Por Matheus Espíndola em UFMG | Reunindo 36 indicadores ambientais, socioeconômicos e epidemiológicos dos 772 municípios dos nove estados da Amazônia Legal Brasileira, referentes ao período de 2000 a 2017, a base de dados Trajetórias foi criada para viabilizar o estudo sobre a relação entre os sistemas agrários amazônicos e seus impactos nas mudanças ambientais e epidemiológicas, além de tornar mais integrada e consistente a compreensão dos cenários que afetam o bioma.
O documento foi publicado na revista Scientific Data por pesquisadores do Centro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose), do qual participa o biólogo Milton Barbosa da Silva Júnior, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre da UFMG, em que também fez estágio pós-doutoral, e PhD pela Universidade de Oxford.
A seleção, análise e equalização dos dados, que estão disponíveis de forma aberta e gratuita para consulta, levaram aproximadamente três anos. O levantamento cobriu área de 5 milhões de quilômetros quadrados — o que equivale a cerca de 60% do território brasileiro.
“Foi um trabalho gigantesco, que envolveu pesquisadores de várias áreas e diversas instituições, para que fosse possível selecionar as fontes e os dados relevantes, saber como tratá-los e harmonizá-los, e ainda promover diálogo entre as diferentes fontes”, informa Milton Barbosa.
De acordo com o pesquisador, a disponibilidade de “dados harmonizados e de várias dimensões” possibilita desenvolver estudos com abordagem mais integrada sobre a Amazônia. “Em vez de empreender um estudo epidemiológico usando apenas dados epidemiológicos, pode-se, por exemplo, relacionar questões econômicas e ambientais, integrando as variáveis, para obter resultados mais confiáveis”, argumenta.
Como enfatiza Barbosa, o banco de dados tende a ser alimentado ao longo dos anos. “No futuro, vamos conseguir estabelecer relações no tempo e tentar entender o caminho que os municípios da Amazônia estão tomando, assim como projetar as consequências epidemiológicas, econômicas e ambientais. Será possível, então, monitorar a prevalência de doenças e outros eventos na região, de forma integrada”, antevê.
O conceito de pobreza multidimensional diz respeito à privação simultânea sofrida em múltiplas dimensões. O índice é formado por parâmetros de saúde, educação e condições de vida (que inclui habitação, serviços coletivos, emprego e bens de consumo privados).
“Trata-se de uma tentativa de capturar o real estado da pobreza, não apenas aquela que pode ser mensurada pela renda. Se você se limitar ao fator renda, pode chegar a conclusões equivocadas, pois existem outros mecanismos que não incluem a moeda”, explica Milton Barbosa.
Como reforça o pesquisador, as mensurações convencionais de pobreza, na maioria das vezes, não contemplam integralmente a economia que existe em determinada região, e que representa e afeta as condições de vida da população. “Entender a pobreza por meio do índice multidimensional é considerar as privações, que são cumulativas. Se uma família acumula privações na educação e na habitação, por exemplo, o índice de pobreza é maior, pois as camadas se sobrepõem”, ilustra.
A base de dados é produto do projeto Trajetórias, um dos sete eixos do SinBiose, financiado pelo CNPq. O foco é gerar sínteses do conhecimento acerca das relações entre desenvolvimento econômico, uso do solo, epidemiologia e conservação na Amazônia.
A equipe reúne epidemiologistas, economistas, ecologistas, biólogos, geógrafos, médicos e cientistas sociais que desenvolveram indicadores multidisciplinares e coerentes para estudos integrados.
Os temas disponíveis para consulta na base Trajetórias são perda de habitat, uso e cobertura da terra, mobilidade humana, anomalias climáticas, carga de doenças transmitidas por vetores e índices de pobreza multidimensional para populações rurais e urbanas. Esses indicadores estão localizados em quatro marcos temporais: os censos demográficos de 2000 e 2010 e os censos agropecuários realizados em 2006 e 2017.
A plataforma conta ainda com informações obtidas por imagens de satélite e aquelas provenientes do Sistema Nacional de Notificação de Doenças. As fontes foram escolhidas devido ao fácil acesso, à abrangência temporal e espacial e alta qualidade dos dados.
Este texto foi originalmente publicado pela UFMG de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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