Por Agência Brasil – A elevação da temperatura global aumentou a exposição de populações vulneráveis a ondas de calor extremo em todas as regiões do mundo no ano passado. A informação consta de estudo sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde feito por especialistas de 27 instituições internacionais, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e divulgado na revista médica “The Lancet”, em Londres.
De acordo com a publicação, o número de pessoas consideradas vulneráveis que foram submetidas a uma onda de calor aumentou em 157 milhões na comparação com 2000 e em 18 milhões comparado a 2016.
As regiões com maior risco são a Europa e o Leste do Mediterrâneo, que tem mais de 40% da população acima de 65 anos, faixa etária mais vulnerável. Já as populações da América do Sul e parte da Ásia estão mais expostas a enchentes e secas.
São consideradas populações vulneráveis, segundo o estudo, os idosos, principalmente em áreas urbanas; os profissionais que trabalham expostos na agricultura, na área de construção e trabalhadores manuais. Também apresentam maior vulnerabilidade às variações climáticas pessoas que tem condições médicas pré-existentes, como doenças neurológicas, cardiovasculares, pulmonares, renais e diabetes.
Os pesquisadores mostram que um dos efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde é o chamado estresse por calor. Os médicos explicam que o corpo humano precisa manter uma temperatura média de 37º para funcionar normalmente. Quando expostos ao calor extremo, os mecanismos de defesa do corpo se alteram, com a dilatação das veias para aumentar o fluxo de sangue e o aumento do suor para equilibrar a temperatura, causando estresse nas funções de alguns órgãos.
A publicação já identificou que 2018 tem sido um ano ainda mais quente em muitas partes do mundo e que a mortalidade por exposição a calor extremo já é uma realidade. A poluição do ar por carvão, por exemplo, é atribuída pelo estudo como causa de 16% das mortes em todo o mundo.
Ainda segundo a pesquisa, o calor agrava a poluição do ar e 97% das cidades em países de baixa e média renda não atendem às diretrizes de qualidade do ar da OMS. O relatório destaca também que o aumento da temperatura fora de época aumenta a propagação da cólera e da dengue em áreas endêmicas.
Outro fator do aquecimento global que afeta na questão da saúde é o risco de insegurança alimentar para os mais pobres, uma vez que os indicadores apontam uma tendência de redução no rendimento das colheitas em todas as regiões do mundo.
A pesquisa revela ainda, pela primeira vez, que o calor extremo tem impacto na capacidade laboral. Em 2017, as altas temperaturas resultaram na perda de 153 bilhões de horas de trabalho em 2017.
Segundo o relatório, a China perdeu 21 bilhões de horas, o equivalente a um ano de trabalho para 1,4% de sua população ativa. A Índia perdeu 75 bilhões de horas, o que representa 7% de sua população total de trabalhadores.
Os autores sugerem o fortalecimento de regulamentos trabalhistas para proteger os trabalhadores, além da melhoria nas condições de hospitais e sistemas de saúde e aumento dos esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Os especialistas alertam que os gastos para adaptação aos efeitos do aquecimento global para a saúde ainda são inadequados, da ordem de 11,68 bilhões de libras, o que representa apenas 4,8% de tudo o que é investido no mundo em ações de adaptação para mudanças climáticas.
A pesquisa faz parte do projeto “Lancet Countdown: acompanhando o progresso em saúde e mudanças climáticas“, que foi lançado em 2015 depois que a revista The Lancet concluiu que as mudanças climáticas são a maior ameaça à saúde pública no século 21. A revista médica também projeta que os efeitos do aquecimento global podem anular os avanças na saúde conquistados nos últimos 50 anos.
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