Água de reúso e aproveitamento de água da chuva: quais as diferenças?

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Os problemas da escassez da água são enfrentados por países de todo o mundo em decorrência do desenvolvimento desordenado das cidades, da poluição dos recursos hídricos, do crescimento populacional e industrial, entre outros. Esse fatores geram um aumento na demanda pela água, provocando o esgotamento desse recurso. Duas opções para evitar o gasto excessivo desse recurso tão valioso são a água de reúso e o aproveitamento de água da chuva. Mas você sabe qual a diferença entre eles?

Em muitas cidades ou locais em que não há disponibilidade de água, são necessárias soluções que lidem com o contexto, especificidade e características da área. Outro fator importante na questão hídrica é a disponibilidade desses recursos nas regiões do mundo e até no Brasil, pois mesmo que tenhamos 13,7% de toda a água doce superficial da Terra, 70% desse total está localizado na região amazônica e apenas 30% está distribuído pelo resto do país. Além disso, ao passo que há industrialização, também existe um grande potencial de contaminação, o que vai restringindo ainda mais as fontes de água doce. E cada vez mais as pessoas tentam utilizar novas técnicas para conseguir diminuir o gasto e consumo de água.

O reúso de água e o aproveitamento de água de chuva para fins não potáveis, no caso das áreas rurais podem ser soluções para lidar com a escassez. Com o tratamento correto, a água da chuva pode ser destinada a fins potáveis também. Saiba mais na matéria:

Como tratar água da chuva?

No entanto, existe uma diferença entre a água de reúso e o aproveitamento de água da chuva, pois cada tipo tem uma necessidade diferente de tratamento, manejo e depende da localidade (se rural ou urbana, casa ou apartamento). Vamos entender quais as diferenças entre esses tipos:

Águas residuárias

Também chamadas de águas residuais, são todas as águas descartadas que resultam da utilização de diversos processos. O artigo 2º da Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, classifica essas águas como: “esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações, indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não”. Já a Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) exemplifica que águas residuais domésticas são oriundas de banheiros, cozinhas, lavagens de pavimentos domésticos; enquanto águas residuais industriais são provenientes de processos industriais.

Água de reúso

No artigo já citado da CNRH, é considerada água de reúso aquela água residuária encontrada dentro dos padrões exigidos para sua utilização nas modalidades pretendidas, ou seja, o reúso de água consiste no reaproveitamento de determinada água que já serviu para o desenvolvimento de uma atividade humana. Este reaproveitamento ocorre a partir da transformação da água residuária gerada em alguma atividade em água de reúso. Esta transformação se dá mediante tratamento. Segundo bases científicas, a reutilização pode ser direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou não:

Reúso indireto não planejado da água

Ocorre quando a água, utilizada em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada à jusante (rio-abaixo), em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada.

Reúso indireto planejado da água

Ocorre quando os efluentes, depois de tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas à jusante, de maneira controlada, no atendimento de algum uso benéfico. Existe um controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros efluentes que também atendam ao requisito de qualidade do reúso pretendido.

Reúso direto planejado da água

Acontece quando os efluentes, depois de serem tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reúso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso com maior ocorrência, destinando-se a uso em indústria ou irrigação.

Reusar a água cinza produzida em residências também entra nessa categoria – água cinza é um tipo de água de reúso proveniente de banhos, máquinas de lavar roupa e lavatórios de banheiro – são aquelas águas que não entraram em contato com águas negras (as misturadas com fezes e urina). Essa água pode ser captada por meio de cisternas domésticas e reutilizada em descargas, limpezas de pisos ou do quintal e até para lavar o carro, dependendo do tipo de resíduo que a água cinza contenha. Saiba mais sobre a água cinza nas matérias: “Água cinza: como aproveitar a água de reúso” e “As cores dos efluentes: entenda as diferenças entre água cinza e água negra“.

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Água da chuva

A água da chuva é considerada muitas vezes como esgoto, já que o mais comum é que passe pelos telhados e pisos, indo direto para as bocas de lobo. A partir daí, já que age como um “solvente universal”, essa água carrega consigo todo tipo de impureza dissolvida ou apenas leva resíduos mecanicamente para um córrego e, posteriormente, para os rios – essa é a principal forma pela qual o lixo chega aos oceanos. Leia mais nas matérias: “90% do plástico dos oceanos vem de apenas 10 rios” e “Qual é a origem do plástico que polui os oceanos?

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Porém, se a captação da água da chuva for feita em áreas de acesso restrito antes desse caminho, ela pode ser aproveitada para fins não potáveis sem a necessidade de um tratamento mais complexo. Para isso, é recomendável que se descarte o primeiro 1 mm de água ou até 2 mm em áreas urbanizadas, pois estudos comprovaram que esse descarte inicial (first flush) carrega as impurezas suspensas no ar e no telhado, que podem conter fezes de animais e matéria orgânica.

Esses primeiros milímetros são decorrentes do cálculo do projeto, por exemplo, ao captar a água de um telhado, o seu tamanho e o quanto chove na região (que pode ser encontrado aqui). Esses serão fatores determinantes para o projeto do descarte inicial e do tamanho do tanque de armazenamento. Usualmente, adota-se 1 mm de chuva em 1 m² de telhado, o que equivale a 1 litro de água – ou seja, se o seu telhado for de 50 m², o primeiro 1 mm de chuva seria de 50 litros, volume que deve ser descartado inicialmente e conduzido ao sistema de drenagem pluvial. Jamais conecte o descarte dessa primeira água da chuva a sistemas de coleta de esgoto.

Contudo, o projetista de sistemas deve seguir a norma da ABNT NBR 15527 de 2007, que estabelece as diretrizes para os projetos quanto aos parâmetros da água, pois esse tipo de água não é considerado potável em seu estado original e pode trazer riscos ao ser ingerida e ao entrar em contato com mucosas, o que torna necessário uma dosagem de cloro no tanque. Mas, como falamos acima, é possível tratar a água da chuva em casa para beber, se essa for uma necessidade na sua região.

Aplicações da água

Segundo a Cetesb, é possível utilizar água de reúso em algumas situações:

  • Irrigação paisagística: parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de auto-estradas, campus universitários, cinturões verdes, gramados residenciais e telhados verdes;
  • Irrigação de campos para cultivos: plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos, plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais, proteção contra geadas;
  • Usos industriais: refrigeração, alimentação de caldeiras, água de processamento;
  • Recarga de aquíferos: recarga de aquíferos potáveis, controle de intrusão marinha, controle de recalques de subsolo;
  • Usos urbanos não-potáveis: irrigação paisagística, combate ao fogo, descarga de vasos sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas e pontos de ônibus, etc.;
  • Finalidades ambientais: aumento de vazão em cursos de água, aplicação em pântanos, terras alagadas, indústrias de pesca;
  • Usos diversos: aquicultura, construções, controle de poeira, dessedentação de animais.

Tenha o cuidado de observar quais os tipos de resíduos presentes na água que você quer reusar: se há restos de detergente, de produtos de limpeza, bactérias e secreções corporais, como suor e oleosidade da pele. A consciência ambiental e a valorização do nosso recurso hídrico é de suma importância e deve ser cada vez mais disseminada a ideia de aproveitamento da água da chuva e reúso da água doméstica. Mas lembre-se: existem no mercado profissionais capacitados para projetar e construir esses sistemas dentro dos parâmetros estabelecidos, então, em caso de dúvida, procure-os.

É necessário também ter cuidado na hora de armazenar essas águas para consumo posterior. O ideal é usar cisternas domésticas, que já vem equipadas com sistemas de captação e filtragem da água. Você também pode fazer sua própria cisterna residencial.

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Equipe eCycle

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