Estudos já identificaram a presença desses compostos no sangue humano, leite materno, água potável, solo e em diversas outras fontes ao redor do mundo
Um novo estudo revelou que embalagens de alimentos em todo o mundo contêm pelo menos 68 produtos químicos persistentes, que podem contaminar o que consumimos. Dentre eles, 61 sequer deveriam ser utilizados em produtos alimentícios. Esses materiais de embalagem podem incluir desde papel revestido até recipientes de plástico e folhas de alumínio.
“A origem desses compostos é muito difícil de explicar”, afirma Birgit Geueke, autora sênior do estudo e diretora científica da Food Packaging Forum Foundation, organização sem fins lucrativos sediada em Zurique. A preocupação é agravada pelo fato de que apenas 57% dos produtos químicos encontrados nas embalagens de alimentos possuem dados disponíveis sobre seus potenciais riscos à saúde.
Publicado na Environmental Science & Technology na terça-feira (19), o estudo focou em uma classe de produtos químicos conhecidos como substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas (PFAS). Utilizados em uma variedade de produtos de consumo, desde utensílios de cozinha até cosméticos e pesticidas, os PFAS são reconhecidos por sua capacidade de repelir água e gordura.
Apelidados por vezes de “produtos químicos eternos”, os PFAS persistem no ambiente e no corpo humano devido à sua resistência à degradação, fruto da forte ligação carbono-flúor. Estudos já identificaram a presença desses compostos no sangue humano, leite materno, água potável, solo e em diversas outras fontes ao redor do mundo. Em março de 2023, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA estabeleceu um padrão para seis compostos PFAS na água potável. A exposição a alguns desses compostos foi associada ao câncer, problemas reprodutivos e diminuição da eficácia de vacinas.
Os pesquisadores encontraram discrepâncias entre os produtos químicos detectados nas embalagens reais e os listados em bancos de dados compilados por agências reguladoras, como a Food and Drug Administration dos EUA. Enquanto cerca de 140 PFASs são autorizados para uso em embalagens de alimentos, apenas sete dos 68 produtos químicos encontrados no estudo estão nessa lista. A origem dos outros 61 compostos permanece incerta.
Alguns PFAS identificados no estudo são conhecidos por seus efeitos adversos à saúde. O ácido perfluorooctanóico (PFOA), por exemplo, foi proibido pela Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes em 2019, após estudos revelarem sua presença generalizada no sangue humano e seus efeitos negativos em testes com animais.
Em 28 de fevereiro, a FDA anunciou a proibição de embalagens de alimentos de papel e papelão revestidas com PFAS à prova de gordura nos EUA. Essa medida, segundo especialistas, é um passo importante, porém, ainda há materiais de embalagem contendo PFAS autorizados pela FDA em circulação. A Agência Europeia de Produtos Químicos da União Europeia está revisando propostas de restrições para PFAS em embalagens de alimentos e outras aplicações.
A indústria química defende o tratamento dos PFAS como produtos químicos individuais, argumentando que cada composto possui características e usos únicos. No entanto, muitos especialistas apoiam a regulação desses produtos como uma classe única, dado o grande número de PFAS existentes e a falta de dados sobre sua toxicidade.