A baleia é um animal pertencente à ordem Cetacea. Esse grupo abrange mamíferos como baleias, botos e golfinhos. Os cetáceos encontram-se subdivididos em três subordens de acordo com suas características: Archaeoceti, Odontoceti e Mysticeti.
As baleias apresentam adaptações à vida aquática. Dentre elas, pode-se citar o corpo hidrodinâmico, membros anteriores modificados em nadadeiras e perda dos pelos do corpo, características que reduzem o atrito com a água e facilitam o deslocamento. Além disso, os cetáceos não possuem membros posteriores e possuem uma nadadeira caudal bem desenvolvida. As baleias têm ainda nadadeira dorsal, que auxilia no equilíbrio.
O corpo dos cetáceos apresenta uma rica camada de gordura, que tem a função de proteger contra o frio e funcionar como reserva de energia. Existem espécies que possuem cerca de um terço do peso total em gordura. Os cetáceos possuem respiração pulmonar, assim como outros mamíferos, necessitando retirar oxigênio da atmosfera. Dessa maneira, os cetáceos necessitam chegar até a superfície para respirarem.
Outra característica curiosa sobre os cetáceos é o sistema de ecolocalização bem desenvolvido.
As baleias sofrem diversas ameaças, como as capturas incidentais da pesca fantasma ou intencionais, as atividades de prospecção e exploração de óleo e gás, o tráfego de embarcações, a poluição química e a degradação ambiental, com consequente perda de habitat, as mudanças climáticas globais e a sobrepesca das espécies-chave para a sua sobrevivência.
A baleia-azul é a maior das espécies de cetáceos, medindo de 25 a 30 metros, sendo as fêmeas maiores e mais pesadas que os machos. O comprimento e peso máximos já registrados para a espécie referem-se, respectivamente, a duas fêmeas: uma de 33,6 m, capturada nas Ilhas Geórgias do Sul, e outra com 190 toneladas, proveniente da Antártica.
Além do tamanho, as principais características diagnósticas da espécie são a coloração do corpo azul-acinzentada com manchas claras, a cabeça com a forma de “U” em vista dorsal, medindo cerca de um quarto do tamanho do corpo, a nadadeira dorsal pequena, localizada no último terço do corpo, e o borrifo produzido durante a expiração, podendo atingir 10 metros de altura.
Ela ocorre em todos os oceanos do planeta. No período de alimentação (verão e início do outono), migram para águas polares ou subpolares e no período reprodutivo (inverno e primavera) migram para áreas tropicais ou subtropicais. Entretanto, a localização precisa das áreas reprodutivas da espécie no Hemisfério Sul ainda é desconhecida. Atualmente, são reconhecidas três formas geográficas ou subespécies: uma no Hemisfério Norte, Balaenoptera musculus musculus; e duas no Hemisfério Sul, a baleia-azul-pigméia, B. m. brevicauda, distribuída nas zonas subantárticas do Oceano Índico e Pacífico Sul Ocidental, e a baleia-azul-antártica, B. m. intermedia, distribuída em regiões antárticas.
Em função do reduzido tamanho populacional e de seus hábitos oceânicos, são raros os registros da espécie no Brasil. Historicamente, há registros de dois animais capturados comercialmente na Paraíba, em 1948 e 1965, e um exemplar no Rio de Janeiro, em 1962. Nas últimas décadas nenhuma avistagem confirmada da espécie foi relatada para águas brasileiras. Contudo, em 29 de abril de 1992, uma fêmea de 23 metros de comprimento, com características das duas subespécies do Hemisfério Sul, encalhou no Rio Grande do Sul.
No passado, devido ao seu tamanho, a baleia-azul proporcionava um alto rendimento à atividade comercial baleeira. A pressão da caça foi intensa sobre essa espécie e, como consequência, a baleia-azul quase foi extinta na década de 60, quando passou a ser protegida pela CIB. Mesmo após a proibição internacional de sua caça, em 1965 a espécie continuou a ser capturada ilegalmente pelos soviéticos até 1972. Acredita-se que mais de 360 mil baleias-azuis tenham sido caçadas no Hemisfério Sul entre 1904 e 1979, especialmente na Antártica.
Outras ameaças potenciais à sobrevivência da espécie incluem as capturas incidentais em equipamentos de pesca (redes de deriva, espinhel), colisões com embarcações e degradação do hábitat, incluindo a poluição química e sonora, e a sobrepesca de sua principal presa, o krill, em áreas antárticas e subantárticas. Estima-se que, atualmente (dados de 2011), a população remanescente seja de apenas 0,7% de seu tamanho original. Contudo, há evidências de que, embora de forma lenta, algumas populações estão de fato se recuperando.
A baleia-fin apresenta uma distribuição cosmopolita, sendo reconhecidas atualmente duas formas geográficas ou subespécies: uma no Hemisfério Norte, Balaenoptera physalus physalus, e uma no Hemisfério Sul, Balaenoptera physalus quoyi. Os indivíduos do Hemisfério Sul são maiores, com machos e fêmeas atingindo o comprimento de 25 e 26 m, respectivamente. A principal característica da espécie é o padrão de pigmentação assimétrico na região da cabeça: no lado direito, a mandíbula inferior, a cavidade da boca e algumas cerdas bucais são cinza-claras e brancas, enquanto o lado esquerdo é uniformemente cinza-escuro.
A espécie tem hábitos oceânicos, apresentando um padrão sazonal de migração latitudinal entre as áreas de alimentação nas proximidades das regiões polares, onde ocorre durante o verão, e as áreas de reprodução (baixas e médias latitudes), onde aparece durante o inverno. No Oceano Atlântico Sul Ocidental, entretanto, as principais áreas de concentração invernal da espécie são ainda desconhecidas. No Brasil, a espécie tem sido registrada do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul.
Juntamente com a baleia-azul, a baleia-fin foi uma das espécies mais capturadas comercialmente em todo o mundo. As capturas mundiais de baleia-fin alcançaram os maiores números entre 1935 e 1970, quando cerca de 30 mil indivíduos foram caçados em alguns anos. Estes altos níveis de captura levaram diversas populações ao colapso em todo o planeta. A baleia-fin foi também uma das espécies mais atingidas pela caça ilegal praticada pelos soviéticos no final da década de 60 e início da década de 70.
Contudo, estima-se que no Hemisfério Sul, existam pelo menos 24 mil baleias-fin (dados de 2011). Embora a baleia-fin tenha sido amplamente caçada ao longo de quase toda a sua distribuição, o impacto da captura sobre a espécie na costa brasileira parece ter sido reduzido, embora não existam dados sobre o seu tamanho populacional. Durante os quase 50 anos de atividade baleeira no Brasil, foram capturados 87 baleias-fin nas estações baleeiras de Costinha e Cabo Frio.
Os problemas de conservação da espécie são pouco conhecidos. Contudo, dentre as ameaças potenciais pode-se destacar a poluição sonora no ambiente marinho, a poluição por contaminantes químicos, o risco de capturas em redes de deriva de alto mar e a colisão com embarcações. Na costa brasileira, entretanto, não são conhecidos casos de colisões com embarcações ou capturas incidentais em redes de pesca. Nas regiões polares, a sobrepesca de recursos pesqueiros pode causar um desequilíbrio no ecossistema, que pode comprometer o habitat das baleias-fins.
A baleia-jubarte é uma espécie cosmopolita, presente em todos os oceanos, e que realiza migrações sazonais entre áreas de alimentação e áreas de reprodução. Durante a primavera, o verão e o outono é encontrada em altas latitudes, migrando durante o inverno para águas tropicais e subtropicais para acasalamento e nascimento dos filhotes.
A principal concentração reprodutiva no Atlântico Sul Ocidental é o Banco dos Abrolhos, situado no extremo sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Ocorrem registros da espécie ao longo da costa brasileira, desde o Rio Grande do Sul até o Pará e em Fernando de Noronha. Estudos em áreas de ocorrência histórica sugerem a reocupação de antigas áreas de reprodução no litoral baiano, e o Estado do Rio de Janeiro, especialmente a região da Bacia de Campos, que tem sido apontada como um corredor migratório da espécie.
A caça comercial de baleias foi a principal causa de declínio populacional das baleias-jubartes. Somente no Hemisfério Sul, mais de 200 mil animais foram caçados no século. A possível queda da moratória internacional, com a consequente retomada da caça em áreas de alimentação na Antártica, constitui a principal ameaça à recuperação da espécie. A mortalidade incidental em redes de pesca fantasma é uma das causas de mortalidade, principalmente de filhotes, ao longo da costa. O tráfego de navios e de barcaças na estação reprodutiva implica no risco de colisões e no aumento da presença de sons no ambiente. Choques com embarcações já foram registrados no Banco dos Abrolhos e litoral norte da Bahia.
O turismo de observação de baleias, realizado na costa da Bahia vem aumentando, fazendo-se necessários o monitoramento e o ordenamento desta atividade turística também fora das unidades de conservação. Estudos realizados verificaram alteração do comportamento vocal dos machos na presença de embarcações. A degradação do hábitat em consequência das atividades de prospecção e exploração de petróleo e gás na região do Banco dos Abrolhos e na Bacia de Campos constituem motivo de preocupação, principalmente devido aos efeitos ainda pouco conhecidos dos levantamentos de dados de sísmica marinha, além do aumento do tráfego de embarcações e da poluição por hidrocarbonetos.
Atividades humanas que geram sons subaquáticos de alta intensidade e de baixa frequência também podem afetar os mamíferos marinhos. Os efeitos destas atividades nos cetáceos ainda não estão bem compreendidos, mas estudos recentes têm evidenciado impactos no sistema auditivo, distúrbios comportamentais, assim como embolia gasosa e gordurosa em algumas espécies.
As baleias são fundamentais para a biodiversidade, o equilíbrio ecológico do planeta e a saúde dos oceanos. Um estudo publicado na Science Advances revela que a presença desses mamíferos nos mares também ajuda a reduzir as emissões de dióxido de carbono. Segundo a equipe de cientistas, que reúne especialistas de universidades de todo o mundo, quanto maiores as baleias deixadas no mar, maior é a redução de CO2 liberado na atmosfera terrestre.
Quando uma baleia morre no oceano, ela afunda nas profundezas, sequestrando todo o carbono que contém. Esse conceito de captura de carbono recebe o nome de carbono azul, que é todo carbono capturado e armazenado pelos oceanos e ecossistemas costeiros do mundo. Os ecossistemas costeiros oferecem serviços ecossistêmicos essenciais, como proteção contra deslizamentos de terra, tempestades e tsunamis, e têm papel fundamental no combate às mudanças climáticas.
No entanto, esse fenômeno natural, que é uma bomba de carbono azul, tem sido cada vez mais interrompido pela pesca industrial. E ele não só foi esquecido até agora, como ocorre em áreas nas quais a pesca não é economicamente lucrativa, como o Pacífico Central, o Atlântico Sul e o Oceano Índico Norte. Assim, a pesca oceânica prejudica essas áreas, sem que a captura das baleias compense financeiramente os danos causados.
Por isso, os autores do estudo defendem uma prática mais fundamentada da pesca, com mudanças que levem em conta todos os fatores apresentados. A aniquilação da bomba de carbono azul representada por baleias sugere que novas medidas de proteção e gerenciamento devem ser colocadas em prática. A ideia é que mais baleias possam permanecer nos oceanos como sumidouros de carbono, sem que se tornem uma fonte adicional de CO2.
Um outro estudo mostrou que as baleias consomem grandes quantidades de alimento e expelem elevados volumes de excremento, que servem de alimento para os fitoplânctons. Esse conjunto de micro-organismos é responsável por absorver dióxido de carbono da atmosfera, gás que contribui para a intensificação do aquecimento global. Além disso, os fitoplânctons desempenham um papel fundamental na cadeia alimentar aquática.
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