A maior área de desmatamento foi no estado do Pará, com 5.257 quilômetros quadrados
Por WWF-Brasil – O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite-PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais-INPE divulgou nesta quinta (18) os dados de desmatamento da Amazônia Legal entre agosto de 2020 e julho de 2021. Os números, considerados oficiais pelo governo federal, confirmam a tendência já indicada pelos alertas mensais de desmatamento do sistema DETER, também do INPE: foi o ano mais devastador desde 2019, consolidando uma série macabra de três recordes consecutivos sob a gestão Bolsonaro.
Ao todo, estima-se que a Amazônia perdeu 13.235 mil km² no período, um aumento de 22% em relação a 2020, quando foram registrados 10.852 km² de destruição da floresta, e a consolidação de três anos consecutivos nos quais a destruição da floresta saltou dos patamares em torno de 6-7 mil km²/ano registrados a partir de 2016 para uma preocupante estabilidade acima de 10 mil km².
O Pará liderou as taxas de destruição, com 5.257km² (40% do desmatamento total no período), seguido pelos estados do Amazonas e Mato Grosso.
“Este é o Brasil real que o governo Bolsonaro tenta esconder com discursos fantasiosos e ações de greenwashing no exterior. O que a realidade mostra é que o governo Bolsonaro acelerou a rota de destruição da Amazônia. Se não revertermos essa tendência, acabando com o desmatamento e restaurando as áreas já degradadas, a floresta amazônica poderá alcançar um ponto de não reversão e iniciar um processo de degradação acelerado. Se isso acontecer, o Brasil deixará de contar com os serviços ambientais vitais que ela presta, como o armazenamento de carbono e a regulação do regime de chuvas do país”, afirma Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.
Além do risco de perda dos serviços ambientais da floresta e dos efeitos devastadores sobre o clima causados pelo desmatamento da Amazônia, os dados PRODES acendem a luz vermelha também para a economia. No começo deste mês, durante a COP 26, mais de 100 países se comprometeram a zerar o desmatamento de florestas – compromisso reiterado no acordo bi-lateral firmado entre as duas maiores economias do planeta, Estados Unidos e China, na semana passada. Empresas do Reino Unido, com suporte de seu governo, anunciaram um arrojado manifesto contra qualquer tipo de desmatamento associado com a produção de soja, anúncio este que trata tanto de ecossistemas florestais, como os não-florestais (a exemplo de parte do Cerrado) e que não aceita sequer o desmatamento legal. Esta semana, a Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, divulgou proposta para bloquear a importação de commodities associadas ao desmatamento e à degradação florestal, definindo o ano de 2030 como o limite para o desmatamento.
“Se o desmatamento não for interrompido imediatamente, as exportações brasileiras do agro ficarão cada vez mais restritas a um pequeno número de países que ainda não aderiram a esses acordos. São mercados marginais que, no futuro, também deverão aderir ao esforço global de combate ao desmatamento porque no caso do Brasil é de longe a principal fonte de emissões dos gases que estão alterando o clima em todo o planeta”, adverte Voivodic.
Importante considerar que o desmatamento é uma das causas mais brutais de emissões, uma vez que elimina ou coloca em risco a vida e a história natural do planeta de forma dobrada. A primeira, de imediato, ao eliminar a diversidade biológica local, favorecer epidemias e causar grandes impactos nos meios de vida. A segunda, em médio-longo prazo, por provocar o acúmulo de gases do efeito estufa, a mudança do regime hídrico, assim como impactos em diversos outros serviços ambientais chave à humanidade.
Ponto de ruptura da Amazônia cada vez mais próximo
Há uma semana, foi divulgado na COP 26, o relatório final do Painel Científico da Amazônia, que reuniu mais de 200 cientistas para avaliar o estado atual do bioma. A principal conclusão é que a floresta já está perto de um “ponto de não reversão” a partir do qual sua estabilidade se compromete, dando início a um processo automático de degradação que já não poderá ser parado. Ainda segundo esse relatório, a região conhecida como o “Arco do Desmatamento” já se tornou uma faixa da Amazônia que emite carbono na atmosfera, em vez de absorvê-lo. Atualmente, o desmatamento da Amazônia responde por quase metade das emissões brasileiras.
“Manter a floresta em pé é essencial se quisermos atingir a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura média do planeta em até 1,5°C até o fim do século”, lembra Voivodic. Ainda segundo o relatório do Painel Científico da Amazônia, a floresta retira mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera todo ano, o equivalente à metade de todos os gases do efeito estufa que o Brasil emitiu no ano passado.
O desmatamento na Amazônia já vem impactando o regime de chuvas em todo o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, causando graves prejuízos à segurança hídrica e alimentar do país. Além disso, na esteira do desmatamento, a grilagem, garimpo e invasão de terras têm colocado cada vez mais em risco a sobrevivência de populações indígenas e comunidades tradicionais.