Por WRI Brasil | A bioeconomia da sociobiodiversidade corresponde a um conjunto de atividades econômicas que combina conhecimento e prática locais e exploração limitada pela biocapacidade do bioma. Ela valoriza a floresta em pé e os rios fluindo, sistemas agroflorestais e impulsiona cadeias produtivas baseadas na sociobiodiversidade. Dentre essas, destacamos produtos como açaí, castanha-do-Pará, cupuaçu, mel de abelhas nativas e borracha de seringueira. Além de gerar emprego e renda, a bioeconomia contribui para a conservação ambiental, o bem-estar das comunidades tradicionais e ribeirinhas e o desenvolvimento regional.
Apesar de tantos benefícios, a bioeconomia atualmente na Amazônia ainda é uma atividade informal e subvalorizada. Ainda conhecemos pouco sobre o atual estado da bioeconomia e seu grande potencial para contribuir à transição justa na região.
O working paper “Impactos econômicos dos investimentos em bioeconomia no Pará“, publicado pelo WRI Brasil em parceria com Ana Cristina Barros e pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), buscou trazer luz às vantagens econômicas dessas atividades. O estudo analisa o potencial econômico da bioeconomia no Pará e estima seus impactos sobre o PIB do estado, a geração de renda, empregos e impostos. A pesquisa destaca a necessidade de políticas públicas integradas sob uma conjuntura institucional favorável para maximizar os benefícios sociais e ambientais do setor.
Os benefícios da bioeconomia no Pará em números
O primeiro passo do trabalho foi buscar entender qual o tamanho atual da bioeconomia no estado, a partir de uma análise de 13 produtos da bioeconomia: coco do babaçu, açaí, palmito de açaí, andiroba, mel de abelhas nativas, óleo de babaçu, fibra de buriti, amêndoa de cacau, castanha-do-brasil, óleo de copaíba, cupuaçu, borracha de seringueira e pó corante de urucum. Apesar dos altos níveis de informalidade, os pesquisadores conseguiram estimar que essas cadeias já movimentam R$ 9 bilhões no estado, principalmente a partir dos esforços de comunidades tradicionais e agricultura familiar. Esses resultados foram obtidos pelo estudo da Nova Economia da Amazônia (NEA), baseados nos trabalhos do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, liderado por Francisco de Assis Costa.
Investimentos públicos e privados poderiam estimular essa bioeconomia. Assim, o segundo passo foi identificar recursos disponíveis para investimento.
O estudo identificou um potencial de R$ 1,7 bilhão a R$ 1,8 bilhão em recursos captados, em negociação ou com potencial de captação para ações climáticas no estado. Desses, cerca de R$ 720 milhões poderiam ser direcionados para a bioeconomia.
Por fim, os autores calcularam o impacto desse recurso utilizando uma Matriz de Insumo Produto da Bioeconomia. O resultado é animador. O investimento de R$ 720 milhões em bioeconomia poderia gerar:
- R$ 816 milhões de aumento no PIB;
- R$ 1,85 bilhão em valor bruto de produção;
- 6,5 mil novos empregos;
- R$ 135 milhões em massa salarial.
- Benefícios econômicos da bioeconomia no Pará
- Efeitos multiplicadores e inovação
Efeitos multiplicadores e inovação
Outro ponto crucial identificado pelo estudo são os efeitos multiplicadores dos investimentos em bioeconomia. Isso significa que o investimento em bioeconomia pode gerar um aumento considerável em outros setores da economia. Para cada R$ 1,00 investido, há o retorno de R$ 1,14 em produção, R$ 1,27 para a indústria e R$ 1,40 para o comércio.
É importante notar que a pesquisa avaliou os impactos econômicos de apenas 13 produtos da bioeconomia, mas há muitos outros que não foram considerados. Isso indica que parte considerável da bioeconomia – incluindo a parcela da produção que não é orientada para o mercado – ainda é invisibilizada nas fontes oficiais de dados.
Por fim, o estudo também não analisou os possíveis ganhos com a inovação tecnológica. Não é possível estimar ainda quais serão os produtos biotecnológicos do futuro. Investimentos em biotecnologia podem alavancar a eficiência e produtividade, resultado em um potencial muito maior, considerando inovações trazidas pelos próprios atores sociais das atividades da sociobioeconomia.
O momento de investir em bioeconomia é agora
O estado do Pará possui um ambiente favorável para a expansão da bioeconomia, com políticas como o Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio-PA), o Plano de Recuperação da Vegetação Nativa (PRVN-PA) e o Programa de Territórios Sustentáveis (PTS). Juntas, essas três políticas criam o arcabouço legal e a segurança jurídica necessários para desenvolver novos negócios de bioeconomia.
No entanto, alguns desafios ainda precisam ser superados: em primeiro lugar, está ausente um ambiente regulatório robusto e mecanismos financeiros adaptados; depois, grandes projetos de infraestrutura podem impulsionar a degradação dos ecossistemas do bioma; e, finalmente, os setores agropecuário e de mineração assentados sobre arranjos tradicionais de produção ameaçam territórios de povos tradicionais e necessidade de maior integração entre os programas governamentais.
O estudo também destaca que o Pará tem a maior capacidade na Amazônia Legal de estimular a demanda por produtos da bioeconomia por meio de políticas de compras públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – que prevê 30% dos seus recursos direcionados para agricultura familiar – e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Essas políticas são fundamentais para fortalecer mercados locais e promover inclusão produtiva.
A COP 30 e o futuro da bioeconomia
Com a realização da COP 30 em Belém, a bioeconomia ganha ainda mais relevância como estratégia para financiamento climático e desenvolvimento sustentável na Amazônia. O estudo reforça a necessidade de criar condições para expandir a bioeconomia e garantir que seus benefícios econômicos sejam repartidos de forma justa com aqueles que a fazem: populações tradicionais, agricultores familiares e pequenos empreendedores urbanos.
A transição para uma bioeconomia baseada na floresta viva e na restauração de ecossistemas demanda investimentos, regulação adequada e integração entre políticas públicas. O Pará está bem-posicionado para liderar esse processo, mas a bioeconomia pode ser a atividade de vocação de toda a Amazônia.
Este texto foi originalmente publicado pela WRI Brasil, de acordo com a licença CC BY-SA 4.0. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.