Queima de fogos de artifício: espetáculo não compensa danos

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A queima de fogos de artifício é costume tradicional em muitos países. Apesar dessa prática ser apreciada por algumas pessoas (principalmente em épocas festivas) ela pode causar danos irreversíveis aos animais, ambiente e pessoas, podendo ser entendida como uma forma de poluição atmosférica e sonora (para saber mais sobre esse tema leia a matéria: “Poluição sonora: o que é e como evitá-la“). Muito se fala sobre os danos causados pelo barulho dos fogos de artifício. Mas o que nem todos imaginam é que, além da poluição sonora, a queima de fogos de artifício emite compostos poluentes para a atmosfera, o que também a caracteriza como uma forma de poluição do ar. Para saber mais sobre esse tema, dê uma olhada na matéria: “O que é poluição do ar? Conheça causas e tipos“.

História

Os fogos de artifício foram levados até a Europa pelos árabes, passando a ser utilizados na Itália, no final do século XIV, em festividades de caráter cívico e/ou religioso. Desde então, há relatos da sua utilização para diversas finalidades, principalmente em períodos de comemorações.

Brasil

No Brasil – o segundo maior produtor mundial de fogos de artifício – os fogos são classificados em quatro categorias (A, B, C e D), de acordo com a quantidade de pólvora, que reflete no nível do estampido (som forte). Somente o tipo A não produz estampido, e, provavelmente por isso, não é tão popular entre os consumidores.

A virada do ano, o Natal e outras festividades católicas de junho (principalmente na Bahia) são as épocas em que o uso de fogos de artifício é mais intenso. Nesses períodos, as entradas em hospitais ocasionadas por acidentes decorrentes da queima de fogos de artifício é mais frequente.

Animais

Os principais problemas causados a animais em decorrência do barulho de fogos de artifício são reações comportamentais como estresse e ansiedade. Há casos que se resolvem apenas com o uso de sedativos ou podem culminar em danos físicos e até morte.

Entretanto, como na maioria das vezes são utilizados no período noturno, os efeitos causados aos animais (principalmente os silvestres) são difíceis de serem percebidos e quantificados, o que indica que os impactos nocivos dessa atividade nos animais são subnotificados.

O barulho, associado ao medo, desencadeia respostas fisiológicas de estresse, por meio da ativação do sistema neuroendócrino, que resulta em uma resposta de luta ou fuga, observada por meio do aumento da frequência cardíaca, vasoconstrição periférica, dilatação da pupila, piloereção e alterações no metabolismo da glicose.

O animal com medo procura se afastar do barulho tentando se esconder dentro ou embaixo de móveis ou espaços apertados; pode tentar fugir pela janela, cavar buracos, tornar-se agressivo; apresentar salivação excessiva, respiração ofegante, diarreia temporária; urinar ou defecar involuntariamente. As aves podem abandonar seu ninho em revoada. Durante a tentativa de fuga do barulho causado pelos fogos de artifício podem acontecer acidentes como atropelamentos, quedas, colisões, ataque epilético, desnorteamento, surdez, ataque cardíaco (principalmente em aves) ou o desaparecimento do animal, que pode percorrer longas distâncias em estado de pânico e não conseguir retornar ao seu local de origem.

Apesar da queima de fogos de artifício ser esporádica, a preocupação com os danos provocados nos animais é legítima, pois o medo ocasionado pelo barulho dos fogos de artifício pode desencadear medos generalizadas para outros ruídos de tipos semelhantes, como o som de um trovão.

Pessoas

Em humanos, a queima de fogos de artifícios pode causar o amputamento de membros, estresse nas crianças, incômodo nas pessoas em leitos de hospitais, morte, ataque epilético, desnorteamento, surdez e ataque cardíaco.

O barulho de fogos de artifício é nocivo principalmente para as pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo, que podem ficar extremamente incomodadas.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de 7 mil pessoas sofreram lesões decorrentes do uso de fogos de artifício no período de 2007 a 2017; sendo 70% queimaduras; 20% lesões com lacerações e cortes; e 10% amputações de membros superiores, lesões de córnea, lesão auditiva e perda de visão e de audição. No mesmo período, foram registradas 96 mortes em todo o Brasil.

Atmosfera

Um estudo realizado na Índia analisou a poluição atmosférica causada pela queima de fogos de artifício. De acordo com o estudo, a atividade pode causar uma contaminação do ar intensa a curto prazo. No estudo, a concentração de contaminantes atmosféricos como SPM (partículas em suspensão) foi monitorada durante seis dias consecutivos em Salkia, uma zona densamente povoada, perto de Calcutá, na Índia. Os resultados mostraram que, após a finalização da queima dos fogos de artifício o nível de partículas foi de até 7,16% maior para determinado poluente. Segundo o estudo, esse e outros aumentos de outros tipos de poluentes emitidos pela queima de fogos de artifício tem significativo impacto sobre a saúde dos habitantes da região. Por meio de uma simulação, o índice de risco relativo de mortalidade e morbidade nos indivíduos expostos foi alto. E a conclusão mostrou que, para diminuir os riscos de prejuízo à saúde humana, é necessário haver controle sobre a prática da queima de fogos de artifício.

A revista Nature publicou um estudo que aponta a queima de fogos de artifício durante as festividades de Delhi, na Índia, como uma significativa fonte de emissão de ozônio (poluente atmosférico secundário) para a atmosfera.

Proibição

Algumas cidades brasileiras proíbem o uso de fogos de artifício que produzem barulho. Outras, entretanto, apenas possuem projetos ainda não aprovados sobre a proibição de fogos de artifícios barulhentos.

Entretanto, vale ressaltar que não é só o barulho de fogos de artifícios que provoca danos socioambientais de grande importância, a própria queima emite poluentes significativos. Esse fato chama atenção para a necessidade de uma discussão a respeito da proibição completa do uso recreacional dos fogos de artifício como um todo, não apenas dos que produzem barulho.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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