Conheça os tipos de bisfenol e seus riscos

Compartilhar

Os vários tipos de bisfenol, também chamados de difenóis, são moléculas orgânicas formadas por dois fenóis. Os fenóis, por sua vez, são formados pela ligação de uma ou mais hidroxilas diretamente a um anel aromático. Eles são obtidos a partir da extração de óleos do alcatrão e da hulha.

A hulha, que também pode ser chamada de carvão betuminoso, é um líquido de alta viscosidade e inflamável. Ele pode ser obtido na natureza na forma de carvão mineral e na destilação do petróleo.

O alcatrão, por sua vez, é uma substância feita a partir da destilação do carvão, de ossos e da madeira. Ele é um líquido viscoso formado por dezenas de substâncias químicas que são consideradas cancerígenas ou tóxicas.

O ingrediente básico da composição de qualquer tipo de bisfenol é o fenol, que pode ser obtido de fontes renováveis e não renováveis.

O que são disruptores endócrinos e como evitá-los

Tipos de bisfenol

O bisfenol é um composto orgânico que tem como base principal os fenóis. Porém, ele existe em diversas versões, o bisfenol A, o B, o AF, o C, o E, o AP, o F e o S.

Entretanto, os que se destacam são os bisfenol A, bisfenol S e o bisfenol F, também chamados de BPA, BPS e BPF, respectivamente. Essas substâncias são utilizadas em larga escala pela indústria. Logo,  estão presentes nos mais diversos materiais e produtos comercializados, como embalagens plásticas, além dos revestimentos de outras embalagens e utensílios.

Apesar de serem compostos diferentes, os tipos de bisfenol são parecidos em termos químicos e de propriedades físicas. O que diferencia estes três tipos de bisfenol é que o bisfenol A é preparado com a condensação da acetona. Enquanto o bisfenol S é preparado pela reação de fenol com ácido sulfúrico e o bisfenol F pela reação de fenol com formaldeído.

Bisfenol A

O bisfenol A (BPA), é um composto utilizado na confecção de revestimentos de embalagens metálicas de alimentos, garrafas de água mineral, recipientes plásticos, recibos, latas de conserva, encanamentos de água, aparelhos médicos e dentários, produtos eletrônicos e está até na água armazenada em galões de policarbonato, além de muitas outras aplicações. Ele é um dos químicos mais produzidos em escala global.

Em um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) a afirmação de que a exposição ao BPA pode ocasionar riscos para a saúde (como desenvolvimento neurológico específico ao sexo, ansiedade, mudanças pré-neoplásicas nas glândulas mamárias e próstata de ratos e parâmetros visuais do esperma) é tratada como incerta.

Após estudos comprovarem seus prejuízos para a saúde humana e ambiental, houve uma série de regulamentos restritivos em relação ao seu uso.

No Brasil, em janeiro de 2012, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu o uso de BPA na fabricação de mamadeiras e restringiu a migração da substância de embalagens para alimentos a 0,6 mg/kg. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia aprova a proibição e defende que a substância seja banida de brinquedos, copos plásticos, assim como de qualquer outra embalagem plástica que acondicionam alimentos.

Na Dinamarca e nos Estados Unidos, por exemplo, o bisfenol A também foi proibido em mamadeiras, chupetas e brinquedos infantis.

Leia mais sobre o assunto e as consequências da exposição ao BPA na matéria: BPA: entenda o que é bisfenol A e seus impactos“.

Bisfenol S e Bisfenol F

Após as restrições ao BPA, o mercado desenvolveu dois principais substitutos, o BPF e o BPS. O problema é que estes substitutos, que são disruptores endócrinos assim como o BPA, também são prejudiciais à saúde humana e ao ambiente.

A principal diferença é que, enquanto o BPA é regulamentado, o BPF e o BPS são amplamente utilizados sem restrição. O BPF e o BPS estão presentes nos produtos de limpeza industrial, solventes, recibos de papel, revestimentos e resinas epóxi, plásticos, canos de água, selantes dentários e embalagens de alimentos.

Leia mais sobre esses dois tipos de bisfenol nas matérias: “BPF? Conheça os riscos do bisfenol F” e “BPS: entenda o bisfenol S“.

Disruptores endócrinos

Foto de AJ Alao na Unsplash

Por serem disruptores endócrinos, o BPA, o BPS e o BPF interferem no equilíbrio hormonal dos organismos, sejam animais ou pessoas. Este tipo de interferência traz possíveis riscos.

Nos animais, os disruptores endócrinos podem causar esterilização, problemas comportamentais, diminuição da população, entre outros. Nos humanos, os disruptores endócrinos estão associados a diabetes, síndrome dos ovários policísticos e outras.

Além disso, o BPA, em específico pode causar:

  • Aborto;
  • Anomalias e tumores do trato reprodutivo e nas glândulas mamárias;
  • Câncer de mama e de próstata;
  • Déficit de atenção, de memória visual e motor;
  • Diabetes;
  • Diminuição da qualidade e quantidade de esperma em adultos;
  • Endometriose;
  • Fibromas uterinos;
  • Gestação ectópica (fora da cavidade uterina)
  • Hiperatividade;
  • Infertilidade;
  • Modificações do desenvolvimento de órgãos sexuais internos;
  • Obesidade;
  • Precocidade sexual;
  • Doenças cardíacas;
  • Síndrome dos ovários policísticos;

Um estudo publicado pela agência Fapesp mostrou que o bisfenol A pode afetar o sistema endócrino. Ele afeta o equilíbrio dos hormônios da tireoide mesmo em doses baixas.

O BPS comprovadamente apresenta potencial de causar câncer. Um compilado de estudos mostrou que o BPF apresenta efeitos estrogênicos (estimula a ovulação) e androgênicos. Além de efeitos negativos na tireoide, fisiológicos/bioquímicos, aumenta o tamanho do útero e o peso de testículos e glândulas.

Para saber mais sobre esses tipos de bisfenol, leia a matéria: “BPS e BPF: conheça o perigo das alternativas ao BPA“.

Prevenção

É complicado falar em prevenção quando sabemos que a substância está presente nos mais diversos itens do dia a dia. Entretanto, evitar a exposição ao bisfenol e exigir por normas de mercado mais rígidas são formas de mitigar o problema.

Para evitar o uso da substância e a exposição ao bisfenol, evite o consumo de alimentos e bebidas enlatadas industrializadas. A substância presente em latas e embalagens plásticas acaba entrando em contato com os alimentos industrializados. Se não for possível evitar industrializados, dê preferência às embalagens de vidro.

Normalmente, essas embalagens podem conter um selo indicando que são livres de BPA (BPA Free).

Para armazenar alimentos em casa é a mesma regra, dê preferência a potes de vidro, cerâmica e aço inoxidável. Procure não aquecer nem resfriar recipientes de plástico e descarte aqueles rachados ou quebrados. Isso porque as alterações na temperatura e na forma física do recipiente podem liberar bisfenol. Não imprima recibos e comprovantes de papel, dê preferência às versões digitalizadas.

10 estados do Brasil aderem a pacto global de reutilização do plástico

Descarte

O descarte de produtos contendo bisfenol é problemático. Se forem descartados incorretamente, além de causar poluição visual, começam a liberar bisfenol no ambiente contaminando lençóis freáticos, solos e a atmosfera. Dessa forma, eles podem acabar no solo que produz alimentos, nos recursos hídricos e prejudicar pessoas e animais das formas mais graves possíveis.

Por outro lado, o material contendo bisfenol destinado à reciclagem, dependendo do que ele vier a se transformar, pode proporcionar um impacto ainda maior na saúde humana. Um exemplo nesse sentido são os papéis higiênicos reciclados a partir de papéis contendo a substância. 

O papel higiênico reciclado contendo bisfenol gera exposição mais grave. Isso pois entra em contato direto com mucosas mais sensíveis indo parar diretamente na corrente sanguínea. Nesse caso, evite papéis-higiênicos que contenham o símbolo de reciclagem.

Incentivar a reciclagem de produtos contendo a substância é incentivar a sua permanência no cotidiano das pessoas e no meio ambiente. A melhor opção é a redução mais radical possível desse tipo de produto. Quando não for possível zerar o consumo, a melhor forma de descartar é a seguinte:

Unir recibos e plásticos (ou outro material) que contenham algum tipo de bisfenol. Embalá-los firmemente em sacolas plásticas não-biodegradáveis (para que não vazem) e destiná-los em aterros seguros. Lá eles não correrão o risco de vazarem para lençóis freáticos ou solos.

O problema é que serão um volume a mais em aterros. Aliado à essa atitude, é preciso pressionar órgãos fiscalizadores e empresas para que deixem de usar substâncias tão nocivas. Ou pelo menos, em embalagens de alimentos e outros recipientes que são fontes de exposição mais significativas.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais