A bactéria que come plástico, conhecida como Ideonella sakaiensis, pode ser uma alternativa à reciclagem de resíduos difíceis de tratar. Ela é capaz de degradar os plásticos do tipo poli (tereftalato de etileno), conhecidos como PET, muito presentes nas garrafas de refrigerante.
O tempo de decomposição do plástico é incerto, mas já se sabe que ele dura tempo suficiente para causar impactos significativos ao meio ambiente e ao ser humano. Nesse cenário, uma bactéria como a Ideonella – que demonstrou ser capaz de decompor 60 mg de plástico em seis semanas através da sua digestão – pode ser uma aliada da gestão dos resíduos sólidos das cidades.
O mecanismo pelo qual ela atua sobre os materiais PET é basicamente o da digestão. A bactéria que come este tipo de plástico utiliza duas enzimas para isso, a petase e a metase. Ela foi descoberta em 2016 por cientistas japoneses que a encontraram no meio de resíduos plásticos misturados com lama, água e sedimentos do solo. O grupo que a descobriu, chamado Kohei Oda, pertence ao Instituto de Tecnologia de Kyoto, no Japão.
Anualmente, são produzidas milhões de toneladas de garrafas PET e outros tipos de lixo plástico, incluindo roupas. As bactérias capazes de degradar plásticos representam uma alternativa promissora para a gestão dos resíduos sólidos em larga escala, podendo contribuir na redução dos problemas causados por esse acúmulo de plástico desde sua criação.
A reciclagem convencional é pouco praticada e consome muita energia, fazendo com que grande parte desse lixo acabe em aterros sanitários. Nesse contexto, microrganismos, como a Ideonella, podem ser usados como uma solução promissora para a degradação de plásticos em centros de reciclagem, embora não possam ser encarados como uma solução milagrosa para o problema da poluição.
A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias que promovam a biodegradação do plástico por bactérias têm um papel fundamental na busca por soluções sustentáveis. Contudo, é crucial que essas inovações sejam combinadas com uma mudança de mentalidade em relação ao consumo e ao descarte de plástico, envolvendo governos, empresas e a sociedade como um todo.
A gestão do resíduo plástico não se reduz à sua reciclagem ou biodegradação. O plástico deve ser pensado antes mesmo da instalação de suas fábricas; deve ser formatado em designs eficientes e com menor impacto, como as tampinhas de shampoo que não se desprendem, compondo uma única embalagem. Além disso, é importante reduzir o uso desse material, ou preferir alternativas de pano, papelão e outros materiais eco-friendly.
Desde a descoberta da bactéria que come plástico, em conjunto com as enzimas capazes de quebrar o plástico, pessoas se perguntam quando o problema plástico vai acabar de vez. Como se a Ideonella sakaiensis, descoberta em 2016, fosse a principal arma nessa luta.
Porém, existem coisas a serem consideradas.
O plástico, infelizmente, nem sempre é o mesmo e, até plásticos biodegradáveis precisam de condições específicas para se degradar. Muitas enzimas ou bactérias funcionam apenas para um tipo específico de plástico, e grande parte do lixo humano combina vários tipos de plástico.
A maioria dos esforços de reciclagem de plástico concentra-se no PET, o plástico utilizado nas garrafas plásticas. De fato, o PET representa cerca de 20% dos resíduos plásticos globais. É quimicamente mais fácil de decompor do que o polietileno ou polipropileno, tipos usados em filmes plásticos e embalagens de alimentos.
Além disso, algumas soluções, como a Ideonella sakaiensis, e outras bactérias podem apenas funcionar sob condições específicas — em determinadas temperaturas, em ambientes especiais ou após longos períodos de tempo. Quanto mais difíceis as especificações, menos provável é que a solução seja utilizada em grande escala.
Isto também significa que é improvável que as bactérias resolvam o problema da poluição plástica já existente na natureza.
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