Em 1846, um paciente enfrentou o desconhecido ao optar por inalar éter antes de uma cirurgia, inaugurando assim a era da anestesia. Hoje, imaginar uma cirurgia sem anestesia é impensável. Contudo, mesmo após quase dois séculos, o mistério por trás do funcionamento dos anestésicos permanece intrigante.
A proposta inicial de utilizar anestesia não era nova em 1846, sendo apresentada 28 anos antes por Michael Faraday. Contudo, compreender como uma gama tão diversificada de produtos químicos, como éter dietílico, clorofórmio e até mesmo o gás nobre xénon, pode afetar animais e plantas de maneira semelhante continua sendo um enigma.
Surpreendentemente, além de animais e plantas, estudos revelam que todos os organismos do planeta podem ser anestesiados. Bactérias, cloroplastos e até as mitocôndrias dentro de nossas células não escapam dos efeitos desses gases misteriosos.
Recentemente, uma equipe internacional de cientistas questionou se as plantas poderiam ser a chave para desvendar o mistério da anestesia. Publicando seus resultados no Annals of Botany, eles descobriram que não apenas as plantas são suscetíveis aos efeitos da anestesia, mas também ampliaram a lista de plantas sensíveis.
Ao aplicar lidocaína, um anestésico local comum, nas raízes da planta sensível, os cientistas observaram uma paralisia ocorrendo aproximadamente cinco horas após a aplicação.
Duas teorias sobre como a anestesia funciona foram discutidas. A primeira sugere que os anestésicos se ligam a receptores específicos, desencadeando uma cascata química que leva à perda de movimento e consciência. A segunda teoria propõe que os anestésicos alteram a membrana celular, afetando a transmissão de sinais nervosos.
Experimentos com plantas, especialmente as raízes de Arabidopsis, apoiaram a hipótese da alteração da membrana. Os cientistas observaram que tanto o éter dietílico quanto a lidocaína afetavam a reciclagem de vesículas, sugerindo que a anestesia pode influenciar as membranas celulares.
Pesquisas adicionais apontam para a possível interferência da anestesia nas proteínas associadas às membranas celulares. Curiosamente, a aplicação de alta pressão reverte os efeitos da anestesia, revelando uma relação intrigante entre a pressão e as membranas celulares.
O debate sobre se os anestésicos atuam nos receptores ou nas membranas continua, mas as plantas emergem como uma oportunidade única para estudar tecidos vivos sob anestesia. Os cientistas acreditam que, ao compreender os mecanismos subjacentes à anestesia em plantas, podemos desvendar os mistérios tanto da anestesia quanto da consciência. Embora ninguém afirme que as plantas são conscientes, a pesquisa nos conduz a uma fascinante reflexão sobre a complexidade da vida vegetal.
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