Foto de Michael Schiffer na Unsplash
Bioarte é um movimento de arte contemporânea que possui o objetivo de integrar a arte à biologia. O termo foi cunhado em 1997, pelo artista brasileiro-americano Eduardo Kac, cuja primeira obra pertencente ao movimento foi implantar um microchip no tornozelo e se registrar em um banco de dados de animais de estimação como o animal e o dono ao vivo na televisão.
De início, a arte e a biologia, além de outras ciências, eram separadas e, muitas vezes, consideradas opostas. No entanto, Kac e outros artistas começaram a vê-los como parte total de um novo produto — a bioarte.
Segundo o diretor artístico Marcelo Dantas, por exemplo, o princípio do movimento é de que a natureza não seja apenas retratada na arte, e sim incorporada como um novo meio. Para o especialista, a natureza é a origem da arte, que por muitos é vista como apenas uma inspiração.
“A arte não é uma invenção humana. Tal pensamento cai por terra, quando contemplamos a natureza (…) os passarinhos estão cantando há milhares de anos e muito mais afinados do que qualquer voz humana. As formigas, as aranhas e as abelhas produzem arquitetura por muito mais tempo do que homo sapiens”, explica Dantas.
Ao incorporar a biologia à arte, os artistas do movimento geraram técnicas e ferramentas que ajudaram os pesquisadores científicos ao longo do tempo. Essencialmente, na bioarte, genes, células e animais (incluindo humanos) se tornam a mídia. A forma de arte se aventura nos campos da genética e da medicina e alimenta a discussão sobre a relação entre organismos vivos e não vivos.
Em geral, o campo levanta a questão: qual outra espécie, além da humana, a arte pode conquistar? Ou seja, ela consiste na criação de obras de arte através da colaboração com outras espécies.
Sendo assim, a bioarte também contribui para apreciação da arte “original”, a feita pela natureza, e, desse modo, promove a conservação do meio ambiente e de seus integrantes.
Um exemplo de obra de bioarte é uma peça musical da artista Laurie Anderson. Em 2016, em Nova York, Anderson tocou um set composto para – e tocado em uma frequência adequada para – cães.
Com a ajuda de um violino e caixas de som, a artista tocou músicas em uma frequência que apenas cachorros podiam ouvir. Os tutores, por sua vez, ganharam pares de fones de ouvido, que possibilitaram que a obra fosse aproveitada por ambas as espécies.
Durante todo o concerto, os cães da plateia latiam e uivavam em resposta à música que foi feita apenas para eles.
Por outro lado, outra técnica comum do campo da bioarte é a pintura bacteriana, ou arte em ágar. Aproveitando a técnica milenar da pintura e combinando-a com a atividade de ponta de cultivar células geneticamente modificadas, é possível criar artes visuais em placas de Petri, por exemplo.
Como criador do termo, Eduardo Kac possui diversas obras de bioarte. Desde 97, quando transplantou o microchip, Kac tem utilizado a biotecnologia e a genética para examinar e até mesmo criticar técnicas científicas.
Em uma obra intitulada “Gênesis”, Kac traduziu um versículo da Bíblia para o código Morse, depois o converteu em pares de bases genéticas. Usando uma bactéria que ele estava cultivando em uma placa de Petri, ele implantou esses genes. O objetivo era demonstrar a dicotomia entre a advertência da Bíblia contra mexer com a natureza e então fazer exatamente isso. (1)
Uma das obras mais famosas da bioarte é de Kac, intitulada “GFP Bunny” (Coelho GFP). Realizada em 2000, ela consiste em um coelho que brilha no escuro, feito a partir da junção dos DNAs de uma água-viva e um coelho. O coelho chamado Alba foi uma das primeiras peças da bioarte, na esperança de normalizar a modificação genética, mesmo levantando questões críticas sobre ética.
Kac explica que a arte transgênica deve ser criada “com muito cuidado e com o compromisso de respeitar, nutrir e amar a vida assim criada”.
No entanto, a interferência com a vida de outras espécies também pode ser vista através das lentes da crueldade animal.
Na frente pública, a bioarte tem sido alvo de ataques de grupos de direitos dos animais, como a PETA. A instituição argumenta, por exemplo, que os artistas envolvidos nessa prática estão usando animais para seu próprio ganho.
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