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Análise genética e sabedoria ancestral desvendam hábitos de lagarto sagrado

Em meio às areias da Austrália Central, uma colaboração inédita entre pesquisadores e detentores de conhecimento tradicional Aṉangu busca salvar o Tjakuṟa, lagarto culturalmente sagrado e ameaçado por predadores e mudanças climáticas. O esforço combina técnicas genéticas modernas com práticas ancestrais para garantir a sobrevivência da espécie.

O legado cultural do Tjakuṟa
Para os Aṉangu, povos tradicionais da região, o Tjakuṟa (Liopholis kintorei) é mais que um animal: está enraizado no Tjukurpa, sistema de leis que orienta a relação entre humanos e natureza. Segundo Leroy Lester, guardião Aṉangu, a espécie integra narrativas ancestrais que orientam práticas de conservação. A manutenção dessas histórias fortalece a gestão territorial e a conexão espiritual com o deserto.

Técnicas inovadoras revelam hábitos alimentares
Pesquisadores utilizaram análise de DNA ambiental (eDNA) para estudar a dieta do lagarto sem perturbá-lo. Coletas de fezes, solo e ar permitiram identificar mais de 20 itens consumidos, como moscas-da-fruta, besouros, cupins e plantas como o tomate-do-mato. O método, não invasivo, respeita tanto o animal quanto os valores indígenas. “A dieta variada inclui invertebrados, vegetais e pequenos vertebrados, sem variações significativas entre estações ou idades”, explicou David Thuo, biólogo responsável pelo estudo publicado na Frontiers in Ecology and Evolution.

Genética desvenda adaptação histórica
Um exemplar de Tjakuṟa encontrado sem vida foi incorporado à Coleção Nacional de Vida Selvagem da Austrália, com consentimento Aṉangu. Sua análise genética comparada a amostras dos anos 1960 revelará como a espécie reagiu a transformações ambientais. Técnicas epigenéticas, descritas como “viagem no tempo genético”, permitem entender respostas adaptativas a mudanças climáticas. O sequenciamento do primeiro genoma mitocondrial completo da espécie (registrado no GenBank) amplia bases de dados para pesquisas futuras.

Monitoramento integrado
Os resultados orientarão estratégias de manejo do fogo — prática indígena essencial para equilibrar ecossistemas — e possíveis realocações do lagarto para aumentar diversidade genética. “O Tjakuṟa nos ensina a cuidar da terra. Sua presença aqui está ligada às histórias de criação”, reforçou Lester. Para Thuo, o projeto também cria metodologias aplicáveis a outros lagartos australianos, ampliando o impacto da conservação.

Ameaças persistentes
Classificado como vulnerável, o Tjakuṟa enfrenta riscos como predação por gatos e raposas, alterações no ciclo de incêndios e redução de habitat. O Plano de Ação para Espécies Ameaçadas 2022–2032 prioriza sua proteção, mas a sobrevivência depende da integração contínua entre ciência e sabedoria ancestral. Enquanto tecnologias avançadas mapeiam genes e dietas, os Aṉangu seguem como guias na localização de tocas e na interpretação de sinais ambientais, provando que a preservação exige mais que dados: demanda respeito à terra e às suas narrativas.


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