Biotecidos: o que são e como são feitos

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Biotecidos são tecnologias produzidas a partir de materiais biológicos com baixo impacto ambiental, como troncos de árvore, folhagens, papel vegetal e colônias de bactérias e fungos. A composição dos biotecidos pode variar e inclui muitas propriedades naturais, como colágeno, queratina, fibras proteicas, vegetais e celulose, é o que diz o professor de Têxtil e Moda da USP, Dr. Mauricio Campos, ao portal Notícias R7.

O interessante das peças de biotecido é que nelas é possível adicionar aromas e medicamentos, fazendo com que também exerçam a função de um curativo, por exemplo.

Exemplos de biotecidos

Algumas empresas começaram a fabricar biotecidos a partir do trabalho de micro-organismos. A startup carioca Biotecam, por exemplo, desenvolveu um biotecido utilizando bactérias. Os micro-organismos, pertencentes à espécie de bactéria do gênero Acetobacter, são os mesmos encontrados no vinagre. As culturas são utilizadas pelos engenheiros da empresa para formar um filme de celulose que ganha o aspecto de couro e transforma-se em roupas e acessórios.

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Nos Estados Unidos, a empresa californiana Bolt Threads lançou dois tipos diferentes de biotecidos. Um deles é a microsseda produzida por leveduras bioengenheiradas com genes de aranha, que faz com que estes seres produzam fios parecidos com teias. O biotecido foi usado pela estilista Stella McCartney, incluindo um vestido apresentado no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, em 2017.

O segundo biotecido é o couro sintético biofabricado a partir de células de micélio, uma parte do sistema de filamentos de alguns tipos de fungos, como cogumelos. No entanto, é importante ressaltar que o uso do termo “couro” nessa aplicação é meramente popular e não está correto de acordo com a Lei 4.888, de 1965.  A utilização do termo couro associado a produtos que não sejam obtidos exclusivamente de pele animal para a comercialização é proibida.

O nome comercial do biotecido em questão é Mylo, e ele é usado para fazer roupas, cintos e sapatos por ser muito parecido com o couro de origem animal, mas ainda sendo uma alternativa sustentável.

Mas os biotecidos que simulam couro são pesquisados desde 2000 pela designer de moda londrina Suzanne Lee. Ela criou jaquetas, saias, camisas e sapatos com celulose bacteriana, no projeto chamado BioCouture.

Ela defende que, no futuro, as fábricas de tecido serão células vivas, formadas por bactérias, algas, fungos e leveduras. Segunda ela, em um TED Talk de julho de 2019, a biofabricação substituirá atividades intensivas desenvolvidas pela humanidade por uma atividade biológica. “Com a biologia, sem nenhuma intervenção minha além de estabelecer as condições iniciais de crescimento, produzimos um material útil e sustentável.”

No Brasil, a empresa Biotecam passou a investir no ramo dos tecidos bacterianos, elaborando um tecido celulósico à base de bactérias. Entre os clientes da startup está a marca de roupas sustentáveis Movin, do Rio de Janeiro, que já produziu algumas peças com o material. Além de exigir um volume muito menor de água para a fabricação, em comparação com o algodão, o Texticel é biodegradável e compostável.

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A pesquisadora Andreia Sofia de Sousa Monteiro utilizou bactérias e sílica para modificar quimicamente a superfície de tecidos de algodão, tornado-os repelentes a água e a outros líquidos. Em entrevista para a Agência Fapesp, a química afirma ter trabalhado nas propriedades de autolimpeza e de facilidade de limpeza, conhecidas no meio como self-cleaning e easy cleaning, respectivamente. Essa tecnologia permite que líquidos, como o suor humano, ou outras sujidades sejam repelidos pelo tecido.

A membrana com poder autolimpante foi elaborada com um compósito de nanopartículas de sílica com dióxido de titânio. Nesse caso, a sujeira é inicialmente absorvida pelo tecido para, em seguida, ser degradada ao ser exposta a uma fonte de luz ultravioleta (UV).

O biotecido desenvolvido por Andreia é revolucionário, pois tem potencial de vir a substituir peças esportivas confeccionadas a partir de tecidos de plástico, como o poliéster.

Os tecidos de plástico são um problema ambiental, pois liberam microplásticos nos rios e mares após lavagens na máquina de lavar roupas. Uma vez no ambiente, os microplásticos podem entrar na cadeia alimentar e causar implicações para a saúde humana, tais como piorar a asma, inflamar o sistema imunológico, danificar os órgãos internos e chegar até às placentas de mulheres grávidas.

Um estudo publicado na revista Nature avaliou a poluição de microplásticos causada por processos de lavagem de têxteis sintéticos. Os resultados mostraram que as microfibras liberadas durante a lavagem variam de 124 a 308 mg por kg de tecido lavado dependendo do tipo de peça de roupa lavada.

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Além do problema das micropartículas, os tecidos de plástico são difíceis de reciclar e acabam ocupando espaço em aterros sanitários, quando não são descartados incorretamente no ambiente.

Diante disso, Andreia Monteiro defende que o tecido bacteriano possa vir a ser usado para confecção de jalecos autolimpantes de profissionais da saúde. “No período de descanso, o médico pode colocar o jaleco em uma estrutura com luz UV, e a roupa ficará livre de micro-organismos”, conta ela à revista Fapesp.

Dê uma olhada em um vídeo da agência Fapesp sobre biotecidos:

Equipe eCycle

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