Entenda os perigos associados ao aromatizador de ambiente sintético e saiba como se prevenir
Você provavelmente já buscou algum produto com o propósito de perfumar o ambiente interno da sua casa ou, pelo menos, já deve ter sentido um cheirinho agradável de fragrâncias ao entrar em alguma loja. São os famosos aromatizadores de ambiente.
Esses produtos buscam criar um clima mais agradável em locais internos, seja exalando uma mistura perfumada no recinto ou disfarçando algum problema de qualidade do ar existente (geralmente no banheiro). O aromatizador de ambiente pode ser encontrado em diferentes versões, incluindo aerossol, gel, óleo, líquido e até como vela perfumada, e pode ser do tipo com liberação instantânea, intermitente ou contínua.
Graças aos efeitos conhecidos, os aromatizadores são muito utilizados em diversos locais, tais como escritórios, carros, casas, banheiros, hotéis e até em hospitais. Mas, apesar de sua popularidade, o uso desses purificadores de ar pode emitir compostos poluentes e perigosos, e assim desencadear efeitos adversos para a saúde humana e para a qualidade do ar.
Compostos emitidos pelo aromatizador de ambiente
Estudos realizados pela Universidade da Califórnia constataram que o aromatizador de ambiente sintético emite mais de 100 compostos químicos diferentes, sendo muitos deles tóxicos. Os mais perigosos dessa lista são os compostos orgânicos voláteis, como o benzeno e o formaldeído, conhecidos como VOCs (na sigla em inglês) e que podem causar desde dores de cabeça até danos ao fígado e ao sistema nervoso central. Leia mais sobre os VOCs na matéria: “VOCs: saiba o que são compostos orgânicos voláteis, seus riscos e como evitar“.
O aromatizador de ambientes sintético também libera alguns compostos orgânicos semi-voláteis, como os ftalatos, que são associados ao surgimento de câncer de mama, desregulação hormonal e diminuição da fertilidade masculina. Saiba mais sobre esses compostos em: “Ftalatos: o que são, quais seus riscos e como se prevenir“.
Essas emissões também podem acabar reagindo com oxidantes no ambiente, como o ozônio (O3) e os radicais de nitrato (NO3), gerando uma série de produtos de oxidação. Por exemplo: as emissões primárias, como os terpenos, podem reagir rapidamente com o ozônio e gerar poluentes secundários, como formaldeído e acetaldeído, radicais livres, e partículas ultrafinas – leia mais a respeito de poluentes primários e secundários em “Conheça os poluentes atmosféricos e seus efeitos“. Assim, esses produtos aromatizadores podem contribuir para a exposição humana a poluentes atmosféricos variados e complexos.
Após diversos estudos sobre aromatizadores de ambiente, foi obtido um resultado revelador que deve transformar a maneira como utilizamos e nos relacionamos com esses produtos. Entre os vários tipos de aromatizador de ambiente observados, como de spray, sólidos, líquidos e óleos, as análises e resultados indicaram que praticamente todos esses tipos têm o potencial de emitir altas concentrações de compostos orgânicos voláteis, inclusive os produtos considerados como orgânicos e naturais (como alguns óleos essenciais).
Óleos essenciais também podem conter parabenos como conversantes (conheça mais sobre os parabenos aqui), e compostos como o nonilfenol etoxilado, que age como um emulsificante com o objetivo de homogeneizar as misturas aromáticas.
Dessa forma foi comprovado que os ingredientes contidos nas misturas de fragrâncias são provavelmente mais influentes para as emissões de poluentes do que o tipo de mecanismo de dispersão escolhido (sejam eles aerossóis ou óleos essenciais, por exemplo).
Riscos à saúde humana
A exposição ao aromatizador de ambientes, ainda que em baixos níveis, está associada a diversos sintomas e efeitos nocivos para a saúde humana. Dentre eles, destacam-se dificuldades respiratórias, enxaqueca, ataques de asma, sintomas mucosos, dermatites, diarreia e dor de ouvido infantil, problemas neurológicos, problemas cognitivos e problemas cardiovasculares.
Estudos anteriores também revelaram que se as pessoas expostas a esses produtos forem asmáticas, as chances delas desenvolverem outros sintomas em decorrência do contato com um aromatizador de ambiente, como enxaquecas e dificuldades respiratórias, são ainda maiores.
Além disso, compostos químicos específicos presentes na composição e emitidos pelos purificadores de ar (como o acetaldeído, ftalatos e partículas ultrafinas), foram relacionados a casos de câncer e a efeitos adversos nos sistemas neurológico, cardiovascular, respiratório, reprodutivo, imune e endócrino humano.
Por exemplo: o acetaldeído pode ser disposto no ambiente por meio da emissão tanto primária quanto secundária desses produtos. Esse composto está ligado a graves riscos ao sistema respiratório e, de acordo com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), é classificado como um contaminante potencialmente cancerígeno.
Outro exemplo é o nonilfenol etoxilado. Esse composto também pode estar presente no aromatizador de ambiente e é reconhecido mundialmente como um potencial disruptor endócrino.
Uma vez que estudos epidemiológicos e de toxicidade revelam ligações entre as emissões do aromatizador de ambiente e impactos adversos sobre a saúde, se torna necessário realizar pesquisas mais detalhadas para entender como e por que ingredientes individuais, misturas de ingredientes ou produtos de reação secundários podem ser associados a tais efeitos.
Além disso, também é preciso realizar estudos para melhor compreender as consequências de exposições de baixo nível particularmente para populações vulneráveis e sensíveis, como asmáticos e crianças.
É obrigatória a divulgação de todos os ingredientes?
A divulgação dos produtos químicos contidos no aromatizador de ambientes não é legalmente obrigatória e, sendo assim, na maioria das vezes esses componentes não são especificados pelos fabricantes. Nenhuma lei nos EUA, na União Europeia ou no Brasil requer a divulgação de todos os ingredientes contidos nos purificadores de ar. E, também não existe nenhuma lei que obrigue a especificação de todos os componentes presentes na ‘fragrância’ de um produto, sendo que a fragrância normalmente é a mistura de uma grande quantidade de compostos químicos.
Com bases em estudos que analisaram emissões de ftalatos e de compostos orgânicos voláteis (VOCs) de purificadores de ambientes, incluindo aqueles comercializados como ‘totalmente naturais’ e ‘orgânicos’, nenhum dos produtos testados listaram os ftalatos em seus rótulos. Também foi constatado que apenas uma pequena quantidade dos VOCs emitidos estavam divulgados na etiqueta do produto ou no relatório de segurança do material.
Os ingredientes listados nesses produtos parecem querer passar uma informação geral ou neutra, e são usados componentes como “fragrâncias”, “óleos essenciais”, “água”, “perfume orgânico” ou “ingredientes de controle de qualidade” para classificá-los.
Os produtos ‘naturais’ e ‘sintéticos’ diferem nas emissões?
Testes comparando as emissões entre diferentes tipos de purificador de ambientes, desde sprays aerossóis até aqueles com reivindicações mais naturais de ‘óleos essenciais’, ‘orgânicos’ ou ‘não tóxicos’, revelaram que todos os produtos testados emitiram compostos potencialmente perigosos. Assim, as emissões de poluentes do ar potencialmente cancerígenos e perigosos por meio de aromatizadores ‘mais naturais’ não foram tão diferentes, em tipos ou concentrações, das marcas sintéticas regulares.
Ainda que algumas essências aromáticas sejam consideradas naturais, o aromatizador de ambiente industrializado pode conter uma variedade de outros ingredientes em sua base, como solventes petroquímicos ou emulsificantes, e estes por sua vez não são reconhecidos como naturais. Além disso, fragrâncias aparentemente naturais, como óleos essenciais, podem emitir e gerar poluentes perigosos, como o formaldeído e os aerossóis orgânicos secundários ultrafinos, trazendo potenciais riscos para a saúde.
A questão da exposição involuntária
As pessoas estão expostas a aromatizadores de ambiente através do uso voluntário, como em casas particulares, e também pelo uso involuntário, como em locais públicos. Nesse contexto, a exposição involuntária é uma preocupação especial porque indivíduos podem experimentar efeitos adversos sem um acordo prévio ou consciência a respeito.
Além dos riscos para a saúde, essa exposição involuntária também pode impossibilitar o acesso de pessoas mais vulneráveis a alguns locais da sociedade e ambientes de trabalho.
Indivíduos com quadros de asma ou crianças podem experimentar efeitos nocivos e muitas vezes imediatos quando em contato com aromatizadores de ambiente, restringindo seu acesso a lugares públicos que utilizam esses produtos.
Alternativas
O uso de um aromatizador de ambientes pode criar ou exacerbar um problema de qualidade do ar ao adicionar uma mistura química no recinto, já que a fragrância de um produto não se destina a limpar o ar e nem a reduzir os poluentes nele existentes.
Portanto, reduzir ou eliminar as fontes desses elementos químicos é o caminho mais fácil e direto para diminuir os níveis de poluentes em locais fechados e os riscos de exposição humana aos compostos nocivos emitidos pela maioria dos aromatizadores de ambiente.
Assim, se um ambiente interno possuir odores indesejados, remover a fonte desse mau cheiro ou aumentar a ventilação do cômodo (abrir janelas ou utilizar um exaustor) são formas de se evitar o uso de produtos nocivos à saúde e que acabam mascarando o problema ao invés de efetivamente solucioná-lo.
Mas se você gosta da sensação agradável de aromas e fragrâncias em sua casa, o Portal eCycle tem algumas alternativas realmente naturais e sustentáveis para perfumar seus ambientes . Confira a matéria: “Faça você mesmo: aromatizadores naturais“. Também ensinamos algumas receitas caseiras para você preparar a sua própria essência aromática com produtos mais naturais e confiáveis: “Saiba como fazer sua própria essência aromática“.
E caso você esteja experimentando problemas de odores indesejados em sua casa, também ensinamos uma receita natural de um desodorizador de ar caseiro: “Faça você mesmo: desodorizador de ar”.