Os bioinsumos são alternativas com menos impactos ambientais em comparação aos agrotóxicos convencionais. Eles são utilizados como fertilizantes e antibióticos na atividade agropecuária. Mas também podem causar impactos ambientais, como a eutrofização. Entenda:
Agrotóxicos, fertilizantes e antibióticos são insumos da atividade agropecuária que oferecem riscos à saúde humana, animal e ambiental. Estudos mostraram que os agrotóxicos podem causar doenças carcinogênicas, infertilidade e desequilíbrio ecossistêmico. Esses produtos são considerados poluentes da agropecuária por conta dos seus impactos negativos.
A exposição aos agrotóxicos pode se dar a partir da aplicação do produto pelos trabalhadores, ou do consumo direto dos vegetais, alimentos processados e produtos de origem animal como carne, leite e ovos – estes últimos geralmente são mais contaminados por agrotóxicos devido ao efeito de bioacumulação na gordura animal. O contato dos trabalhadores e da ingestão pode provocar efeitos como irritação nos olhos, náusea, diarreia, doenças carcinogênicas, infertilidade, pneumonia, congestão e taquicardia. No meio ambiente, os agrotóxicos e fertilizantes contaminam o solo e os corpos hídricos, gerando a morte de espécies, a infertilidade e alterações hormonais.
É importante ressaltar que, apesar de discursos hegemônicos que buscam convencer sobre a necessidade da utilização de agrotóxicos, esses produtos não são necessários. A agroecologia, por exemplo,– que é um método de produção capaz de produzir alimento para toda a humanidade –, não demanda utilização de agrotóxicos nos cultivos. Pesquisas apontam que o surgimento de pragas e ervas consideradas daninhas são consequências da própria monocultura, que diminui as barreiras de proteção e a resiliência do ecossistema ao destruir sua biodiversidade.
Devido aos métodos de confinamento animal utilizados na atividade agropecuária, há maiores riscos de surgimento de doenças. Por isso, nesse sistema, são utilizados antibióticos.
Eles são utilizados para diminuir doenças bacterianas, aumentar o peso do animal, reduzir a mortalidade e elevar as taxas de reprodução além do que ocorreria de forma natural.
Quando liberados no meio ambiente a partir de excretas e restos de alimentos, os antibióticos promovem a poluição da água e do solo, além de contribuírem para o desenvolvimento de patógenos, parasitas e superbactérias.
As superbactérias são bactérias que se desenvolvem e se tornam resistentes aos antibióticos. A existência delas no meio ambiente e nos alimentos ingeridos pelas pessoas pode provocar o surgimento de doenças, bem como epidemias e pandemias, como a de coronavírus.
Os bioinsumos, apesar de serem produtos do mesmo sistema de criação e cultivo que os agrotóxicos, são alternativas menos nocivas para o meio ambiente. Eles são produtos de baixa toxicidade que desempenham funções para contribuir com a produtividade agropecuária. Os bioinsumos podem ser utilizados para realizar o manejo biológico, promovendo o controle de doenças e pragas em plantações agrícolas e criações de animais.
De acordo com dados de 2021, no Brasil, esses insumos são utilizados em aproximadamente 50 milhões de hectares agrícolas. Além disso, são responsáveis por movimentar cerca de R$ 1 bilhão no país. Os bioinsumos podem ser de origem vegetal, animal e microbiana.
Os bioinsumos são produtos que atuam como bioestimulantes, inoculantes, reguladores e fertilizantes. Além disso, alguns bioinsumos têm o papel de realizar o controle biológico de pragas e patógenos. Os bioestimulantes são substâncias hormonais que têm como função a regulação do crescimento, sendo ele vegetal ou animal.
Inoculantes são insumos utilizados para a produção agrícola que favorecem o desenvolvimento das espécies vegetais. Isso ocorre devido à presença de micro-organismos com a capacidade de realizar a fixação de nitrogênio nos vegetais.
Os biofertilizantes são materiais produzidos a partir da decomposição da matéria orgânica. Eles têm baixa concentração de carbono e alta concentração de nitrogênio, substituindo fertilizantes nitrogenados. Além disso, os biofertilizantes atuam como bioestimulantes e inoculantes.
A produção de biofertilizantes pode ser realizada a partir do estrume. O estrume é o material orgânico composto por fezes animais. Com a sua decomposição, é formado um material repleto de nutrientes, como fósforo e nitrogênio, que contribuem para o desenvolvimento vegetal.
Outra técnica para a produção de biofertilizantes ocorre a partir da pirólise, que consiste em colocar o material em um sistema fechado, sem a presença de oxigênio e em altas temperaturas. Dessa forma, o material resultante é seco, esterilizado e repleto de nutrientes para o solo.
A reciclagem desses dejetos é uma opção sustentável e de baixo custo para a produção de biofertilizantes, já que são utilizados materiais já produzidos naturalmente na criação de animais. Além disso, esse produto não contém a adição de substâncias químicas nocivas para o meio ambiente e a saúde humana.
Apesar disso, é necessário tomar cuidado com a aplicação de biofertilizantes no solo. Isso porque os nutrientes podem sofrer o processo de lixiviação, contaminando corpos hídricos. Ainda que sejam produtos naturais, o excesso de nutrientes na água provoca a proliferação excessiva de algas, processo denominado de eutrofização.
Prebióticos e probióticos fazem parte do grupo dos nutracêuticos. Os nutracêuticos são aditivos incluídos na alimentação de animais que fornecem benefícios para a saúde do animal. Esses aditivos contribuem para a produção de carne, sobretudo na criação de aves e suínos.
Probióticos são produtos que contêm micro-organismos vivos em sua composição, atuando na saúde e equilíbrio do organismo. Já os prebióticos são alimentos não digeríveis pelo organismo, mas que desempenham um papel importante para o sistema digestório. Esses produtos e alimentos podem ser utilizados para a criação de animais como bioinsumos, substituindo o uso de antibióticos.
De acordo com um estudo, os probióticos podem ser usados para o controle da Salmonella, uma doença desenvolvida em aves e que pode ser transmitida para humanos, provocando danos à saúde. Quando ingeridos, esses produtos atuam no sistema gastrintestinal, produzindo enzimas e substâncias que aumentam a imunidade dos animais.
Os probióticos eliminam os patógenos do organismo dos animais, evitando o desenvolvimento de doenças, como a Salmonella. Além disso, o uso desses produtos na criação de animais garante segurança em relação ao desenvolvimento de superbactérias.
Os prebióticos contribuem para o desenvolvimento de bactérias benéficas para o organismo. Eles não são digeridos pelo sistema gastrointestinal, porém são fermentados, fornecendo nutrientes aos micro-organismos no interior do animal. Eles são compostos por fibras (carboidratos) de origem vegetal.
Nos animais, os prebióticos contribuem para o sistema imunológico, fornece minerais necessários para o organismo e regula o colesterol e o desenvolvimento de neoplasia. Além disso, contribui para o combate aos patógenos e melhora a qualidade da carne.
O decreto nº10.375/2020 determina o Programa Nacional de Bioinsumos e o seu Conselho Estratégico. O programa, de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), visa o aumento do uso de bioinsumos na produção agropecuária.
No artigo 4º do decreto, o programa estabelece como diretrizes ações de desenvolvimento sustentável para a produção agrícola, bem como a implementação de
“tecnologias, de produtos e de processos desenvolvidos a partir de recursos renováveis, por meio da ação integrada dos setores de ensino, de pesquisa, de extensão e de produção, de modo a reduzir as formas de contaminação e de desperdício dos recursos produtivos”.
Além disso, o mesmo artigo destaca a implementação modelos sustentáveis de produção, bem como a acessibilidade aos insumos destinados à produção agropecuária orgânica. No artigo 5º, que define os objetivos do programa, destacam-se o incentivo à pesquisas e a implementação de campanhas e sistemas sustentáveis de produção.
O uso de bioinsumos na produção agropecuária contribui para a redução de substâncias nocivas no ambiente, como aquelas presentes em agrotóxicos e antibióticos. Eles são produtos naturais, que desempenham as mesmas funções de insumos convencionais, promovendo o desenvolvimento vegetal, animal e aumentando a imunidade das espécies.
Para a criação de animais, bioinsumos como os probióticos e prebióticos contribuem para o aumento da imunidade e o equilíbrio do sistema gastrointestinal. Em plantas, biofertilizantes fornecem nutrientes e micro-organismos importantes no solo, promovendo o desenvolvimento das espécies vegetais e combatendo pragas.
De acordo com um estudo, os bioinsumos podem contribuir para a recuperação de ecossistemas. Com a ação de bactérias inoculantes e bioestimulantes, é possível recuperar a fertilidade em um solo degradado. Isso porque os nutrientes são liberados no solo, sendo possível o desenvolvimento das plantas no local. Além disso, o uso de bioinsumos reduz a existência de micro-organismos indesejados nas plantas.
A criação animal é uma prática que promove a poluição ambiental. Isso porque envolve o desmatamento da vegetação nativa, provocando a perda de biodiversidade e o aumento de emissões de poluentes. Além disso, grande parte do cultivo agrícola é destinado para a produção de ração desses animais, estabelecendo sistemas monocultores.
A monocultura é um modelo de produção que envolve o cultivo em larga escala, de uma única espécie vegetal. Além de reduzir a biodiversidade, esse modelo aumenta a quantidade de pragas e parasitas, o que resulta em um desequilíbrio ecológico. Dessa forma, a necessidade do uso de bioinsumo aumenta.
Os bioinsumos, apesar de provocarem menores impactos ambientais, ainda assim podem gerar o processo de eutrofização em ambientes aquáticos, devido ao aumento de nutrientes lixiviados.
Portanto, mesmo adotando o uso de bioinsumos, os impactos envolvidos na atividade agropecuária, como o uso de combustíveis fósseis e o desmatamento, continuam. Esses fatores são os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas.
Os impactos ambientais da criação de animais são maiores do que o cultivo agrícola. Por isso, a melhor forma de frear a crise climática é adotando uma dieta plant based. Além disso, estudos mostram que uma dieta baseada em vegetais oferece benefícios para a saúde e diminui o risco de doenças cardíacas.
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