Agricultura sintrópica é o termo designado a um sistema de cultivo agroflorestal baseado no conceito de sintropia. Ele é caracterizado pela organização, integração, equilíbrio e preservação de energia no ambiente.
Essa vertente agrícola busca inspiração na dinâmica natural dos ecossistemas que não sofreram interferência humana para um manejo sustentável.
A agricultura sintrópica foi idealizada e difundida pelo agricultor e pesquisador Ernst Götsch em 1948.
Enquanto trabalhava com pesquisas em melhoramento genético, Ernst começou a se questionar se não seria mais sensato melhorar as condições de vida das plantas. Desta forma, criando áreas agrícolas altamente produtivas, em vez de alterá-las geneticamente para que sobrevivessem à escassez de nutrientes e condições climáticas não ideais.
Assim, ele começou a redirecionar o seu trabalho para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável.
Ernst Götsch chegou ao Brasil em 1982 e, dois anos depois, adquiriu a Fazenda “Fugidos da Terra Seca”, localizada na Bahia. A propriedade é conhecida como Fazenda “Olhos D’água”, pela quantidade de nascentes que foram recuperadas por meio do trabalho sinantrópico desenvolvido.
Nesse sistema, as plantas são cultivadas em consórcio e dispostas em linhas paralelas, intercalando espécies de portes e características diferentes. Isso visando ao aproveitamento máximo do terreno e levando em consideração a manutenção e reintrodução das espécies nativas.
O ciclo temporal dos consórcios também é um fator fundamental para o bom funcionamento desse modelo. Bem como a compreensão do mecanismo de sucessão ecológica em uma floresta não modificada.
A ideia geral da agricultura sintrópica é acelerar o processo de sucessão natural utilizando duas técnicas. Sendo elas: a capina seletiva, removendo plantas pioneiras nativas quando maduras, e a poda de árvores e arbustos. Após a poda, galhos e folhagens descartados são distribuídos sobre o solo, servindo como adubo.
Produtos químicos ou orgânicos que não sejam originários da própria área cultivada também não são utilizados na agricultura sintrópica.
Os insetos e organismos vivos que povoam as áreas de cultivo são vistos como sinalizadores de deficiências no sistema. Assim, ajudam o produtor a compreender as necessidades ou falhas daquele cultivo.
Em uma cultura convencional, à medida que o ciclo de plantação e colheita acontece, o solo vai se degradando e perdendo seus nutrientes.
Já na agricultura sintrópica acontece o oposto: à medida que os ciclos de plantio ocorrem, há um enriquecimento do solo, graças à disponibilidade de matéria orgânica remanescente das colheitas.
A alta diversidade de espécies vegetais é uma característica marcante da agricultura sintrópica. A escolha das espécies que compõem o sistema segue a dinâmica e a lógica da sucessão natural.
Os consórcios devem ser bastante diversificados, contendo espécies de todas as etapas sucessionais, a caminho do clímax da vegetação natural do local. O bom funcionamento do agroecossistema está intimamente ligado à completa composição dos consórcios. Possibilitando aproveitar os espaços vertical e horizontal e as interações benéficas entre as espécies.
As espécies são selecionadas para cumprir diferentes funções no sistema, não apenas para o retorno econômico, como acontece nos cultivos convencionais.
Algumas espécies são introduzidas para fornecer serviços ao agroecossistema, como a produção de biomassa para a cobertura ou adubação do solo.
Estudos mostram que a diversificação dos sistemas produtivos é favorável ao controle biológico natural de pragas. Desta maneira, diminuindo as populações de insetos herbívoros e dificultando a localização das plantas hospedeiras por esses insetos.
Na agricultura sintrópica, em vez de competirem, as espécies cooperam umas com as outras, se plantadas no momento e espaço corretos. O momento refere-se ao princípio da sucessão. Já o espaço está relacionado à demanda por luz de cada espécie em sua fase adulta, fazendo com que ela ocupe uma determinada posição nas florestas naturais.
A estratificação, entendida como a ocupação do espaço vertical da agrofloresta, é a estratégia para eliminar a competição por luz entre as plantas. A posição vertical que cada espécie ocupa em um consórcio agroflorestal é determinada com base em suas características fisiológicas e morfológicas, como exigência por luz, altura e ciclo de vida.
Dessa forma, as espécies são classificadas em estratos denominados baixo, médio, alto e emergente, sendo o último o topo da agrofloresta. As agroflorestas são planejadas para se ter, em cada etapa da sua vida, plantas ocupando os diferentes estratos.
A estratificação permite uma maior ocupação da área, maximizando o uso da luz solar pelas plantas e aumentado a fotossíntese e a produção de biomassa por área.
Além de eliminar a competição por luz, a estratificação favorece a cooperação entre as espécies. Aquelas que exigem mais luz devem ocupar as posições superiores da agrofloresta. Enquanto as que toleram ou preferem ambientes sombreados são beneficiadas pela cobertura proporcionada pelas plantas nos estratos superiores.
A sucessão proposta por Ernst Götsch resume-se no estabelecimento de consórcios sucessivos, sendo necessário compreender a dinâmica espacial e temporal das espécies em condições naturais.
Em cada consórcio, é recomendado que sejam introduzidas plantas que pertençam aos diferentes estratos e que tenham ciclos de vida e alturas distintos.
Diversas combinações de espécies podem ser utilizadas, o que dependerá das demandas de mercado, da disponibilidade de mudas, sementes e mão de obra e das condições de relevo e clima locais.
Outro princípio da agricultura sintrópica é a cobertura do solo com a poda de espécies plantadas para esse fim. Entre os possíveis benefícios do aporte de resíduos orgânicos ao solo, destacam-se:
Todos esses princípios práticos da agricultura sintrópica tendem a gerar modificações positivas no ecossistema. Alguns como o aumento da biodiversidade, melhoria da estrutura do solo, maior retenção de nutrientes no solo, modificações no microclima e o favorecimento do ciclo da água.
O modelo também se mostrou economicamente viável, uma vez que a produção demanda um baixo investimento. Isso acontece porque a área exige um mínimo de irrigação e não utiliza produtos químicos na sua manutenção.
O consórcio de diversos tipos de espécies, com tempos de colheita variados, também beneficia o agricultor, que obtém uma fonte de renda constantemente.
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