Antenas Starlink usadas pelo garimpo ilegal aceleram savanização da Amazônia

As antenas produzidas pela Starlink, empresa de comunicação via satélite de Elon Musk, estão cada vez mais presentes nos garimpos ilegais na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Essas antenas facilitam a atividade do crime organizado e dificultam as operações de repressão aos crimes ambientais. De acordo com uma reportagem divulgada hoje (4) pela Agência Pública, desde março, o governo federal apreendeu um total de 50 antenas em poder dos garimpeiros, destacando a necessidade urgente de ações coordenadas contra a invasão deste território.

A centralização das operações contra o garimpo ilegal começou com a instalação da Casa de Governo em Boa Vista. Desde então, as apreensões de antenas Starlink aumentaram, com o Ibama relatando a captura de 32 antenas em garimpos ilegais de janeiro de 2023 a março de 2024, sendo nove na Terra Yanomami. A presença dessas antenas torna a comunicação entre os garimpeiros e suas bases mais eficiente, permitindo que recebam informações sobre operações do governo em andamento.

O diretor da Casa de Governo, Nilton Luís Godoy Tubino, destacou a importância da colaboração da Starlink em compartilhar dados de localização das antenas para mapear a presença dos garimpos ilegais. Apesar de as antenas Starlink serem leves e fáceis de transportar, sua geolocalização poderia facilitar as ações de combate ao garimpo, especialmente durante operações noturnas, quando muitos garimpos passam a operar para evitar a fiscalização.

Além das questões imediatas do garimpo, há uma preocupação crescente com a savanização da Amazônia, um processo que pode ser irreversível. A savanização ocorre quando a floresta amazônica se transforma em uma savana, incapaz de sustentar a biodiversidade e os serviços ecológicos vitais que fornece. As maiores áreas de garimpo em Terras Indígenas estão em territórios Kayapó, Munduruku e Yanomami, somando quase 10 mil hectares invadidos pela mineração.

O aumento do preço do ouro e a redução da fiscalização durante o governo Bolsonaro impulsionaram a expansão da fronteira garimpeira. A área ocupada pelo garimpo cresceu 495% em Terras Indígenas e 301% em unidades de conservação no Brasil entre 2010 e 2020, de acordo com a rede de pesquisadores MapBiomas. Esse crescimento desenfreado é uma ameaça direta à integridade da floresta amazônica.

Para combater a savanização e proteger as Terras Indígenas, é essencial uma abordagem integrada que envolva a destruição de pistas clandestinas, a intensificação da fiscalização da compra e venda de combustíveis e a colaboração com empresas de tecnologia como a Starlink. A antropóloga Flora Dutra, da startup Nave Global, sugere a criação de um sistema de controle que permita identificar todas as antenas autorizadas pela comunidade indígena a operar dentro de uma terra indígena. Esse sistema ajudaria a distinguir entre as antenas legais e ilegais, facilitando a fiscalização.

A situação nas Terras Indígenas Yanomami exemplifica a complexa interação entre a tecnologia moderna e as práticas ilegais de exploração de recursos naturais. A colaboração entre o governo, empresas de tecnologia e comunidades indígenas é crucial para mitigar os impactos do garimpo ilegal e evitar a savanização da Amazônia. A luta contra o garimpo não é apenas uma questão de ordem pública, mas uma batalha pela sobrevivência de um dos ecossistemas mais importantes do planeta.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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