Um estudo recente das universidades de Toronto, no Canadá, e Kyushu, no Japão, revelou que o aumento da formação de neurônios e a consequente reorganização dos circuitos neurais no hipocampo, tanto por meio da prática de atividade física quanto por manipulação genética, ajudam a esquecer memórias traumáticas e associadas ao uso de drogas. Publicadas na revista Molecular Psychiatry, essas descobertas podem oferecer novas abordagens para o tratamento de problemas de saúde mental, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e a dependência de drogas.
O TEPT é uma condição de saúde mental que pode ser desencadeada por eventos traumáticos, como desastres naturais, acidentes graves ou ataques violentos. Globalmente, cerca de 3,9% da população sofre de TEPT, manifestando sintomas como flashbacks vívidos. Embora atualmente tratado com terapias e medicamentos como antidepressivos, muitas pessoas não respondem adequadamente, o que motiva a busca por tratamentos alternativos.
Neste estudo, a professora assistente Risako Fujikawa, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Kyushu, em colaboração com o professor Paul Frankland, da Universidade de Toronto, e sua equipe, investigaram como a neurogênese – a formação de novos neurônios – no hipocampo afeta a capacidade de esquecer memórias de medo. O hipocampo, importante na formação de memórias ligadas a contextos específicos, produz novos neurônios diariamente.
A neurogênese não só contribui para a formação de novas memórias, mas também para o esquecimento de memórias antigas. À medida que novos neurônios se integram nos circuitos neurais, novas conexões são formadas e antigas se perdem, dificultando a lembrança de memórias passadas.
Os pesquisadores submeteram ratos a dois choques em ambientes distintos, induzindo comportamentos semelhantes aos do TEPT. Mais de um mês depois, os ratos ainda demonstravam medo, evitando ambientes associados aos choques e exibindo sinais de ansiedade. No entanto, quando tiveram acesso a uma roda de corrida, esses ratos apresentaram um aumento na formação de novos neurônios e redução dos comportamentos similares ao TEPT.
A equipe também utilizou abordagens genéticas para avaliar exclusivamente o impacto da neurogênese no hipocampo. Técnicas como optogenética e manipulação genética mostraram que, ao acelerar a maturação e integração de novos neurônios, os ratos conseguiam esquecer mais rapidamente as memórias traumáticas, embora o efeito não fosse tão forte quanto o observado com o exercício.
Além disso, os pesquisadores exploraram se o aumento da neurogênese poderia ajudar em outros transtornos mentais, como a dependência de drogas. Ratos expostos a ambientes associados ao uso de cocaína mostraram menos preferência por esses locais após intervenções que aumentaram a neurogênese, sugerindo que esqueceram a ligação entre o ambiente e a droga.
Fujikawa planeja investigar medicamentos que possam promover a neurogênese ou a remodelação do hipocampo, visando novos tratamentos para TEPT e dependência de drogas. No entanto, enfatiza a importância do exercício, destacando seus amplos efeitos fisiológicos e sua eficácia comprovada em reduzir sintomas de TEPT e dependência tanto em estudos com ratos quanto em humanos.
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