Você estaria disposto a aderir a uma dieta baseada em plantas para reduzir a pegada ambiental da sua alimentação? Se sua resposta for “sim”, parabéns! Você está “quebrando um galho”, ou melhor dizendo, deixando de quebrar vários galhos (reduzindo o desmatamento) para a humanidade e contribuindo para a sobrevivência do Homo sapiens na Terra. Mas, caso a sua resposta seja “não”, então que tal substituir a carne vermelha, o frango, o peixe, o ovo, o leite e seus derivados por macarrão de larvas de tenébrio, barata frita, farofa de formiga e gafanhoto assado no azeite de oliva para nos salvar?
De acordo com cientistas e a Organização das Nações Unidas (ONU), um futuro só será possível se as pessoas que consomem derivados de animais – principalmente as que pertencem às classes média e alta – substituí-los por vegetais e fungos ou, em segundo lugar, insetos.
A necessidade de uma transição alimentar amigável ao clima, vegana ou insetívora, não é novidade, principalmente para os 2 bilhões de pessoas no mundo que consomem insetos regularmente, mas o tema do consumo de insetos veio à tona novamente depois que foi noticiado que a Autoridade de Segurança Alimentar da União Europeia aprovou a adição de pó de insetos em alimentícios como hambúrgueres, farinhas, granolas e aperitivos comercializados na Europa.
Longe da estética do espetinho de larva de tenébrio, os ocidentais agora precisam checar item por item da lista de ingredientes de um alimentício (tal qual um vegano já faz), para saber se ele contém insetos. No Brasil, isso já acontece.
O corante carmim – muito presente em iogurtes, sorvetes, massas, maquiagens, tecidos e bolachas vendidos no comércio brasileiro – é preparado a partir de insetos que liberam um tom vermelho quando são esmagados, chamados cochonilhas. As cochonilhas são nativas da América Latina e têm como habitat natural a superfície de cactos cultivados no Peru.
A diferença agora é que provavelmente essa prática se estenda no mundo ocidental e sejam utilizadas outras espécies de insetos em mais tipos de alimentos.
“O consumo de insetos contribui positivamente para o meio ambiente, para a saúde e os meios de subsistência”, diz um comunicado da comissão da UE, segundo o jornal Euro News.
A criação de insetos é uma alternativa de baixo carbono que, em termos técnicos, pode substituir a produção de carnes. A criação de grilos, por exemplo, usa 75% menos CO2 do que a criação de galinhas.
Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) mostra que os grilos requerem seis vezes menos ração do que o gado para produzir a mesma quantidade de proteína. Tudo isso ajuda a economizar recursos e diminuir a pegada de carbono envolvida no consumo de proteínas de origem animal.
Ainda assim, apesar de a produção de insetos ser mais sustentável que a de carnes, ela fica atrás da dieta baseada em vegetais e fungos no quesito pegada de carbono. Alguns estudos vêm mostrando que os insetos provavelmente são seres sencientes, capazes de sentir dor e medo, o que seria outra desvantagem da dieta insetívora para quem se preocupa com o bem-estar dos animais.
Por outro lado, a dieta insetívora é capaz de prover vitamina B12, um componente que não pode ser fornecido em doses seguras pelos alimentos vegetais da forma como são consumidos atualmente. Por isso, apesar de alguns veganos não precisarem suplementar, eles precisam ficar sempre de olho nos níveis de vitamina B21. Assim como quem consome carne, que também pode apresentar alguma deficiência, principalmente a partir dos 50 anos.
Entretanto, seja em relação às dietas veganas ou insetívora, há uma barreira cultural significativa que atua contra a transição alimentar amigável ao clima.
A brasileira Teresa Santos, que é professora de uma escola primária no Texas e se identifica como uma pessoa que se esforça para ajudar o meio ambiente, diz que não teria coragem de comer insetos em plena consciência. “Morro de nojo, jamais comeria sabendo que é um inseto”, compartilhou a professora.
Entretanto, ela conta que está reduzindo o seu consumo de carne de origem animal por saber que esse hábito não faz bem para o meio ambiente e gera sofrimento desnecessário aos animais. “Tenho me esforçado cada vez mais para me tornar vegana não só na dieta, mas no meu consumo como um todo. O veganismo é a forma mais acessível de evitarmos a crise climática”.
Lucas Dias, estudante de administração, já não compartilha a mesma opinião que Teresa. “Nós somos o topo da cadeia alimentar e fomos feitos para nos alimentarmos de carne. Foi graças ao consumo de carne que nosso cérebro cresceu e pudemos evoluir nossa tecnologia. Se a gente parar para pensar no meio ambiente, a gente não faz mais nada e se mata”.
Na verdade, é exatamente o fato de não estarmos pensando no meio ambiente como sociedade que está nos matando, um fenômeno que os cientistas e ambientalistas chamam de ecocídio. Mas como o ecocídio acontece de forma relativamente lenta para os sentidos humanos, é preciso engajamento para entendê-lo, uma característica do fenômeno que dá margens para o negacionismo climático, que exige muito menos esforço mental para sua adesão.
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