Em sua terceira edição, o Anuário da Reciclagem 2021 externa os números de uma dura realidade vivida pelas organizações de catadores, que foi ainda mais desafiadora durante a pandemia da Covid-19, devido ao distanciamento social, interrupção de diversas atividades econômicas e fechamento de galpões de reciclagem. Por outro lado, o Anuário comprova a importância do trabalho dos catadores para a cadeia da reciclagem, seja pela quantidade estimada de materiais recuperados em doze meses, quase 1 milhão de toneladas, seja pela projeção de faturamento com a comercialização destes materiais, quase R$ 800 milhões. O levantamento foi realizado pela Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT) e pelo Instituto Pragma.
Construído a partir de uma pesquisa realizada durante todo o ano de 2020 e compilada em 2021, o documento apresenta dados importantes como o quantitativo de organizações de catadores no país, a renda média de seus associados, o volume e os tipos de materiais recicláveis recuperados, o faturamento anual das organizações, entre outros, que estão divididos e detalhados por regiões, estados e cidades.
O Anuário da Reciclagem foi constituído a partir de informações públicas de programas governamentais, com informações disponibilizadas por organizações de catadores e por dados de programas, projetos e outras iniciativas de logística reversa de embalagens em geral.
Do universo total de organizações de catadores cadastradas no Banco de Dados do Anuário da Reciclagem (1.850), 35% responderam a pesquisa realizada, ou seja, 651 organizações, distribuídas por todos os estados da Federação e o Distrito Federal. Esta representativa amostra demonstra a solidez dos dados apresentados e a importância deste do documento para o planejamento da gestão de resíduos no país.
É importante destacar que a diferença da distribuição de associações e cooperativas entre as unidades federativas e municípios pode ser consequência de diversas características, sendo as principais: volume populacional, nível de urbanização e nível de atividade econômica.
Dentre as 651 organizações de catadores que responderam a pesquisa, a região Sudeste concentra 266 associações ou cooperativas (41%), enquanto a região Sul apresenta 185 (28%). A região Nordeste apresenta 103 (16%), o Centro-Oeste 60 (9%) e a Norte 37 (6%) associações.
Estado mais populoso do Brasil, São Paulo é a unidade da Federação que concentra mais cooperativas e associações de materiais recicláveis (139), dentre as 651 que responderam a pesquisa. O segundo estado com mais organizações de catadores é o Paraná, com 97 associações e cooperativas (14,90%), seguido do estado de Minas Gerais, com 78 (11,98%). Importante destacar que São Paulo e Paraná são os únicos estados em que as organizações de catadores de materiais recicláveis estão distribuídas por todo o seu território, não se concentrando apenas em áreas próximas da capital. Logo, as associações conseguem abranger praticamente todo o estado.
Os estados com o menor número de associações e cooperativas de catadores estão nas regiões Norte e Nordeste: Acre, Amapá, Roraima e Piauí. Todos estes possuem apenas uma associação, representando, em conjunto, apenas 0,6% do total de organizações pesquisadas.
Dentre as 651 organizações analisadas no Anuário da Reciclagem 2021, 358 delas informaram o número de associados. Esse universo totaliza 9.754 catadoras e catadores espalhados por todo o Brasil.
A região Sudeste é a mais representativa, concentrando 3.682 destes trabalhadores, e a região Norte tem o menor número registrado de catadores, totalizando 743. Considerando cada unidade da Federação, São Paulo lidera o ranking em relação ao número de trabalhadores contabilizados, com 2.254 catadores, enquanto o Piauí apresentou o menor número, ficando em último colocado, com apenas 10 trabalhadores.
Essa realidade, no que se refere à distribuição das catadoras e catadores, pode ser explicada em função de alguns fatores, como o maior número de políticas públicas, o incentivo do estado aos empreendimentos e trabalhadores e a concentração da
indústria, que absorve e transforma os materiais oriundos da reciclagem, em maior número, em algumas regiões.
Quanto ao número de catadoras e catadores, os dados apontam uma média de 37 catadores por organização, tendo o Centro-Oeste a maior média por organização (50), seguido pelo Norte (48), Sul (41), Sudeste (29) e, por último, a região Nordeste (27).
No contexto da reciclagem, há uma participação majoritariamente feminina em quatro das cinco regiões do país. A média, no Brasil, a partir dos dados de 358 organizações que responderam a essa questão, é de 54% (5.287) de mulheres e 46% (4.467) de homens.
A região Sudeste apresenta um percentual maior de mulheres em relação ao de homens, 2.088 (mulheres) e 1.594 (homens). Por outro lado, a região Nordeste apresenta um contingente ligeiramente maior do público masculino nas atividades das organizações de catadores, 734 (homens) e 685 (mulheres).
Das 651 organizações de catadores que responderam a pesquisa, 641 reportaram a quantidade de resíduos sólidos coletados e destinados para reciclagem, no entanto, apenas 485 disponibilizaram dados mensais, enquanto 156 informaram dados anuais. Essas cooperativas e associações alcançaram, em 2020, o total de 326,7 mil toneladas de materiais recicláveis comercializados, uma média de 895 toneladas por dia.
A distribuição da quantidade comercializada, informada por 485 organizações, por região, segue, de maneira geral, a distribuição proporcional das organizações pelo Brasil, tendo a região Sudeste o maior número, 46 mil toneladas, o que representa 44% do total nacional destinado para a reciclagem. Ela é seguida pela região Sul, com 39 mil toneladas de resíduos comercializados (36%), e pelas regiões Centro
Oeste, com 8 mil (8%), Nordeste, com 7 mil (6%) e Norte, com 6 mil toneladas (5%).
De acordo com os dados coletados, em média, cada organização de catadores coletou e vendeu 510 toneladas de resíduos sólidos no ano de 2020. A região Centro Oeste se destaca com a maior média coletada e vendida: 677 toneladas. É importante destacar que os números da região Centro-Oeste são afetados diretamente pelos resultados do Distrito Federal. Entre os exemplos, estão as 15 mil toneladas comercializadas no DF no ano de 2020, sendo que o total da região Centro-Oeste é de 39,2 mil toneladas. Este resultado da capital do país é afetado diretamente pela estrutura disponibilizada pelo governo local às organizações de catadores e a
contratação destas para prestação de serviços de coleta e triagem de resíduos. Já a região Nordeste foi a que apresentou a menor média, com 251 toneladas por organização.
Aplicado ao total de organizações presentes no banco de dados do Anuário, e considerando as médias de materiais recuperados pelas organizações que responderam a pesquisa, temos a estimativa de que, em 2020, as 1.850 organizações cadastradas destinaram mais de 943 mil toneladas de materiais para a reciclagem.
Em ordem, os resíduos sólidos mais recuperados pelas organizações de catadores no Brasil são: papel (52%), plástico (22%), vidro (17%), outros metais (8%) e alumínio (1%).
A região Nordeste é a que mais comercializa papel e outros metais reciclados, 67% e 10%, respectivamente; enquanto a Norte é a que mais comercializa plástico e alumínio 24%; e o Sul é a que mais comercializa vidro (24%).
Quanto à proporção do faturamento por material vendido, a comercialização de plásticos possui a maior participação do Brasil, equivalente a 44%, e o papel representa 42%. Pela ótica do valor, o vidro é o material com a menor representatividade, alcançando 3% do total.
Já a média nacional dos preços, por quilo, dos materiais reciclados são: papel R$ 0,40/kg; plástico R$ 1,04/kg; vidro R$ 0,15/kg; outros metais R$ 3,04/kg e alumínio R$ 3,87/kg.
A região que mais valoriza o papel, plástico e alumínio é a Sudeste, R$ 0,46/kg, R$ 1,16/kg e R$ 4,16/kg, respectivamente; a região Nordeste é a que mais valoriza o vidro (R$ 0,24/kg); e outros metais são mais valorizados no Sul (R$ 3,57/kg).
Em relação ao faturamento, das 651 organizações de catadores pesquisadas, 375 reportaram seus dados. Estas cooperativas e associações de catadores obtiveram um faturamento de R$ 159 milhões com a venda dos materiais para reciclagem. A participação regional desse faturamento segue, de maneira geral, a distribuição da quantidade comercializada, com proeminência para a região Sudeste (41,7%), seguida da região Sul (25,8%), Centro-Oeste (12,8%), Nordeste (12,2%) e, por último, a região Norte (7,5%).
Na média nacional, o faturamento por organização foi de R$ 424 mil no ano, tendo a Centro-Oeste na liderança, com (R$ 495 mil); seguida pela região Sul (R$ 461 mil); Sudeste (R$ 436 mil); Norte (R$ 455 mil) e Nordeste (R$ 289 mil).
Por unidade federativa, o nível de faturamento apresenta características parecidas com os dados de quantidades comercializadas. O estado de São Paulo possui o maior faturamento dentre os demais, com R$ 37,6 milhões, acompanhado de Minas Gerais, com R$ 18,5 milhões, e do Rio Grande do Sul, com R$ 16,7 milhões.
Aplicando ao total de organizações presentes no banco de dados do Anuário, e considerando as médias de faturamento das organizações que responderam a pesquisa, temos a estimativa de que, em 2020, as 1.850 organizações cadastradas faturaram R$ 784,5 milhões com a venda dos materiais para a reciclagem.
Por fim, a renda média mensal por catador pertencente a alguma das organizações pesquisadas é de R$ 1.098,00. A região Sul lidera com renda média de R$ 1.256,00 por catador; seguida pelo Sudeste, com R$ 1.111,00; Centro-Oeste, com R$ 1.091,00; Norte, com R$ 975,00 e Nordeste, com R$ 973.
Entre as principais razões para a implementação e ampliação de programas de coleta seletiva de resíduos sólidos e de fomento às organizações de catadores, está a mitigação da emissão de gases do efeito estufa. A redução de emissões de CO2 equivalente (CO2e), decorrente da reciclagem de materiais, ocorre tanto de forma direta quanto de forma indireta.
Empregando uma metodologia robusta, amplamente aceita pela literatura e que baseia a geração das RCEs (Reduções Certificadas de Emissões), desenvolvida pela United Nation Climate Change (UNFCCC) para calcular emissões de projetos de recuperação e reciclagem de materiais de resíduos sólidos (Recovery and Recycling of Material from Solid Waste – AMS-III.AJ), foi possível estimar o CO2 que deixou de ser emitido em razão do volume de resíduos recuperados.
Desta forma, a recuperação das 326,7 mil toneladas de materiais pelas organizações pesquisadas está associada ao potencial de redução de emissões de 153,7 mil toneladas de CO2e. Esse potencial decorre, principalmente, da diminuição da produção de materiais virgens equivalentes à quantidade coletada – 86% do potencial de redução de CO2e total decorre da recuperação de plástico, metal e vidro, enquanto os 13% restantes resultam da redução do descarte de resíduos em locais como aterros e lixões e, consequentemente, do metano emitido durante a decomposição anaeróbica dos materiais, com a recuperação de papéis.
O material que mais colabora para o potencial de redução de emissões é o plástico (51% das emissões mitigadas totais), em decorrência da quantidade coletada. O segundo material mais relevante são os resíduos metálicos, especialmente em função do alto nível energético envolvido na produção da matéria-prima virgem. Os metais, dessa forma, contribuem com 36% do potencial de redução de emissões de gases de efeito estufa.
O público pode acessar a pesquisa no site da ANCAT www.ancat.org.br ou no site da Pragma, www.pragma.eco.br
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