Projeto publica mapas mensais que permitem acompanhar a evolução de estiagens em diferentes áreas da região. Iniciativa quer fornecer informações precisas para que as autoridades consigam agir de forma preventiva, evitando agravamento de crises
Com apoio do Banco Mundial, uma iniciativa do governo federal em parceria com os estados do nordeste quer mudar o olhar convencional que Brasil e mundo têm sobre a seca na região. Lançado no final do mês passado, o Monitor de Secas do Nordeste Brasileiro disponibiliza mapas mensais que acompanham a evolução das estiagens nos nove estados.
O objetivo do projeto é fornecer informações precisas para as instituições do Brasil, que poderão agir de modo preventivo e continuado, além de traçar políticas públicas coordenadas.
Os mapas produzidos contêm indicadores que expressam cinco níveis de gravidade das secas, alertando para fenômenos extremos, mas permitindo principalmente a previsão de estiagens mais severas.
“É uma mudança de modelo para um país que sempre encarou as secas como uma fatalidade”, afirmou o diretor-presidente da Agência Pernambucana de Águas e Clima – uma das parceiras do programa –, Marcelo Asfora.
Mapas semelhantes são usados nos Estados Unidos, no México e na Espanha, países que inspiraram o Monitor do Nordeste. Com a iniciativa, o Brasil pode se tornar um exemplo para a América Latina e o mundo ao mostrar como é possível integrar dados e instituições. O Monitor de Secas recebeu apoio também do Fundo Espanhol para a América Latina (SFLAC).
“Nos países em desenvolvimento, é comum as agências coletarem certos tipos de informações e guardá-las para si mesmas”, explicou o climatologista norte-americano Donald Wilhite, que prestou assessoria ao projeto brasileiro desde sua concepção, em 2013.
O especialista criticou a maneira como as autoridades de todas as nações, em desenvolvimento ou não, vinham encarando o problema das estiagens. “Elas demoraram demais para tomar providências concretas, e isso tem a ver com a própria natureza das secas”, avaliou Wilhite.
Como esses fenômenos em geral não causam danos na infraestrutura e se desenvolvem de forma lenta, os formuladores de políticas públicas tendem a ignorar os impactos nas pessoas e no meio ambiente, segundo o climatologista.
Ao longo do último século, porém, estimativas indicam que estiagens afetaram 2 bilhões de pessoas e mataram 11 milhões em todo o mundo.
Prevenir a devastação causada pelas secas é possível por meio de projetos como o Monitor de Secas, além de ser fundamental frente à ameaça crescente das mudanças climáticas. De acordo com o relatório “Diminuir o Calor”, elaborado pelo Banco Mundial em 2012, “o nordeste brasileiro sofre particularmente os impactos das secas associadas ao fenômeno El Niño, que podem se tornar mais frequentes em um planeta 4°C mais quente”.