Apesar de imenso potencial renovável, Brasil deve passar a usar mais fontes poluentes de energia, segundo relatório

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A análise afirma que mais de 70% dos investimentos em energia previstos no país devem se dar com base em fontes poluentes 

O Brasil deve aumentar a participação de fontes poluentes na matriz energética nos próximos anos, segundo análise feita pelo World Resources Institue (WRI). A organização internacional de pesquisa sobre sustentabilidade divulgou, no dia 21 de setembro, o relatório Oportunidades e Desafios para Aumentar Sinergias entre as Políticas Climáticas e Energéticas no Brasil.

Segundo o documento, mais de 70% dos investimentos previstos para o setor de energia no país entre 2013 e 2022 devem ser feitos em fontes com altas emissões de gases de efeito estufa. “Em contraste com muitas das maiores economias emergentes, a matriz energética do Brasil está se tornando mais intensiva em carbono, não menos, por causa do aumento da dependência de combustíveis fósseis”, diz o texto. Ao todo, está estimada a alocação de US$ 500 bilhões no período.

Ao longo dos anos, o Brasil conseguiu reduzir o desmatamento, diminuindo o impacto da mudança do uso da terra nas emissões de carbono. De 2005 a 2011, a poluição gerada dessa maneira caiu 74%, de acordo com os dados do Ministério da Ciência e Tecnologia citados no relatório. Por outro lado, as emissões do setor de energia cresceram 24% no mesmo período, após terem registrado aumento de 44% na década anterior (de 1995 a 2005). A análise foi feita a partir das informações divulgadas pelo Ministério de Minas e Energia e pela Empresa de Pesquisa Energética. Assinam o relatório o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, Oswaldo Lucon, a coordenadora de projetos de clima no WRI Brasil, Viviane Romeiro, e a diretora do Open Climate Network, Taryn Fransen.

Para reverter a tendência, os pesquisadores ressaltam a importância de aumentar a eficiência e buscar alternativas menos poluentes para o setor de transportes. “À exceção de algumas cidades, o Brasil tem oferecido poucos incentivos até agora para fazer mudanças em direção a modos de transporte mais eficientes, incluindo o transporte sobre trilhos e o BRT (Bus Rapid Transit). Uma série de reformas nos níveis federal, estadual e municipal poderia ajudar a acelerar essa mudança”, destaca o texto.

Integrar e otimizar o transporte público pode, de acordo com o estudo, além de trazer benefícios na mitigação das mudanças climáticas, melhorar a qualidade de vida nas cidades. “Os benefícios de investir em transporte de massa de passageiros nos maiores centros urbanos incluem a redução da poluição do ar e melhora do trânsito”, destaca o documento. Entre as medidas nesse sentido é apontado o incentivo a transporte por trilhos, para reduzir o uso de carros em longas distâncias. Os pesquisadores também defendem que o governo federal, por meio do Ministério das Cidades, fomente a criação de planos locais de mobilidade, que prevejam ações para restringir o uso dos carros.

O investimento em geração de energia por meio de fontes limpas, como solar e eólica, é outro ponto abordado pelo relatório. De acordo com o documento, há grande espaço para expansão nessa área, inclusive na questão do desenvolvimento tecnológico. “Existem oportunidades significativas inexploradas pelo Brasil nesse campo: a alta incidência de raios solares, os custos declinantes e uma forte interação entre o setor de energia fotovoltaica [solar] e as indústrias de componentes eletrônicos, em relação ao valor agregado da cadeia”.

O Brasil está tentando costurar um acordo global para a 21ª Conferência do Clima (COP21), que será realizada em dezembro próximo, em Paris. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o principal objetivo é garantir um compromisso entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, reduzindo o aquecimento global e limitando o aumento da temperatura em 2ºC até 2100.



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