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A recuperação florestal de áreas importantes no processo de preservação; o investimento no saneamento rural; o apoio às hortas urbanas e à produção orgânica, com assistência ao produtor; o suporte para que escolas públicas protagonizassem um processo de transformação socioambiental na região da Bacia do Rio das Velhas. Demandas que nasceram da comunidade local e se tornaram pilares de uma ação coletiva amparada pelo Bacias & Florestas.

Por Dani Klein em WFF Brasil “Não é o suficiente parar de destruir, não é o suficiente a gente querer compensar. Empresas, governos e sociedade precisam se juntar com maior coragem, para trazer uma regeneração da natureza, e isso, na prática, quer dizer uma regeneração dos direitos sociais”, assim Gabriela Yamaguchi, diretora de Sociedade Engajada do WWF-Brasil, resume um dos principais objetivos gerais do projeto Bacias & Florestas, realizado pela ONG, com o patrocínio da AMBEV, na região de Sete Lagoas (MG), em área que compreende a Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. 

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O Rio das Velhas é essencial para o abastecimento de água da região metropolitana de Belo Horizonte e dos demais municípios da Bacia, é o maior afluente em extensão da Bacia do Rio São Francisco, com 761 Km, englobando 51 municípios que somam 4.885.442 habitantes (IBGE, 2000) e concentram 62% do PIB do estado de Minas Gerais. Apesar de tamanha importância, a poluição já preocupa há décadas, a ponto da região se tornar área de atuação do Projeto Manuelzão, criado em 1997, por alunos da Faculdade de Medicina da UFMG, com foco em melhorias nas condições ambientais para promover qualidade de vida. 

Desde então, o envolvimento com a sociedade civil foi orgânico e primordial, e essa mobilização foi atraindo, gradativamente, a participação de representantes do poder público e dos usuários de água.  Quem acompanhou de perto essa história foi a professora de educação profissional na Escola Técnica Municipal de Sete Lagoas, Marley Beatriz de Assis Lima. Ela explica que a cidade é a “princesinha do sertão”, localizada em um ecótono, região entre os biomas de mata atlântica e cerrado, com lagoas patrimoniadas, várias Áreas de Proteção Ambiental (APAs), e a Serra da Santa Helena, que é sensível. Todavia, concentra também muitas atividades industriais impactantes.  

“A gente já vinha de uma consciência formada pelos debates no coletivo Manuelzão. Em 2006, com esse amadurecimento, criamos o subcomitê da Bacia do Jequitibá e entramos no guarda-chuva do CBH Rio das Velhas. Isso deu mais força para ações sistematizadas e iniciamos uma mobilização, buscando ouvir as comunidades para, a partir daí, participar dos editais e conseguir recursos para os projetos. O Bacias & Florestas começa em 2015, com a entrada da AMBEV no subcomitê, como usuário de água, e a contratação do WWF para executar o projeto no território, coroando nosso esforço”, relata Marley, que representa a Escola Técnica no subcomitê. 

De acordo com a professora, as primeiras ações foram entender, coletar dados, depois elencar tecnologias, ações e intervenções que poderiam ser realizadas, e fazer a articulação de parceiros, onde a entrada do Selo Social foi estratégica.  Assim, o processo de identificação de demandas foi feito com muita objetividade, de forma totalmente participativa e colaborativa, e apontou grandes questões como deficiência no saneamento rural, necessidade de fortalecimento das hortas urbanas, recuperação de áreas degradadas e um trabalho direto nas escolas, apoiando projetos ambientais dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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Com o levantamento e os recursos do Bacias & Florestas, fossas TEVAPs e biodigestores foram instalados em lugares prioritários. As hortas urbanas receberam apoio e estrutura como sistemas de irrigação e composteiras e os produtores, capacitação. Aconteceram ações, entre 2018 e 2021, para a restauração ambiental da Serrinha (Prudente de Morais), Sítio Chapéu do Sol, Voçoroca APA dos Machados,  Embrapa Milho e Sorgo e Gruta Rei do Mato (Sete Lagoas). As atividades levaram a mais de 45 hectares (ha) em restaurações florestais, plantio de mais de  2.500 mudas nativas, cercamento e proteção de nascentes e construção de cochinhos e barraginhas para coleta e aumento da disponibilidade de água nas nas nascentes e lençol freático. Um grupo de 13 escolas públicas recebeu assessoria técnica e material para montarem seus projetos, por meio do Escolas Transformadoras.

“O WWF-Brasil ouviu e ainda tem ouvido muito a gente para encontrar soluções exequíveis. Não chegam com soluções prontas, coletam dados, entendem o contexto. Eles conseguiram trabalhar de forma coletiva e deixar o projeto com a cara do território.  A AMBEV, que nos trouxe o WWF, tem contribuído bastante, desde que entrou como usuário de água. Isso é uma característica desse subcomitê, todas as empresas que estão conosco, representando usuários de água, são muito atuantes”, declara Marley. 

coordenadora de Meio Ambiente & Energia na Cervejaria AMBEV, Mariana Appel, lembra que a empresa possui uma grande operação de produção de bebidas na região e que cuidar da água é uma missão que envolve a sustentabilidade do próprio negócio e o fortalecimento das relações com os atores da comunidade local. “A nossa parceria com o WWF já vem de longa data, são mais de 11 anos em prol da conservação e preservação das bacias hidrográficas. Através dela, a gente busca deixar um legado: conectar pessoas, ciência e governos em prol de um objetivo maior e do fortalecimento das comunidades locais. O Bacias & Florestas é uma etapa de maturidade da AMBEV na conservação dos ecossistemas”.

“Não existe nenhuma solução que não envolva olhar com muita coragem e emoção à importância de trabalhar juntos para trazer mais justiça social, não existe agenda ambiental corporativa, o que existe é olhar coletivo, ainda mais com os desafios da crise climática. O Bacias & Florestas é um exemplo do que a gente acredita que é colaboração de todos os atores e escuta forte dos movimentos, dos governos e comunidade local.  É só assim, quando a gente junta saberes, que a gente consegue desenvolver projetos corporativos com maior impacto social”, conclui Gabriela Yamaguchi.


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