Artigo discute mudanças ambientais e seus impactos na saúde humana

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Texto publicado na revista “Estudos Avançados” discute o tema a partir da análise crítica da concepção teórica do termo “saúde planetária”

No artigo “Saúde e sustentabilidade”, publicado na edição 99, v. 34, da revista Estudos Avançados, José Eli da Veiga, professor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, investiga a relação proposta, mas nem sempre respeitada entre saúde, ser humano e os “ecossistemas naturais”, elaborando uma análise crítica a respeito da mais recente concepção teórica sobre “saúde planetária”.

Por “saúde planetária” entende-se um campo emergente de pesquisa que busca compreender, quantificar e agir para reverter os efeitos do crescimento da população humana e da aceleração das atividades socioeconômicas sobre o ambiente que, ao gerar perturbações dos ecossistemas naturais, impactam a saúde e o bem-estar humanos.

No artigo, há um novo enfoque para o tema “meio ambiente e desenvolvimento”, “uma dimensão que parece não ter merecido a devida atenção: o protagonismo das ciências biomédicas nessa evolução”, preocupação precursora do microbiologista francês René Dubos, autor do “esquecido relatório” Only One Earth, já na década de 1940. O relatório foi inspiração para a realização da Conferência de Estocolmo (1972), seguida pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio-92 ou Eco-92.

Veiga explica que Saúde Pública “costuma ser definida como o conjunto de medidas executadas pelo Estado para garantir o bem-estar físico, mental e social da população”. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990, por sua vez, declarou a Saúde Ambiental como um novo campo da Saúde Pública, em 1990, enfatizando a análise e limitações dos fatores ambientais influenciadores na saúde humana, sem se levar em conta os setores social e cultural. Também é citada no artigo a posição da chamada One Health, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a OMS, a Unicef e o Banco Mundial, visando ao estímulo da relação de interdependência entre seres humanos, animais e meio ambiente, “com o propósito de compreender a dinâmica das doenças”.

Veiga analisa algumas concepções atuais incongruentes sobre “saúde planetária”, termo inicialmente definido pelo relatório Salvaguardar a saúde humana no Antropoceno, de 2015, como o alcance do padrão máximo de saúde, bem-estar e equidade, que vai depender da política, do sistema social e econômico de cada país. Nesse sentido, Veiga concorda com o significado costumeiro de “desenvolvimento sustentável”, mas aponta que o relatório não mostra uma verdade: “é a prosperidade (ou o ‘florescimento’) que tem comprometido a saúde dos ecossistemas (ou da biosfera)”. Para o autor, falar em Saúde Planetária é não esquecer que não sabemos como será o futuro do planeta, apesar dos avanços da engenharia genética e da Inteligência Artificial, que “estão na lista das muitas ameaças à persistência dos humanos”.

Segundo o pesquisador, se para as ameaças de perigos como guerra nuclear, redução da camada de ozônio, aquecimento global e a erosão da biodiversidade foram ativadas muitas soluções, em relação ao desenvolvimento sustentável nada foi aventado com real determinação. O autor finaliza dizendo que o termo Saúde Global é mais adequado à situação atual do mundo do que Saúde Planetária: “será bom explicitar que o marqueteiro slogan ‘Saúde Planetária’ se refere ao que seria – em termos científicos – a saúde da biosfera”, quando o que se quer é mesmo um desenvolvimento sustentável, conclui.



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