Bissexualidade: os nuances da orientação sexual

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A bissexualidade é uma orientação sexual em que o indivíduo sente atração por mais de um gênero. De acordo com o relatório do Centers for Disease Control and Prevention’s Youth Risk Behavior, 75% das pessoas que se identificam como LGBTQIA+ são bissexuais. Apesar de serem maioria, esse grupo de indivíduos é o que mais sofre com violência relacionada a sua orientação. 

Mas, ser bissexual é gostar apenas de homem e mulher?

O prefixo “bi” vem do grego e significa “dois”, e, por isso, muitas pessoas associam a bissexualidade a atração física a homens e mulheres. Entretanto, ao contrário do que alguns pensam, a orientação não é binária. Isso significa que uma pessoa bissexual pode sentir atração por homens, mulheres e pessoas não-binárias. 

Devido a relação que a humanidade criou com a divisão de gênero (homens e mulheres), a maioria das sexualidades é categorizada com esse conceito em mente. Afinal, esses termos surgiram quando o debate a respeito do gênero era recente, e faltava aprofundamento por parte dos estudiosos.

Porém, a bissexualidade sempre foi sobre a atração por mais de um gênero, independente de qual. Sendo assim, o seu significado não é literal, mas sim algo que evoluiu com a linguagem e as definições de identidade desenvolvidas com o tempo. 

A bandeira do orgulho bissexual foi criada por Michael Page em 1998. A faixa magenta (cor de rosa) no topo da bandeira representa a atração sexual e/ou romântica ao mesmo gênero; a faixa azul real representa a atração sexual e/ou romântica ao gênero oposto; as faixas ficam sobrepostas no centro em quinto lugar da bandeira para formar uma sombra profunda da lavanda (purpúra), que representa a atração sexual ou/e romântica a mais de um gênero.

Qual a diferença entre a panssexualidade e a bissexualidade?

A panssexualidade é uma orientação sexual definida pela atração por qualquer indivíduo, indiferente do gênero. O prefixo “pan” também vem do grego, e significa “todos”. Apesar da diferença de nomes, a panssexualidade e a bissexualidade são a mesma coisa em suas raízes.

Alguns defendem a ideia de que a panssexualidade abrange um número maior de indivíduos. Ou seja, quem se identifica com essa orientação sentiria atração por pessoas transgênero e/ou não-binárias. Mas a verdade é que bissexualidade não é binária, e pessoas bissexuais também se relacionam e se atraem por transgêneros e não-bináries. 

Logo, o uso dos dois termos é algo puramente arbitrário, que cabe a cada pessoa decidir. Existem indíviduos que se sentem melhor com o uso do termo “panssexual”, aqueles que preferem “bissexual”, e quem usa os dois de forma alternada. 

Pessoas LGBTQIA+ utilizam de diversos termos para se identificarem, como forma de reivindicar suas identidades diante de uma sociedade heteronormativa. Além dos termos citados acima, esses indivíduos podem se autodeclarar “queer”, “multissexuais” e “fluidos”. 

Qual a necessidade de rótulos? 

Os rótulos usados pela comunidade LGBTQIA+ para autoidentificação não são obrigatórios, mas são parte importante da vida dessas pessoas. É comum que elas reivindiquem esses termos como forma de proteger e determinar suas identidades, perante cenários heteronormativos.

Como a heterossexualidade foi submetida e pregada como “a única opção correta” por centenas de anos, em diversas localidades, reivindicar uma orientação sexual diferente disso é um ato político. Afinal, é senso comum a presunção de que todos são heterossexuais até que se prove o contrário. 

Além disso, o uso de rótulos para determinar orientações sexuais facilita o trabalho de estudo de grupos marginalizados. Assim, entendendo melhor suas características, necessidades e formas de prestar apoio. 

Em contrapartida, quem opta por não se rotular também é válido e deve ser respeitado. Cabe a cada pessoa dentro da própria comunidade LGBTQIA+ a decisão de usar ou não termos que caracterizam como se sente atraída. 

Bissexualidade e estereótipos nocivos 

Pessoas LGBTQIA+ sofrem constantemente com preconceitos relacionados às suas identidades. Um dos principais estereótipos nocivos ligados a pessoas bissexuais é o de que elas são ou seriam “promíscuas” e “indecisas”. Esse tipo de crença é errada e fundamentalmente preconceituosa, colocando esses indivíduos em uma posição de “hiperssexualização” danosa para sua vivência. 

Para além disso, outros estereótipos LGBTQIAfóbicos ligados a pessoas bissexuais são:

  • A ideia de que bissexualidade é só uma fase — nenhuma identidade é apenas uma fase;
  • Que pessoas bissexuais sentem atração dividida por homens e mulheres, algumas se sente mais atraídas por um gênero do que o outro;
  • O pensamento de que quando um bissexual está em um relacionamento ele deixa de ser bi;
  • Que elas não se relacionam com pessoas transgênero; 
  • A ideia de que todas são poliamor ou tem relações com diversas pessoas ao mesmo tempo;

A experiência de cada pessoa com sua orientação sexual é individual. Portanto, perdurar estereótipos como esses é nocivo à sua existência e experiência em sociedade. Essas ideias contribuem para a perpetuação de preconceitos com a comunidade bissexual. Por isso, evite disseminar esses pensamentos. 

Dados sobre a opressão de pessoas bissexuais

Estudos apontam que cerca de 61% das mulheres bissexuais sofrem com casos de abuso sexual, violência física e perseguição, comparado com 35% das mulheres héteros. No caso dos homens bissexuais, 37% sofre com as mesmas violências, comparado aos 29% dos casos que são homens heterossexuais. 

Outras pesquisas também revelam que os níveis de abuso de álcool, hiperssexualização e assédio na comunidade LGBTQIA+ são maiores em mulheres bissexuais. De acordo com a pesquisadora Nicole Johnson, da Universidade Lehigh, nos Estados Unidos, isso acontece em decorrência ao estresse que o grupo sofre devido a estigmatização da orientação. 

Além disso, relatórios apontam que a falta de aceitação da bissexualidade é comum entre pessoas heterossexuais e LGBTQIA+. Esses fatores contribuem para a deterioração da saúde mental e física desse grupo marginalizado, que, quando comparado com outras sexualidades, frequentemente têm os maiores níveis de:

A falta de apoio social também contribui para que essas pessoas deixem de buscar ajuda necessária para lidar com seus problemas. O que aumenta os riscos de ideação suicida, algo comum entre pessoas bissexuais e transgênero.

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

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