As peças japonesas costuradas em estilo boro têm uma beleza única. O boro é uma técnica tradicional usada para consertar roupas, que surgiu no Japão como forma de usar uma peça até o final de sua vida útil, unindo pedaços de diferentes tecidos para restaurar um item ou criar uma nova peça a partir da junção do que de outra forma seriam apenas pedaços de pano sem utilidade. Aliado à técnica, surgiu o ponto sashiko, que era usado para fazer os remendos e, com o tempo, ganhou autonomia e usos meramente estéticos.
Surgido por necessidade, o boro faz com que cada peça conte uma história única de sua vida útil. Os padrões usados para unir os tecidos (o ponto sashiko) são cuidadosamente desenhados e há um movimento de reflexão de quem costura para com a história da roupa, sua utilidade e as possibilidades que cada item ainda oferece. A técnica criada no Japão é atualmente uma opção para quem quer fugir do mundo do fast fashion, em que todos os produtos são feitos para durarem poucas estações, sendo logo descartados e substituídos.
A história do boro remonta ao Japão dos séculos XVIII e XIX, em que o algodão era um luxo pelo qual apenas a nobreza podia pagar. As classes mais pobres se vestiam com fibras mais rústicas, que não só eram mais difíceis de se transformar em tecido como duravam menos. Assim, através da costura de diferentes pedaços de pano e do uso de pontos reforçados, era possível fortalecer a fibra para que ela durasse mais. Além disso, no período Edo (que durou até 1868), havia leis que proibiam as classes mais baixas de usarem roupas de cores brilhantes, o que fez com que as cores das roupas tradicionais em estilo boro sejam o marrom e o azul índigo (próximo do atual azul jeans).
A técnica boro, então, permitia que um tecido durasse muito tempo e fosse usado até o final de sua vida útil. Era comum que uma peça começasse como um quimono, se tornasse uma roupa de dia a dia, depois uma fronha de travesseiro, uma capa de futon, uma sacola e finalmente terminasse seu ciclo como pano de chão. Cada retalho era usado até acabar, o que casa com o princípio japonês de “mottainai”, que preza pelo uso de todo o valor intrínseco de um objeto e expressa pesar pelo desperdício.
O método de costura sashiko, por sua vez, começou como um ponto funcional e rápido de remendo e reforço na técnica boro. Conforme as roupas foram ficando mais baratas, os pontos de costura “tracejados” se desenvolveram para algo mais decorativo. Assim, cada reparo se transforma em um desafio criativo, em que quem costura pode criar os padrões de desenho e usá-los para se expressar.
Aprender a fazer as técnicas japonesas de conserto de roupas é uma forma de evitar o desperdício de itens em bom estado e ainda gera uma peça única. O boro é comum em passarelas atualmente, assim como o ponto sashiko, e as duas técnicas são formas de se acrescentar um pouco de criatividade ao tradicionalmente discreto conserto de roupas. Além disso, por essência, as técnicas abraçam a imperfeição, de modo que podem servir como diversão ou exercício meditativo e são ótimas portas de entrada para quem está querendo começar a costurar.
Você pode começar com qualquer peça de tecido que precise de reparos, seja uma roupa ou uma capa de almofada. O método boro funciona muito bem em peças jeans, que são mais próximas da origem da técnica.
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