Ao abordar o tema de maneira ficcional, Ana Lia Almeida, autora da obra “Travessia”, traz uma reflexão sobre os desafios e contradições dessa experiência
Por Ana Beatriz Fogaça, do Jornal da USP.
Não é de hoje que a maternidade é um dos principais desafios na vida da mulher. A escolha de ser mãe e a idealização da maternidade são temas que permeiam o gênero feminino, mas a experiência de gerar, parir e criar uma criança é contraditória, complexa e cheia de culpa ao longo do caminho. Para falar sobre os desafios da maternidade, neste episódio da série Mulheres e Justiça, a professora Fabiana Severi conversa com Ana Lia Almeida, doutora em Ciências Jurídicas e professora de Teoria do Direito na Universidade Federal da Paraíba. Ana Lia é autora da obra Travessia, que conecta literatura, gênero e direito, em especial o tema maternidade.
Ana Lia, mãe, professora e escritora, no livro Travessia, sua obra mais recente, aborda de maneira ficcional os desafios e contradições de uma mulher que descobre uma gravidez indesejada e que passa a ter de lidar com as inseguranças, medos e expectativas dessa experiência.
Ao fazer um paralelo com a realidade, a escritora traz uma reflexão sobre todas as falas do senso comum sobre essa etapa na vida da mulher, “aproveita para descansar que sua vida vai terminar; quando o filho pari, nunca mais barriga enchi, esse tipo de coisa que acentua a experiência de ansiedade que a mulher está ultrapassando”, exemplifica a escritora.
Tema pouco explorado
Falar sobre a maternidade em sua real complexidade é um tema pouco explorado pela literatura, acredita Ana Lia, e, apesar de não ser um relato da sua experiência como mãe, a escritora traz suas vivências de forma implícita e abre o diálogo sobre temas como violência obstétrica e a autonomia sobre o próprio corpo, e possibilita que outras mulheres se identifiquem e se reconheçam em uma experiência real da maternidade.
Além da carreira como escritora e professora, Ana Lia trabalha na assistência jurídica popular e acredita que falar sobre o tema da maternidade, assim como em sua função de assistente jurídica, é uma experiência dialógica de troca. “Poder ajudar, ainda que no campo da reflexão e do reconhecimento através da literatura, é uma função importante”, acrescenta a escritora.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.