Um estudo publicado hoje (30) comprovou que animais consomem mais álcool do que se pensava anteriormente. Segundo a descoberta publicada na revista “Trends in Ecology & Evolution”, o etanol faz parte da alimentação regular de animais que se alimentam a partir de frutas e néctar.
Estudos anteriores já haviam comprovado a presença de álcool na dieta de animais silvestres. No entanto, esse consumo era comumente relatado como “acidental” ou “raro”, o que foi desmentido pela pesquisa atual.
“Do ponto de vista ecológico, não é vantajoso estar embriagado enquanto você sobe em árvores ou está cercado por predadores à noite – essa é uma receita para não transmitir seus genes”, explica o ecologista molecular e autor sênior Matthew Carrigan.
De acordo com os pesquisadores, é normal de se esperar que o álcool esteja na alimentação de animais selvagens, uma vez que o etanol é abundante no mundo natural.
O etanol tornou-se abundante há cerca de 100 milhões de anos, quando as plantas com flores começaram a produzir néctar açucarado e frutos que leveduras poderiam fermentar. Agora, ele está presente naturalmente em quase todos os ecossistemas, com uma produção contínua durante todo o ano em algumas regiões.
Os animais já abrigavam genes que poderiam degradar o etanol antes que as leveduras começassem a produzi-lo, mas há evidências de que a evolução possa ter aperfeiçoado essa capacidade em mamíferos e aves que consomem frutas e néctar.
Diferentemente dos seres humanos, acredita-se que os animais não fazem uso do álcool por seus efeitos cognitivos. De fato, na maioria das vezes, as frutas fermentadas naturalmente atingem apenas 1–2% de álcool por volume, mas concentrações tão altas quanto 10,2% de álcool por volume já foram encontradas em frutos de palma maduros demais no Panamá.
E, embora não se saiba ao certo o motivo desse consumo, os especialistas apontam que o etanol pode oferecer diversos benefícios à fauna selvagem.
Em primeiro lugar, o etanol é uma fonte de calorias, e os compostos odoríferos produzidos durante a fermentação podem guiar os animais até às fontes de alimento, embora os investigadores afirmem que é improvável que os animais consigam detectar o próprio etanol.
O composto também pode ter benefícios medicinais: as moscas-das-frutas põem intencionalmente os seus ovos em substâncias que contêm etanol, que protege os seus ovos dos parasitas, e as larvas das moscas-das-frutas aumentam a sua ingestão de etanol quando são parasitadas por vespas.
“No lado cognitivo, foram apresentadas ideias de que o etanol pode desencadear o sistema de endorfina e dopamina, o que leva a sentimentos de relaxamento que podem trazer benefícios em termos de sociabilidade”, diz a ecologista comportamental e primeira autora Anna Bowland, da Universidade de Exeter.
“Para testar isso, precisaríamos realmente saber se o etanol está produzindo uma resposta fisiológica na natureza”, conclui.
Há muitas perguntas sem resposta sobre a importância do consumo de etanol para os animais selvagens. Portanto, a equipe planeja continuar o trabalho em pesquisas futuras, com planos para investigar as implicações comportamentais e sociais do consumo de etanol em primatas e examinar mais profundamente as enzimas envolvidas no metabolismo do álcool.
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