A deficiência de vitamina C, embora rara em países ocidentais industrializados, está voltando, apontam pesquisas
O escorbuto, causado pela deficiência de vitamina C, pode estar ressurgindo em meio à crise do custo de vida e ao aumento das cirurgias para perda de peso, sugerem médicos na revista BMJ Case Reports. O relatório foi divulgado após internação hospitalar de um australiano de 51 anos que apresentou um caso agudo da doença.
Inicialmente, o homem foi ao hospital com uma erupção cutânea dolorosa nas pernas que, depois, se espalhou por todo o corpo. Além disso, foi observado que ele tinha sangue na urina e estava anêmico.
O paciente testou negativo para doenças inflamatórias, autoimunes e sanguíneas, e os exames não revelaram nenhuma evidência de hemorragia interna. Da mesma forma, uma biópsia de pele não retornou nenhuma pista diagnóstica.
Foi apenas quando o homem foi questionado sobre sua dieta que ficou evidente para os profissionais que os sintomas estavam alinhados com o escorbuto — uma doença que matou milhões de marinheiros entre os séculos XVI e XVIII e que é rara em países ocidentais industrializados.
“Um histórico mais aprofundado revelou que as circunstâncias de vida do paciente eram precárias. Ele tinha restrições financeiras e por isso negligenciava a alimentação. Suas refeições eram compostas principalmente por alimentos processados, com falta de vegetais ou frutas. Às vezes ele pulava refeições, o que ocorreu com mais frequência nas últimas semanas”, observaram os pesquisadores médicos.
“Ele também havia parado de tomar os suplementos vitamínicos e minerais prescritos após uma cirurgia de redução do estômago, pois não tinha condições de pagá-los. Suspeitou-se, portanto, de uma deficiência nutricional subjacente”, completaram.
Eventualmente, o paciente se recuperou após seguir o plano médico diário da ingestão de suplementos de vitamina C, vitamina D3, ácido fólico e outros suplementos multivitamínicos. Porém, o escorbuto pode ser fatal se não for tratado — o que salienta a importância da pesquisa sobre o possível retorno da condição.
Em geral, o escorbuto nunca desapareceu de fato, com populações em risco de pessoas com problemas de alcoolismo ou distúrbios alimentares, pacientes de cirurgia bariátrica e idosos. No entanto, investigadores estão preocupados com o fato desta “doença renascentista” estar a começar a ter um alcance muito mais amplo.
De fato, uma outra pesquisa de 2024 identificou um aumento de casos de escorbuto infantil entre 2016 e 2020. Além disso, descobriu-se que as pessoas em maior risco tinham outras condições de saúde, incluindo obesidade e perturbações do espectro do autismo, bem como as de um baixo estatuto socioeconômico.
Felizmente, o escorbuto pode ser facilmente combatido e, com o tratamento correto, os sintomas podem ser aliviados em apenas 24 horas.
“O tratamento para o escorbuto é a suplementação de vitamina C. Em crianças, a recomendação é de 100 mg de ácido ascórbico três vezes ao dia durante uma semana e depois uma vez ao dia durante várias semanas até que estejam totalmente recuperadas. Os adultos são tratados com 300-1.000 mg por dia durante um mês”, disseram os pesquisadores do primeiro estudo.
“Os médicos devem estar cientes desta condição fatal, mas facilmente curável, que ainda pode ocorrer na era moderna”, concluíram.