Entenda os impactos ambientais dos animais domésticos e como reduzir a pegada de carbono do seu pet
Imagem de Tatiana Rodriguez em Unsplash
Animais domésticos e seus impactos ambientais: você já parou para pensar sobre esse assunto? O professor Gregory Okin, da Universidade da Califórnia (EUA), não só pensou muito a respeito do tema como, em 2017, conduziu um estudo sobre ele, publicado na revista PLOS One.
O resultado? Okin concluiu concluiu que o consumo de carne por cães e gatos cria o equivalente a cerca de 64 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o que tem quase o mesmo impacto climático de dirigir 13,6 milhões de carros por um ano.
A pesquisa de Okin veio para confirmar a tese do livro Time to Eat the Dog? (2009), de Brenda e Robert Vale, que provocaram a indignação de tutores de animais de estimação do mundo todo por dizerem que a carne comida por um companheiro canino médio tinha o dobro da pegada de carbono de uma SUV com 10 mil quilômetros rodados.
Em seu estudo, Okin relata ter descoberto que cães e gatos são responsáveis por 25 a 30% do impacto do consumo de carne nos Estados Unidos. Se toda a população de 163 milhões de Totós e Belinhas dos cidadãos norte-americanos constituíssem um país separado, sua fofa nação ocuparia o quinto lugar no consumo global de carne, segundo os cálculos do professor – ficando atrás apenas da população humana da Rússia, do Brasil, dos Estados Unidos e da China.
E, é claro, tudo isso tem um resultado impossível de ser evitado: o cocô. Os animais de estimação dos EUA produzem cerca de 5,1 milhões de toneladas de fezes por ano. Se tudo isso fosse jogado no lixo, iria rivalizar com a produção total de lixo – produzido por humanos – de Massachusetts.
Em comparação com uma dieta baseada em vegetais, a carne requer mais energia, terra e água para ser produzida, além de ter maiores consequências ambientais em termos de erosão, pesticidas e resíduos, como observa Okin.
Estudos anteriores descobriram que a dieta americana produz o equivalente a 260 milhões de toneladas de dióxido de carbono da produção animal. Calculando e comparando a quantidade de carne que 163 milhões de gatos e cães comem em comparação com 321 milhões de americanos, Okin determinou quantas toneladas de gases do efeito estufa estão vinculadas à ração para animais de estimação.
Seus cálculos começam com informações publicamente disponíveis, como o número de cães e gatos no país e os ingredientes dos alimentos para animais de estimação líderes de mercado, produzindo estimativas que criam um ponto de partida para uma conversa.
Ele descobriu que os cães e gatos do país comem cerca de 19% das calorias de toda a população do país, o que corresponde ao total de calorias consumidas pela população da França em um ano. Como os alimentos para cães e gatos tendem a ter mais carne do que a dieta humana média, isso significa que cães e gatos consomem cerca de 25% do total de calorias derivadas de animais nos Estados Unidos.
Além disso, à medida que um número crescente de pessoas já considera os animais de estimação menos como animais e mais como membros da família, os mimos aumentaram e as opções de ração com carne de alta qualidade mantiveram o ritmo. Isso significa que os animais de estimação estão cada vez mais comendo cortes de carne adequados para humanos.
O contraponto
Kelly Swanson, professora de nutrição animal da Universidade de Illinois, contesta as descobertas desse estudo, dizendo que os cálculos foram baseados em “muitas suposições imprecisas”. Em entrevista à agência de notícias francesa Agence France-Presse (AFP), ela lembra que a maioria dos alimentos para animais de estimação é baseada em produtos secundários da indústria de alimentação humana, especialmente os ingredientes de origem animal. Portanto, os custos ambientais desses ingredientes não são os mesmos que os consumidos por humanos.
Para Sebastien Lefebvre, da escola veterinária VetAgro-Sup de Lyon, as emissões de carbono da alimentação animal convencional produzida em massa eram “insignificantes”. Ele diz que as emissões dos alimentos para animais só seriam uma preocupação “quando a humanidade parasse de desperdiçar alimentos (e se tornasse) completamente vegetariana”.
Mas todos os cientistas concordam em pelo menos um ponto: um cachorro grande, logicamente, come mais do que um gato pequeno e, portanto, tem um impacto ambiental maior.
Como reduzir a pegada de carbono do meu animal de estimação?
Então, o que os amantes de animais ambientalmente conscientes podem fazer para mitigar os danos causados por seus amigos peludos? Okin sugere considerar outras espécies de animais como animais de estimação, como hamsters ou pássaros. Outra solução para os pets e o planeta seria reduzir ou diversificar as proteínas de sua dieta.
Vários produtores de alimentos secos já usam insetos em sua ração, embora ainda haja debate sobre os méritos ambientais de vários alimentos de origem animal e sua produção.
Lefebvre lembra que “não é impossível, teoricamente” transformar seu cão de estimação em vegetariano, sob a supervisão de seu veterinário. Entretanto, gatos são essencialmente carnívoros – e há um impacto ambiental causado pelos felinos que passeiam ou vivem ar livre que não pode ser evitado. Por isso – e também para protegê-lo de eventuais perigos –, o ideal é manter o seu bichano dentro de casa.
Idealmente, as empresas de alimentos para animais de estimação começarão a lidar com o impacto que seus produtos estão tendo no meio ambiente. Eles precisarão conduzir pesquisas a fim de desenvolver produtos alternativos para donos de animais de estimação que tentam mudar seus animais para uma dieta parcial ou totalmente baseada em vegetais.
O foco deve ser encontrar uma maneira de oferecer ração vegetariana que ainda inclua as quantidades certas de vitamina D e aminoácidos para que cães possam seguir uma dieta saudável e eco-friendly.
Uma solução temporária para proprietários de gatos que procuram ser um pouco mais ecológicos é a comida de gato feita com carne livre de abate. A empresa Wild Earth, sediada na Califórnia, criou várias fórmulas feitas com plantas e fungos, bem como carne de rato sem abate ou cultivada em laboratório.
Até que a indústria de alimentos para animais de estimação atenda às demandas dos americanos por opções mais sustentáveis, os donos de animais de estimação podem seguir estas dicas para serem mais ecologicamente corretos:
Ajuste a dieta de seus animais de estimação com a orientação de um veterinário
Se você encontrou uma opção de ração mais sustentável que gostaria de experimentar, ótimo! Certifique-se de fazer isso sob a supervisão de seu veterinário. Você nunca sabe como seu cão ou gato reagirá a uma mudança na dieta, por isso é sempre melhor ser proativo.
Use coletores de cocô biodegradáveis e/ou eco-friendly
Se você estiver usando sacolas de plástico velhas de supermercado para limpar cocô de animais de estimação, considere mudar para sacolas biodegradáveis ou alternativas naturais (até folhas secas que você eventualmente encontrar no chão servem!).
Seja esperto com os cuidados posteriores com animais de estimação
Os cuidados posteriores com animais de estimação referem-se ao manuseio físico dos restos mortais de um animal de estimação após sua morte. Em vez de enterrar seu velho amigo no quintal, considere cremá-lo e guardar as cinzas em uma urna. Você ainda terá um símbolo para se lembrar dele, mas sem o impacto negativo que o enterro tem sobre o meio ambiente.
Nossos animais de estimação são como nossos filhos e sempre queremos fazer o que é melhor para eles. Mas, também precisamos cuidar de nosso planeta para criar um mundo que possa sustentar pessoas e animais de estimação por muitos anos.
Fontes: Phys.org, The Ecologist, AFP e PLOS One
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