A bituca de cigarro não é biodegradável! Pense bem antes de jogá-la fora de forma incorreta
Basta caminhar pelas ruas de qualquer cidade brasileira para ver uma bituca de cigarro em cada canto. Muitos fumantes ainda jogam suas bitucas em qualquer lugar depois que o cigarro acaba, ignorando os riscos ambientais que esse descarte incorreto representa.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número estimado de fumantes no mundo é de 1,3 bilhão. Essa enormidade de pessoas joga fora, de acordo com informações da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), 7,7 bitucas de cigarro por dia. Ou seja, são cerca de 12,3 bilhões de bitucas descartadas diariamente. De acordo com relatório da NBC News, a bituca de cigarro polui mais o oceano do que as sacolas e canudos de plástico.
Lançamento de bituca
A preocupação em relação aos números é grande porque um dos “esportes” mais praticados pelos fumantes é o “lançamento de bitucas”. Ele se familiarizou nas ruas de muitas cidades por todo o mundo.
No Estado de São Paulo, a lei antifumo, de 2009, agravou ainda mais esse problema. Afinal, não é permitido fumar em ambientes fechados e muitos estabelecimentos não disponibilizam cinzeiros e lixeiras apropriadas para a coleta das bitucas.
No Paraná, por outro lado, foram criadas leis para multar quem for pego jogando bitucas no chão. Além de legislações para instalar coletores de bitucas em pontos estratégicos.
Longe de ser inofensiva
Em relação a outros tipos de lixo, a bituca de cigarro parece ser inofensiva quando lançada nas ruas e avenidas. O estrago que esse pequeno objeto causa, no entanto, é muito maior do que muita gente imagina.
Para se ter uma ideia, o tempo de decomposição de uma bituca de cigarro descartada incorretamente pode chegar a até cinco anos. Isso principalmente se for jogada no asfalto.
Isso sem mencionar o fato de que ela contém mais de 4,7 mil substâncias tóxicas. Esse fator pode prejudicar o solo e contaminar rios e córregos. Essa relativa demora na decomposição se deve ao fato de que 95% dos filtros de cigarros são compostos de acetato de celulose. Esse material pode ser de difícil degradação.
Segundo Portal do Governo do Estado de São Paulo, entre as estações secas, a bituca de cigarro é uma das principais causadoras de incêndios.
Essas queimadas, provocadas pelo contato da bituca com a vegetação, provocam danos ambientais e ainda reduzem a segurança em locais próximos de pistas. Isso por conta da fumaça que impede uma melhor visibilidade dos motoristas.
O problema não é só a bituca
Tudo isso sem contar o mal à saúde que o cigarro faz, como agravar doenças respiratórias e aumentar o risco de câncer de pulmão.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer, 443 pessoas morrem por dia em consequência de doenças ligadas ao tabagismo. De acordo com estimativa da OMS, as vítimas do uso do tabaco chegam a cinco milhões por ano.
Problemas socioambientais
O cultivo de tabaco também promove o desmatamento, já que para secar as folhas de tabaco é necessário utilizar fornos a lenha. E, claro, há a dependência química que o cigarro provoca, sendo considerado um dos vícios mais difíceis de serem abandonados.
Além disso, fumar também é prejudicial para quem não fuma e para os trabalhadores da colheita de fumo. Os fumantes passivos têm um risco 30% maior de desenvolverem câncer de pulmão. Sendo 25% maiores as chances de desenvolverem doenças cardiovasculares além de asma, pneumonia, sinusite, entre outras.
A terceira maior causa de morte evitável no mundo é o tabagismo passivo. Isso sem falar nos danos causados pela intoxicação que a colheita do tabaco causa aos agricultores. O que inclui aumento do suicídio, principalmente no sul do Brasil.
Um estudo financiado pela Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) mostrou que o custo do fumo para o sistema de saúde brasileiro é de R$ 21 bilhões ao ano. Ao passo que toda a arrecadação tributária com essa indústria fica em torno de R$ 6 bilhões.
Por isso, a opção de parar de fumar é a que mais soluciona os problemas. A pessoa que não gera nenhuma bituca de cigarro, obviamente, não as joga no chão. Mas, para quem tem dificuldade em parar, esforce-se pelo menos para jogar a bituca no lixo. Segure a sua bituca de cigarro até encontrar uma lixeira ou “bituqueira”.
Outra opção é apagar a bituca e guardá-la de volta no maço de cigarros até que você encontre uma lixeira. Isso vai influenciar outras pessoas a fazerem o mesmo, reduzir a poluição das vias públicas e a contaminação da água.
O que a bituca de cigarro causa ao meio ambiente?
Em relação aos seus impactos ambientais, o descarte incorreto desse material pode afetar parte dos animais terrestres e marinhos. Um estudo evidenciou que concentrações significativamente baixas dessas substâncias, como uma bituca por litro de água, podem ser tóxicas para animais da fauna marinha, como peixes, pulgas e bactérias da água. Enquanto esses animais podem ser subestimados, eles têm papéis essenciais no equilíbrio do ecossistema marinho. Portanto, o descarte incorreto do cigarro pode levar ao desencadeamento de problemas críticos.
Bituca de cigarro é reciclável?
A reciclagem de bitucas é possível, como a realizada pelo programa de Gestão de Resíduos Sólidos na Usina de Reciclagem de Cigarros de Votorantim (SP). Além disso, algumas empresas oferecem bituqueiras e estações de coleta e triagem de bitucas no Brasil, a fim de destinar as bitucas descartadas corretamente para processos de reciclagem.
Existem diferentes processos de retirada de elementos químicos das bitucas para transformá-las em matéria-prima. Seja para indústrias siderúrgicas, cimenteiras, de plástico, de papel, de adubo e até de fibras naturais.
Uma pesquisa realizada na Unicamp concluiu que alguns métodos podem ser eficazes para a reciclagem de bitucas. A aplicação das bitucas como de inibidor de corrosão para o aço N80a na indústria siderúrgica, por exemplo, possui uma eficiência de 94,6% na inibição da corrosão do aço, quando tratada em uma solução com concentração de 10% de ácido clorídrico, sendo necessária, diariamente, a quantidade de cerca de 3800 bitucas.
A bituca também pode ser transformada em plástico depois de tratada inicialmente com raios gama, para que sejam removidos seus componentes tóxicos. Após esse processo, as cinzas são esterilizadas e dissecadas, misturando o papel e o tabaco. Enquanto o acetato de celulose, material plástico usado no filtro, é fundido e reciclado.
Esse método já recuperou mais de um milhão de cigarros em pouco tempo na Europa e Estados Unidos.