funciona em seu ambiente. Afinal, os cães não falam português e não nascem pré-programados conhecendo as regras do universo humano.

Essa abordagem pode ser especialmente útil com cães tímidos e medrosos, bem como cães que têm um histórico de treinamento baseado em punições. Como a punição suprime o comportamento, os cães frequentemente punidos começam a ver o comportamento como arriscado e tendem a fazer menos de tudo, inclusive brincar. Permitir que eles desenvolvam bom comportamento por conta própria fortalece a relação entre tutor e animal e ajuda a estabelecer a confiança.

O reforço positivo no adestramento inteligente

O reforço positivo é o processo de dar a um cão uma recompensa para encorajar o comportamento que você deseja. A ideia não é suborná-lo para ter o comportamento pretendido, e sim treiná-lo, usando algo que seu cão valorize. Evite punições, como correções na guia ou gritos. A punição pode fazer com que o cão fique confuso e inseguro sobre o que está sendo solicitado que ele faça.

Também é importante lembrar que não podemos esperar que os cães saibam o que não sabem – assim como você não esperaria que uma criança de 2 anos soubesse amarrar os sapatos. A paciência ajudará muito o seu novo cachorro a aprender como se comportar.

O reforço pode ser qualquer coisa que o seu cão goste. A maioria das pessoas usa pequenos pedaços de um alimento de “alto valor”, como petiscos e frutas. Elogios intensos ou brinquedos também podem ser usados ​​como recompensa. Os cães devem ser ensinados a gostar de elogios. Se você der um petisco ao cachorro enquanto diz “Cachorro bom!” com uma voz feliz, ele aprenderá que elogiar é uma coisa boa e pode ser uma recompensa.

Os filhotes podem começar um treinamento muito simples assim que chegam em casa, geralmente por volta de oito semanas de idade. Sempre mantenha as sessões de treinamento breves, de cinco a dez minutos, e sempre termine com uma atitude positiva. Se o seu cachorro está tendo problemas para aprender um novo comportamento, termine a sessão revendo algo que ele já sabe, elogie-o bastante e dê uma grande recompensa pelo seu sucesso. Se seu filhote ficar entediado ou frustrado, isso acabará sendo contraproducente para o aprendizado.

Por que o adestramento inteligente é melhor que a punição

Um estudo publicado na revista Plos One, desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Porto, em Portugal, revelou que os cães treinados com estímulos aversivos, que envolvem punições por comportamento incorreto, têm níveis de estresse mais elevados em comparação com cães treinados com métodos baseados em recompensa.

Os investigadores observaram o comportamento de 92 cães em sete escolas de adestramento de cães em Portugal que utilizam métodos aversivos (que utilizam principalmente estímulos aversivos), métodos de recompensa (que se concentram na recompensa de comportamentos desejados) e métodos mistos (que combinam a utilização de ambos recompensas e estímulos aversivos).

Eles filmaram sessões de treinamento e testaram amostras de saliva para o hormônio cortisol, relacionado ao estresse. Os cães treinados com métodos aversivos e mistos exibiram mais comportamentos relacionados ao estresse, como agachar-se e rosnar, e mostraram maiores aumentos nos níveis de cortisol após o treinamento do que cães treinados com recompensa.

Os autores também realizaram um teste de viés cognitivo em um local desconhecido fora do ambiente de treinamento usual com 79 desses cães, para medir seu estado emocional subjacente. Eles descobriram que cães de escolas que usam métodos aversivos responderam de forma mais pessimista a situações ambíguas, em comparação com cães que receberam treinamento misto ou baseado em recompensa.

Estudos anteriores baseados em pesquisas e evidências anedóticas sugeriram que as técnicas de treinamento baseadas em punição podem reduzir o bem-estar animal, mas os autores afirmam que este estudo é a primeira investigação sistemática de como diferentes métodos de treinamento influenciam o bem-estar durante o treinamento e em outros contextos. Eles afirmam que esses resultados sugerem que técnicas de treinamento aversivo podem comprometer a saúde do animal, principalmente quando utilizadas em alta frequência.

Por isso, se você ama o seu cãozinho e deseja que ele aprenda a ter bons comportamentos sem ficar deprimido ou estressado, o método de adestramento inteligente é, provavelmente, a melhor alternativa. Se o seu cão apresenta sinais de traumas ou atitudes violentas, consulte um especialista em adestramento para resolver o problema.


Fontes: Science Daily, Dog Minded, The Spruce Pets e American Kennel Club


Equipe eCycle

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