Feito a partir de óleo vegetal de coco, o combustível se destaca pela baixa emissão de poluentes atmosféricos
O biodiesel de coco é um combustível alternativo, considerado renovável, já que seu componente primário – o óleo de coco – é de origem vegetal. O uso de óleos vegetais, de diferentes tipos, apresenta uma série de benefícios na produção do biodiesel.
Diversos óleos vegetais podem ser utilizados como matéria-prima para biocombustíveis. Além do óleo de coco, os óleos de palma, soja, semente de colza, entre outros, também podem ser convertidos.
Uma das vantagens do uso do coco como matéria-prima para a geração de biocombustível é sua abundância. O coco representa uma das maiores fontes de produção de culturas agrícolas pelo mundo.
Produção de coco verde
Segundo o Agricultural Production Statistics, relatório publicado pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), a produção mundial de coco verde foi uma das principais, no nicho das oleaginosas, com 62 milhões de toneladas só em 2022.
Além disso, a Ásia foi apontada como a principal produtora de coco, com foco na produção do óleo, principalmente na Indonésia, Filipinas e Índia. O Brasil, em 2022, contava com uma área com cerca de 189 mil hectares de coqueiros plantados, com uma produção de mais de 1,8 bilhões de frutos ao ano. O estado do Ceará recebeu destaque como o maior produtor brasileiro. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), entre 2009 e 2019, o Nordeste brasileiro, região com a maior produção do País, perdeu cerca de 34% de seus coqueirais. A morte dos coqueiros ocorreu por conta das mudanças climáticas. Em 2021, o Brasil passou a ocupar o 5º lugar na produção de coco mundial. Nesse ranking, além dos países já citados, outros países se sobressaem, como o Sri Lanka, Vietnã, México, Papua Nova Guiné, Tailândia e Malásia.
Óleo de coco
Um dos subprodutos mais importantes dessa commodity agrícola é o óleo de coco. Esse óleo é popularmente conhecido por seu uso na culinária ou cosmético. No entanto, seu uso na produção de biocombustíveis é bem difundido. O óleo tem alto teor de gordura saturada, isso o torna mais resistente ao tempo, já que sua oxidação é demorada. Esse composto, derivado do coco, mantido numa temperatura de 24°C, pode durar até seis meses em perfeitas condições de uso.
Cerca de 90% dos óleos vegetais, em geral, são compostos de ácidos graxos saturados, que costumam se solidificar à temperatura ambiente. O óleo de coco também apresenta uma vantagem como matéria-prima de biocombustível, em relação a outros óleos vegetais, já que devido à sua composição, também é possível transformá-lo em querosene verde para aviação.
Do óleo ao biodiesel de coco
A produção do biodiesel de coco ocorre por meio de uma reação química, num processo chamado de transesterificação. Esse processo é possível por conta dos triglicerídeos e ácidos graxos livres, presentes nos óleos vegetais.
Durante a transesterificação são usados dois componentes principais, uma substância que funciona como um catalisador, acelerando a reação química, e um álcool primário, que transforma os triglicerídeos em ésteres de ácido graxo, que é o próprio biodiesel.
No caso do óleo de coco, um dos benefícios é a existência do ácido láurico em sua composição. A interação do ácido com os outros componentes torna a transesterificação um processo mais eficaz, apresentando um maior rendimento.
Quando comparado ao diesel comum, o biodiesel é vantajoso por conta da sua biodegradabilidade, além do baixo teor de enxofre. A versão com óleos vegetais também se torna um melhor lubrificante e é também mais seguro, uma vez que o biodiesel precisa de uma temperatura maior para emitir vapores.
Pesquisadores da University of Port Harcourt (Uniport), na Nigéria, destacam que a baixa (ou nenhuma) presença de enxofre ocorre devido à presença de oxigênio na composição química do biodiesel de coco. Dessa forma, o processo da combustão é mais eficaz, o que reduz os níveis de emissão de material particulado (MP), monóxido de carbono, hidrocarbonetos, entre outros.
No processo químico que transforma o óleo vegetal em biodiesel também é obtida glicerina (glicerol) de origem vegetal, que pode ser aproveitada por outros setores.
Alternativa mais limpa e barata
Na lista dos países com maior produção de coco, a nível mundial, está também a Papua Nova Guiné. O país, localizado na Oceania, é majoritariamente rural e encontrou no biodiesel de coco uma opção para reverter as caras importações de combustível à base de petróleo.
A produção nacional de cocos ocorre na ilha de Karkar, localizada próxima ao norte da costa do país. Apesar de ter sua produção voltada para exportação, Papua Nova Guiné está no processo para reverter a desvalorização do produto pelo comércio mundial, transformando os cocos em matéria-prima para a geração de biodiesel, que abastece geradores de energia em escolas e hospitais, além de ser utilizado para o abastecimento de navios de carga.
Uma reportagem, publicada pelo jornal britânico The Guardian, entrevistou Derek Middleton, diretor da Kulili, uma propriedade de 980 hectares, produtora de coco e cacau na ilha de Karkar. Segundo Middleton, o projeto, iniciado em 2007, se desenvolveu com sucesso e ali são produzidos anualmente cerca de 600 mil litros de biodiesel de coco.
Menor dependência externa
Além de ser mais barato, o biocombustível passou a substituir o diesel comum e contribui para uma menor dependência externa. A partir de então, outros países do Pacífico também passaram a desenvolver os próprios projetos para a produção do biodiesel. Além disso, pesquisadores papuas continuam procurando formas de aumentar a eficiência do biodiesel de coco, com a intenção de expandir a produção e abranger toda a comunidade.
Middleton também afirma que o biodiesel de coco é capaz de substituir 50 mil litros de diesel comum por mês, mas que outros 25 mil litros ainda precisam ser importados, para suprir as demandas da população. Além disso, o biocombustível pode ser utilizado puro ou misturado com o diesel comum, sem a necessidade de alterações nos motores dos veículos. A grande questão que os pesquisadores enfrentam agora é financeiro e aguardam receber apoio do governo.
No Brasil, as pesquisas para o desenvolvimento de combustíveis mais ecológicos existem há muitos anos. De acordo com a Associação dos Produtores de Biocombustível do Brasil (Aprobio), o país é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, o que inclui etanol e biodiesel.
Biodiesel de coco no Brasil
Um estudo, publicado pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), no Rio Grande do Norte, analisou a produção de biodiesel a partir do óleo de coco extravirgem e da versão bruta, com restolhos, que são os resíduos da casca.
De acordo com os pesquisadores, a versão bruta, além de não ser atrativa para o setor alimentício, o que não gera competitividade pela matéria-prima, também tem um menor custo para sua produção. Além disso, o óleo bruto depois de decantado é, em sua maior parte, utilizado para a produção de sabão, o restante é descartado.
Os pesquisadores realizaram os testes com diferentes amostras, dos dois tipos de óleo, que são produzidos em larga escala no estado do Rio Grande do Norte, local da pesquisa. Os resultados mostraram que ambos são passíveis de uso para a produção do biodiesel.
No entanto, o óleo de coco extravirgem se mostrou ineficaz para ser aplicado como combustível de veículos automotores, uma vez que alguns de seus parâmetros se apresentam acima dos pré-estabelecidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Por outro lado, o biodiesel feito a partir de óleo de coco bruto se mostrou uma ótima alternativa para a produção de combustíveis mais ecológicos. Além disso, os testes realizados mostraram que o biodiesel de coco apresentou uma boa estabilidade oxidativa, o que significa que o risco de se formarem depósitos no motor, que causa desgastes e até corrosão, diminui significativamente.