Agricultura de baixo carbono: é o suficiente?

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Produção de alimentos é um dos setores da economia que mais contribui para o aquecimento global. Segundo dados de 2010 do Banco Mundial, atividades agropecuárias são responsáveis, em média, por 43% das emissões de gás metano (CH4) e 67% das emissões de óxido nitroso (N²O). Apenas no Brasil, essas substâncias respondem por 74% e 80% das emissões, respectivamente. Além disso, o grande uso de fertilizantes e agrotóxicos e a monocultura extensiva vêm contribuindo para a escassez de água e deterioração do solo.

Frente a esse quadro preocupante, a agricultura de baixo carbono surge como uma alternativa na tentativa de minimizar o impacto ambiental dessa atividade econômica. Mas ela não toca uma das questões essenciais do desenvolvimento sustentável: a redução no consumo de produtos de origem animal.

Entendendo a agricultura de baixo carbono

A agricultura de baixo carbono, propõe um sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) que, como o nome diz, é a mistura das plantações, da criação de animais, e das coberturas florestais em um mesmo espaço. A combinação dessa técnica com o sistema de plantio direto (SPD) é uma das práticas desse modelo.

O SPD consiste em processos, como a menor mobilização da terra e a manutenção permanente da superfície do solo para evitar uma parte de sua erosão; a diversificação de espécies cultivadas (que diminui a pobreza do solo); e a diminuição do tempo entre colheita e semeadura, com o intuito de garantir a conservação da água e do solo.

A iLPF pode ser feita de três maneiras. Consorciada, quando o plantio é feito entre a vegetação nativa ou entre outros vegetais já plantados. Pode também ser feita com base na rotatividade, cultivando diferentes espécies em ciclos específicos ao longo do ano, e, finalmente, em sucessão, com o cultivo de diferentes culturas sem levar em consideração o tipo de plantas, ou qual a finalidade do uso da terra.

Como mencionado anteriormente, o objetivo dessa prática é evitar a escassez dos recursos hídricos e erosão do solo, garantir maior eficiência no processo de fixação de carbono e nitrogênio, garantido pelos diferentes usos da terra, a manutenção da biodiversidade da região e a diminuição da emissão de gases do efeito estufa.

Fixação do nitrogênio

O processo de fixação do nitrogênio (PFN) é importante para garantir um dos nutrientes mais importantes para o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Normalmente, ele é feito por meio do uso de fertilizantes, que acarretam em uma série de problemas ambientais, como a emissão de óxido nitroso (N²O), a perda de nutrientes e de biodiversidade do solo e a contaminação de rios, lagos, mananciais e lençóis freáticos, entre outros (para saber mais sobre os fertilizantes orgânicos e inorgânicos e os problemas que sua utilização acarreta.

A Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa) oferece algumas opções alternativas para garantir o PFN. Uma delas está diretamente ligada à iLPF. A sucessão e rotatividade entre leguminosas, que graças à sua associação com bactérias que garantem a fixação natural de nitrogênio e enriquecem o solo para as próximas culturas, e outros tipos de plantas, é uma possibilidade. Outra é o consórcio, com cultivo simultâneo de leguminosas e outras espécies.

O uso de bactérias específicas, mais eficientes no PFN, também é possível. Conhecidas comercialmente como inoculantes, elas se associam às raízes das plantas, contribuindo com o aumento da produtividade do solo. Também estão disponíveis comercialmente sementes já inoculadas. A Embrapa faz estudos sobre um novo inoculante, formado por cinco tipos de bactérias, que aumente a produtividade da cana-de-açúcar.

Gases do efeito estufa

O plantio de espécies florestais de rápido crescimento, como o eucalipto e os diversos tipos de pinus, tem sido apontada como uma alternativa. A madeira proveniente desse tipo de cultura pode ser utilizada na fabricação de papel, móveis, materiais para construção e muito mais. Mesmo não sendo uma opção 100% sustentável, por não ser uma espécie nativa e não colaborar com a sociobiodiversidade, o plantio contribui com a captura do gás carbônico (CO²) presente na atmosfera.

Outra maneira interessante de diminuir os efeitos do aquecimento global consiste no tratamento de dejetos animais por meio do uso de biodigestores. Nele, as fezes dos animais são tratadas em um meio anaeróbico (sem oxigênio), onde são transformadas em biogás e fertilizante.

O biogás, formado basicamente por dióxido de carbono (CO²) e metano (CH4), pode ser utilizado na geração de energia elétrica, térmica ou mecânica, diminuindo tanto os gastos dos agricultores, quanto a emissão de gases do efeito estufa (para saber mais detalhes sobre o processo de biodigestão, leia nossa matéria especial sobre o assunto).

A substituição do diesel utilizado no maquinário agrícola pelo biodiesel é mais uma alternativa. Apesar de não zerar as emissões de CO², o biodiesel é uma fonte de energia renovável e menos poluente. Uma iniciativa semelhante está ganhando força no setor de transporte aéreo, em que as grandes empresas têm investido no desenvolvimento e na utilização de biocombustíveis.

É um contribuição real à agricultura sustentável?

O Brasil é uma das principais fronteiras agrícolas do mundo e, consequentemente, será um dos principais responsáveis pela produção de commodities e alimentos. De acordo com a ONU, a quantidade total dos habitantes do planeta deve chegar a nove bilhões de pessoas até 2050. É um alerta da importância e da seriedade desse assunto. A agricultura de baixo carbono pode ser considerada menos nociva, mas é preciso ir além. Cientistas já alertam que é preciso reduzir drasticamente o consumo de produtos de origem animal. Além disso, o desenvolvimento sustentável real deve incluir a sociobiodiversidade. Dessa forma, a agroecologia é uma alternativa mais congruente com a ideia de sustentabilidade ambiental, pois inclui as dimensões energéticas, social e ambiental, não priorizando a geração de lucro e sim a soberania alimentar.

Equipe eCycle

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