Pedro Luiz Côrtes comenta relatório da ONU, segundo o qual há uma disparidade entre as metas propostas para redução de emissões e as projeções de crescimento da produção de combustíveis fósseis
Por Jornal da USP – Relatório global da ONU mostra que há uma disparidade entre as metas propostas, por vários países, para redução de emissões e as projeções de crescimento da produção de combustíveis fósseis. O Brasil está entre os países citados no documento. O relatório indica que a produção e, consequentemente, o consumo desses combustíveis, planejados pelos governos para os próximos anos, permanecem altos e colocam em risco as metas e limites do Acordo de Paris, que impede o aumento da temperatura global em 1,5ºC.
“Há um descolamento da produção de combustíveis fósseis nos próximos anos”, contou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição o professor Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo. Segundo ele, por mais que haja uma substituição dos combustíveis fósseis dos mais poluentes para os menos, a tendência é que o consumo de combustíveis que geram gases de efeito estufa continue a crescer nos próximos anos.
Essa projeção coloca em dúvida a real efetividade das metas de redução de gases de efeito estufa, que os países irão definir durante a COP26. “A gente verifica que as metas de produção de combustíveis fósseis não são sequer aderentes às próprias metas apresentadas pelos diversos países individualmente, um discurso que não é condizente com a prática”, afirma Côrtes. Ele explica que esse crescimento indica como as medidas decididas no evento podem não ter efetividade mesmo diante de evidências das mudanças climáticas e dos efeitos que possuem atualmente sobre o planeta.
O Brasil é citado no relatório como um país que não possui medidas para a redução dos gases de efeito estufa ou por ter um discurso que indique a intenção de implementá-las. Medidas como a implementação de políticas de reflorestamento para compensar esse crescimento poderiam ser uma solução para o problema. Contudo, na realidade, há um aumento do desmatamento, o que agrava a situação e vai contra os compromissos relacionados ao tema.