Quem usa batom, brilho ou protetor labial pode estar ingerindo, aos poucos, metais pesados

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Além das cores, os batons proporcionam hidratação, proteção solar e antienvelhecimento aos lábios. Eles também protegem a pele labial contra a poluição do ar, pois formam uma camada que impede o contágio de alergias provocadas por partículas presentes no ar ou veiculadas pelas próprias mãos. Acontece que alguns desses cosméticos podem conter substâncias tóxicas, como metais pesados, e até componentes cancerígenos. Porém, essas informações não são tão difundidas e, quando chegam ao conhecimento dos usuários, são subestimadas porque tais produtos normalmente não são ingeridos, e sim aplicados sobre a pele ou cabelo. Mas esse fato não exclui riscos associados aos tóxicos, ao contrário do que muita gente pensa. Com os batons coloridos ou sem cor, brilhos e protetores labiais, a história é outra, pois esses produtos são aplicados diretamente nos lábios e acabam sendo ingeridos em pequenas porções. Quem usa batom regularmente pode chegar a comer mais de dois batons inteiros por ano! É importante ficar ligado nos componentes do batom que você usa.

Preocupação

Os riscos associados ao uso de itens labiais estão relacionados aos padrões de exposição tóxica presente nesses produtos (geralmente metais pesados). O uso do batom é diário e sua reaplicação ocorre, em média, 20 vezes por dia, segundo uma pesquisa. Levando isso em consideração, um estudo revelou que é possível ingerir de 24 a 87 miligramas de produto por dia. Se considerarmos uma aplicação ao longo dos 365 dias do ano, isso resulta na ingestão de mais de oito gramas de batom por ano. Para se ter uma ideia, uma embalagem comum de batom possui aproximadamente 3,5 gramas de produto, e oito gramas de batom correspondem a mais de dois batons inteiros ingeridos por ano.

Assim como a maioria dos artigos de beleza vendidos comercialmente, os batons podem conter parabenos, fragrâncias e corantes. Outras pesquisas revelaram ainda mais problemas à saúde ocasionados por certas substâncias presentes em cosméticos, como esmaltes, batons e outros itens de maquiagem.

Chumbo

Pesquisadores da Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de alimentos e medicamentos nos EUA, encontraram presença de chumbo em 400 amostras de batons de marcas amplamente disponíveis no mercado. A FDA regula apenas as concentrações de chumbo presentes nos corantes dos batons, estabelecendo um limite de 20 partes por milhão (ppm) de chumbo. Essa regulação da FDA é muito permissiva e vai contra estudos que apontam a não existência de níveis seguros de exposição ao chumbo. No Brasil, o acetato de chumbo é regulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e só pode estar presente em tintura capilar com limite de 0,6% contendo não mais que três ppm de arsênio e uma ppm de mercúrio. No Canadá e na Europa, o chumbo foi banido.

Mas “só” identificar chumbo na composição dos batons não é a pior parte. Foram encontradas concentrações de chumbo muito acima dos níveis identificados por pesquisas anteriores. Resumindo, algumas marcas elevaram o nível de chumbo presente nos seus batons em até dez vezes, por isso é tão importante verificar os componentes do batom que você usa.

Outros tóxicos

Os alertas em muitos meios de comunicação enfocam, na maioria das vezes, a presença de chumbo nos produtos para lábios. Porém, em pesquisas conduzidas por pesquisadores da Environmental Health Perspectives e do Instituto Politécnico de Lisboa foram detectadas a presença de outros metais pesados como o níquel, crômio, alumínio, cádmio, cobalto, cobre, manganês e titânio em produtos labiais em geral e também em outros itens cosméticos, tais como lápis para olhos e hidratantes, e até em protetores solares. Sucede que essas substâncias químicas elencadas acima também fazem mal à saúde.

Efeitos

O chumbo está associado à ocorrência de demência, depressão, agitação, agressão, perda de concentração, déficit de QI, hiperatividade, desregulação do ciclo menstrual, nascimento prematuro, Alzheimer, Parkinson, redução das capacidades cognitivas, entre outros distúrbios e doenças. Quando ingerido, os efeitos tóxicos principais do chumbo atingem o cérebro e o sistema nervoso. Altas concentrações de chumbo no corpo podem causar danos ao fígado, danos aos ossos, danos ao sistema reprodutivo e aumentar a pressão sanguínea. Segundo a Internacional Agency for on Cancer (IARC), que regula os riscos de determinados produtos causarem câncer, os compostos de chumbo inorgânico são classificados como possivelmente carcinogênicos para humanos. A Environmental Protection Agency (EPA), agência ambiental americana, classifica o chumbo e os seus compostos orgânicos como provavelmente cancerígenos.

O níquel pode ser considerado o campeão de alergias na pele. Em 2008, a União Europeia baniu o níquel na composição de cosméticos e estabeleceu restritas recomendações para produtos com este metal pesado que ficam em contato prolongado com a pele, como os brincos (veja sobre os possíveis problemas que a junção substâncias químicas mais joias podem provocar à saúde). Há estudos que comprovam problemas de dermatite alérgica até mesmo pelo uso de celulares que possuem em sua composição o metal em contato direto com a pele:

Dermatite de contato pode ser causada por níquel presente em celulares

O cromo foi banido nos cosméticos pela União Europeia, Canadá, Indonésia, Filipinas, Tailândia, Camboja, Mianmar e Malásia. A substância pode provocar ao longo da vida problemas de pele como a dermatite. O cádmio, por sua vez, está relacionado a problemas nos rins, ossos e pulmões.

Saiba mais sobre os problemas que envolvem os cosméticos em um vídeo produzido pelo The Story of Stuff Project, curtindo o vídeo.

Cuidados e reciclagem

Evite comprar de marcas que estejam associadas à presença de chumbo e de outros metais tóxicos. Procure produtos livres de substâncias químicas nocivas à saúde. E continue atento aos rótulos para evitar o contato com outras substâncias perigosas, como as fragrâncias, corantes e parabenos.

Além desses cuidados, é importante também verificar a data de validade desses produtos. Quando vencidos, a eficiência deles diminui e os riscos de surgir alergia, irritações e herpes (no caso dos batons) aumentam, uma vez que são maiores as chances de ocorrer oxidação e decomposição dos ingredientes presentes na fórmula, incluindo aí as substâncias tóxicas. Sendo assim, se você perceber que a cor do batom mudou e ele estiver seco e exalando um cheiro diferente e desconfortável, saiba que esses são sinais de que está na hora de descartá-lo.

Pelo fato de alguns itens de beleza conterem em sua fórmula substâncias prejudiciais à saúde, como já dito, é importante descartar esses produtos de forma adequada. Pois, caso contrário, eles podem ocasionar a contaminação de solos e lençóis freáticos, por exemplo. Para dar um fim sustentável ao seu produto cosmético, você pode levá-lo até a loja em que o comprou – algumas empresas de cosméticos recolhem uma quantidade mínima de produtos vazios e, em troca, oferece ao cliente um novo produto da marca; e outras possibilitam que o cliente deixe o produto de beleza em agências dos Correios (veja como descartar corretamente cosméticos vencidos). Mas antes de levá-los a esses locais, para que sejam reciclados, não se esqueça de limpar antes o recipiente com um pano úmido.

No caso dos batons que não agradam mais a você, uma dica é transformá-los em um novo batom. Nesse caso, tire-os do invólucro e os coloque em uma vasilha. Leve a vasilha ao fogo em banho maria, e mexa os batons com um palito. Quando eles começarem a derreter, a cores vão se misturar, formando uma nova. Depois de derretidos, transfira o seu novo batom para um recipiente, espere esfriar e depois é só testá-lo. Outra opção é trocar com as amigas ou doar para alguém.

Equipe eCycle

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