O termo “branquitude” faz referência a posição de superioridade racial ocupada por pessoas brancas na sociedade. Usado principalmente em estudos e análises sociológicas, o conceito determina a forma como os brancos se comportam e perpetuam o racismo, mesmo que inconscientemente, mantendo seus privilégios econômicos, sociais e políticos.
A raça é uma concepção social e não existe na biologia. Porém, mesmo que seja uma categorização inventada, não é possível afirmar que ela não afeta diretamente as relações humanas. Afinal, desde que surgiu, por volta do século XVII, o conceito está entrelaçado a violência, exploração e opressão de pessoas não-brancas.
Sendo assim, a construção social de raça sempre afetou — e afeta até hoje — as relações humanas, principalmente no ocidente. Entretanto, é preciso ter em mente que o conceito de raça é relacional, logo, dependendo da localidade, o seu entendimento pode mudar.
Por exemplo: uma pessoa branca da América Latina não é necessariamente considerada branca nos Estados Unidos ou na Europa, pois a forma como a estrutura racista se estabeleceu em outras regiões difere do território nacional. Isso não quer dizer que no Brasil essa pessoa branca não ocupa uma posição social, econômica e política privilegiada.
No Brasil, a branquitude é sobre a supervalorização sistemática das pessoas de pele branca em decorrência da opressão de indígenas e negros. A sociedade brasileira, fundamentada no racismo estrutural, trata as pessoas de formas diferentes, de acordo com sua etnia ou raça.
Ou seja, negros e indigenas tem dificuldade de acesso a sistemas de educação e saúde. Além disso, as oportunidades, condições de trabalho e tratamentos desses indivíduos são totalmente divergentes daqueles que a população branca brasileira recebe. Afinal, as dinâmicas sociais foram criadas para que apenas os de pele clara tivessem suas necessidades atendidas.
Os privilégios da branquitude não significam necessariamente que há dificuldades na vida dessas pessoas. Porém, significa que, mesmo com obstáculos, essas pessoas ainda ocupam posições de superioridade social e têm suporte do Estado para resolver os problemas. Alguns dos privilégios oferecidos para os brancos em sociedade são:
Simbólico: o privilégio branco de ser entendido como um sujeito singular e múltiplo. Enquanto isso, negros, indígenas, e outras minorias raciais, são vistas como representantes de seus grupos. Por exemplo: um traficante de armas branco é entendido apenas como uma única pessoa, uma exceção. Se o crimonoso for negro, vai ser a voz de todas as outras pessoas iguais a ele, criando um esteriótipo nocivo;
Subjetivo: o racismo científico, a eugenia e o conceito de raça pura foram ideias usadas para naturalizar pensamentos preconceituosos. Por isso, não é incomum as pessoas relacionarem a “beleza” e a “inteligência” a branquitude, enquanto povos nativos e negros são vistos como “bárbaros” e “intelectualmente inferiores”;
Material: a concentração de terras e renda está sobre o poder da branquitude. Isso pode ser explicado pelo fato de que os indígenas foram roubados de suas terras com a chegada dos europeus, e a população negra foi escravizada e abandonada após a abolição. As leis criadas depois da proibição do trabalho escravo não tinham objetivo de inserir essa população na sociedade, e sim de eliminá-la;
Quando uma pessoa branca entende o que é branquitude e qual o seu papel dentro do sistema opressor, pode desenvolver sentimentos de culpa e negação. A negação que vem acompanhada desse entendimento faz o indivíduo tentar desculpabilizar o branco por seu papel opressor. Uma das formas de fazer isso é aplicando a carta do “racismo reverso”.
O conceito de “racismo reverso” parte do pressuposto de que o branco também sofre racismo. Além disso, para algumas pessoas, o enfoque em estudos sobre raça que visam exemplificar a discriminação são formas de ser racista com o branco.
No entanto, estudos críticos confirmam que não existe o chamado “racismo reverso”. Isso porque não é apenas sobre xingamentos, o racismo é um sistema de opressão que implica o poder racial branco, e a exploração e inferiorização de corpos negros e indígenas. O ato de negar e silenciar pessoas não brancas é conhecido como “pacto narcísico”.
Em seus trabalhos, a psicóloga Cida Bento denuncia a branquitude: “Eles reconhecem as desigualdades raciais, só que não associam essas desigualdades raciais à discriminação e isto é um dos primeiros sintomas da branquitude”.
“Há desigualdade racial? Há! Há uma carência negra? Há! Isso tem alguma coisa a ver com o branco? Não! É porque o negro foi escravizado, ou seja, é legado inerte de um passado no qual os brancos parecem ter estado ausentes”, a estudiosa explica como a branquitude enxerga o racismo.
Pessoas brancas, quando têm consciência sobre sua branquitude, desenvolvem sentimentos de vergonha, negação e culpa, como citado anteriormente. A junção disso cria uma barreira que impede a responsabilização do branco frente ao racismo.
Acompanhado desses sentimentos, os brancos podem tomar duas atitudes:
Entretanto é necessário estar aberto ao debate sobre o antirracismo. Isto é, compreender os privilégios da branquitude, herdados da construção de uma sociedade racista, e usar isso como um instrumento para enfrentar a opressão racial e gerar reposicionamento social.
Tomar consciência sobre a própria branquitude e os privilégios relacionados a isso é um processo contínuo e sem fim. Desta forma, ter uma posicionamento antirracista não significa que a pessoa branca está completamente livre de todos os preconceitos que possui.
O objetivo da desconstrução da branquitude é contribuir com a luta de pessoas não-brancas e usar o local de privilégio para a construção de uma sociedade menos racista. Algumas formas de fazer isso são:
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