Chuva artificial, semeadura de nuvens (ou bombardeamento de nuvens) e blueskying são termos que se referem à mesma técnica: uma maneira de modificar o clima, injetando compostos químicos nas nuvens, para aumentar a precipitação, criando chuva.
A chuva artificial não é uma tecnologia nova, foi criada para aliviar a seca e reduzir o granizo em regiões agrícolas. No entanto, a técnica também tem sido usada para combater a poluição atmosférica regional.
Blueskying é o termo utilizado quando o objetivo da chuva artificial é eliminar a poluição atmosférica e garantir condições de céu azul.
Um artigo, publicado pelo Asia-Pacific Journal of Atmospheric Sciences, investigou os efeitos do blueskying, para descobrir os impactos que de fato essa técnica causa na redução da concentração de poeira no ar, ou partículas em suspensão.
A publicação ainda reforça que estudos anteriores tinham como foco verificar a eficácia da técnica para o aumento das chuvas, apenas.
Dois experimentos aéreos foram realizados no oeste da Coréia do Sul, na costa do Mar Amarelo, localizado no Oceano Pacífico.
O cloreto de cálcio (CaCl2) foi utilizado para “ativar” o desenvolvimento das nuvens. Por ser um material higroscópico – que tem a capacidade de absorver e reter a umidade do ar – atua como um núcleo de condensação e é usado para nuvens com temperaturas positivas.
Durante os experimentos foram utilizados, no total, 6.48 kg dessa substância.
Dados mostraram que a concentração de nuvens, garoa e partículas de precipitação aumentou de modo considerável após o lançamento.
Comparou-se as médias de nuvens, garoa e partículas de precipitação antes, durante e após o lançamento de cloreto de cálcio no céu. De acordo com os cientistas, as nuvens aumentaram 70%, a garoa aumentou 160% e as partículas de chuva cresceram 200%.
A análise dos dados permitiu concluir que o blueskying foi eficaz, sob a influência de ventos, para reduzir a concentração de partículas de poeira (PM10) na capital Seul e em outras duas províncias.
Apesar da precipitação, no condado de Taean a poluição do ar continuou aumentando. Os cientistas atribuíram a falta de eficácia do blueskying à concentração de emissões de usinas termelétricas, localizadas nesta região.
Partículas de suspensão – ou material particulado – têm diferentes tamanhos e são formadas por partículas sólidas e gotículas, emitidas a partir de poluentes. São indicadores da poluição do ar e são compostos, principalmente, por sulfatos, nitratos, amônia, cloreto de sódio, carbono negro, poeira mineral e água.
Podem ser identificadas como PM10 e PM2.5, de acordo com o diâmetro de cada uma.
As partículas PM10 apresentam diâmetro inferior a 10 micrômetros, que equivale a 0,00001 metros. As partículas PM2.5 são menores ainda, com diâmetro inferior a 2.5 micrômetros, também chamadas de partículas finas.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) as partículas presentes na poluição do ar, inaladas pelo ser humano por meio da respiração, são associadas a doenças cardíacas e pulmonares.
A OMS relata que 99% da população mundial respira um ar que contém níveis elevados de poluentes e ainda, as populações de países mais pobres e países emergentes sofrem com exposições mais elevadas de poluentes.
A qualidade do ar está diretamente relacionada às mudanças climáticas, uma vez que a maior parte da poluição atmosférica se dá pela combustão de combustíveis fósseis.
Ainda segundo a OMS, a poluição do ar aumenta o risco de doenças causadas por AVCs (acidentes vasculares cerebrais), doenças cardíacas, câncer de pulmão e doenças respiratórias crônicas e agudas, como a asma.
Os efeitos da poluição atmosférica estão associados a 6.7 milhões de mortes prematuras, todos os anos.
Um estudo, realizado em conjunto por cientistas do Paquistão, Turquia e Estados Unidos, analisou a viabilidade do blueskying e apontou que é necessário avaliar melhor a relação custo-benefício dessa prática, incluindo as melhorias e os desafios que a aplicação dessa técnica pode criar.
A publicação destaca que existem tecnologias e formas de manejo para evitar a poluição do ar, no entanto, argumenta sobre a limitação para remover os poluentes já existentes na atmosfera.
O estudo aponta três pontos de incerteza da chuva artificial, em relação à chuva natural. O primeiro ponto levantado é relacionado às características da chuva, em termos de intensidade, duração, tamanho das gotas de água e áreas atingidas, fatores esses que desempenham um papel fundamental na redução de poluentes.
O segundo ponto é em relação às condições meteorológicas, uma vez que o blueskying é resultado da manipulação do clima, isso poderia alterar a produção de chuvas naturais, torná-las diferentes em termos de quantidade e duração ou ainda, poderiam deixar de ocorrer.
O terceiro ponto se refere à eficácia na redução dos poluentes atmosféricos. Uma vez que, em condições favoráveis, alguns tipos de corrente de ar podem dispersar os poluentes antes da chuva. Além disso, a formação artificial de nuvens pode acelerar ou atrasar o início da mesma.
Além disso, os pesquisadores também argumentam sobre questões sociais e regulatórias, além das questões ecológicas, relacionadas a deposição de poluentes e substâncias nocivas, que antes ocupavam a atmosfera, e podem acabar atingindo outros ecossistemas, principalmente os ecossistemas aquáticos.
O blueskying ainda não teve sua eficiência comprovada pela ciência. Técnicas de manipulação do clima devem ser avaliadas com prudência e além das dimensões técnica e econômica, os aspectos sociais e ambientais são de extrema importância e devem ser levados em consideração.
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