Aumento do uso do ar-condicionado trará desafios sem precedentes

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Por Coppe/UFRJ e Victor França em Conexão UFRJ Em meio ao aquecimento global, o aumento do uso de aparelhos de ar-condicionado trará desafios sem precedentes à já difícil tarefa de descarbonizar a economia e reduzir emissões de gases de efeito estufa. Essa é a conclusão de um artigo publicado no início deste mês na Nature Communications. O estudo tem a participação dos professores André Lucena, Paula Borges da Silveira Bezerra, Roberto Schaeffer e Talita Borges Cruz, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ).

O estudo, coordenado por Enrica De Cian – professora da Universidade de Veneza (Itália) e cientista do Centro Euro-Mediterrânico de Mudanças Climáticas –, faz uma primeira análise comparativa sobre como o clima e as características familiares, incluindo renda, impulsionam a adoção de aparelhos de ar-condicionado em quatro países emergentes: Brasil, Índia, Indonésia e México. A pesquisa analisa, ainda, as causas da crise de resfriamento do ambiente, com a avaliação de suas consequências para o ano de 2040.

Círculo vicioso

De acordo com o artigo, financiado pela Agência Executiva do Conselho Europeu de Investigação, a compra de aparelhos de ar-condicionado aumentará nos países analisados nos próximos 20 anos, levando mais da metade das famílias a terem esses eletrodomésticos: 85% no Brasil, 61% na Indonésia e 69% na Índia. Isso provocará o aumento no consumo de eletricidade, que triplicará na Índia e Indonésia, e quase dobrará no Brasil e México. Além disso, a demanda por grandes quantidades extras de energia necessárias para alimentar todos esses novos aparelhos resultará em emissões adicionais de gás carbônico, gerando um círculo vicioso.

Quanto mais urbanizada, mais penalizada a região

A pesquisa revela que, até 2040, entre 64 e 100 milhões de famílias, nos quatro países, não serão capazes de atender às suas necessidades de refrigeração-ambiente, encontrando-se em situação de potencial desconforto térmico. Isso será particularmente marcante em locais com altos níveis de urbanização, climas quentes e úmidos e vulnerabilidade socioeconômica.

“Aumentar o uso de eletricidade para resfriamento de ambientes residenciais é uma forma de adaptação que ajuda as pessoas a aliviar o estresse causado pelo calor, mas não é uma panaceia, uma vez que gastos com eletricidade limitarão as oportunidades entre as famílias de renda mais baixa. Mesmo aquelas que contam com aparelhos de ar-condicionado em suas residências estarão expostas a uma nova condição de vulnerabilidade relacionada à escassez de fornecimento no setor de energia, como a recente experiência canadense, ou degradação da qualidade de suprimento de energia.Dessa forma, é imperativo administrar o crescente apetite por refrigeração de espaços residenciais usando uma combinação de medidas de eficiência, políticas e tecnologias”, ressalta Schaeffer.

O que é levado em conta

Ainda segundo a pesquisa, nas economias emergentes, a decisão de comprar um ar-condicionado em resposta ao clima mais quente está ancorada em características socioeconômicas e demográficas. Além da renda familiar, outros elementos influenciam a tomada de decisão: condições de moradia, educação, emprego, gênero, idade do chefe da família e a localização do domicílio (áreas urbanas ou rurais).

Como exemplo disso, a Indonésia e a Índia têm o maior número de dias quentes e úmidos dentre os países analisados. Entretanto, seus estados mais ensolarados apresentam percentuais relativamente baixos de uso de ar-condicionado, porque a urbanização e o acesso à eletricidade são importantes para compra desses aparelhos. Na Indonésia, raramente as famílias possuem  ar-condicionado, exceto nos distritos mais ricos de Jacarta e nas Ilhas Riau.

No Brasil, o estado do Rio de Janeiro apresenta taxas relativamente altas de refrigeração-ambiente, apesar de ter menos dias quentes e úmidos, em comparação com os estados da região norte, onde a urbanização é mais baixa.

Pesquisa com parcerias internacionais

Além dos cientistas da UFRJ, participaram da pesquisa: Filippo Pavanello, da Universidade de Bolonha (Itália), Marinella Davide, da Universidade Harvard (Estados Unidos); Malcolm Mistry, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (Reino Unido); Dattakiran Jagu, do Centro Euro-Mediterrânico de Mudanças Climáticas; e Sebastian Renner, do Instituto Alemão de Estudos Globais e de Área (Giga, na sigla em inglês).

Equipe eCycle

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