O Brasil, um dos maiores produtores de plástico da América Latina, está no centro de uma crise ambiental que ameaça a biodiversidade marinha global. Um relatório lançado pela Oceana revela dados alarmantes: o país despeja cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos a cada ano, o que representa aproximadamente 8% do total global. Essa poluição coloca o Brasil entre os 10 maiores poluidores por plástico no mundo, ocupando o oitavo lugar.
Esse cenário traz impactos profundos, não só para os ecossistemas, mas também para a saúde pública. Microplásticos foram encontrados em 98% dos peixes analisados nos riachos da Amazônia, mostrando que a contaminação não se restringe aos oceanos. A ingestão de plásticos por animais marinhos afeta diversas espécies, incluindo moluscos, tartarugas, aves e mamíferos, levando à desnutrição, à diminuição da imunidade e, em muitos casos, à morte. Entre as tartarugas-verdes, cada grama de plástico ingerido aumenta em 450% o risco de definhamento, revelando a gravidade da situação.
O estudo também aponta para uma responsabilidade maior da sociedade e da indústria. Os resíduos plásticos, desde sacolas até embalagens flexíveis, são os mais ingeridos pela fauna marinha, causando mortes em uma em cada 10 espécies afetadas. No Brasil, 77% dos estômagos de aves, tartarugas e mamíferos analisados continham fragmentos de plástico. Diante disso, é evidente que o modelo de produção e descarte atual precisa de uma transformação urgente.
O Projeto de Lei 2524/2022, que propõe a implementação de uma Economia Circular do Plástico, surge como uma solução necessária para enfrentar essa crise. A proposta, que já tramita no Senado Federal, traz um conjunto de medidas que favorecem a reutilização e a reciclagem efetiva do plástico, além de incentivar o desenvolvimento de alternativas compostáveis. Organizações da sociedade civil apoiam o projeto, unidas pela campanha Pare o Tsunami de Plástico, que busca soluções viáveis para conter a poluição e restaurar a saúde dos oceanos.
Entretanto, a legislação por si só não é suficiente. O relatório da Oceana recomenda que o Brasil, como líder na produção de plástico na América Latina, também promova alternativas ao plástico a preços acessíveis e invista em pesquisa e inovação para estimular o uso de materiais reutilizáveis. Isso exige uma ação coordenada entre governo, indústria e sociedade civil, pois a crise plástica é, além de um problema ambiental, uma questão social e econômica que impacta diretamente a saúde humana e o equilíbrio dos ecossistemas.
Com o aumento da poluição plástica, as iniciativas científicas para monitorar e mitigar seus efeitos têm ganhado destaque. No Brasil, 49,5% das espécies de aves, répteis e mamíferos analisados pelo Projeto de Monitoramento de Praias já apresentaram plástico no estômago. Globalmente, 9 das 10 espécies de peixes mais consumidos estão contaminadas por microplásticos, demonstrando que esse material já faz parte da nossa cadeia alimentar.
O oceanólogo Ademilson Zamboni, diretor-geral da Oceana, reforça a necessidade de ação urgente, destacando que o problema é resultado de um modelo insustentável de produção e descarte. Para ele, o Brasil tem a oportunidade de liderar a transição para um futuro mais sustentável, mas isso requer a aprovação imediata de políticas públicas que regulem o uso de plástico e incentivem a adoção de práticas mais responsáveis pela indústria.
Diante da gravidade dos dados apresentados, espera-se que o Congresso Nacional atue com rapidez para aprovar o Projeto de Lei 2524/2022 e implementar medidas capazes de conter essa crise. Com políticas públicas mais assertivas, o Brasil pode se posicionar como um líder na solução dessa problemática ambiental, restaurando a saúde dos oceanos e garantindo um futuro mais equilibrado para as próximas gerações.
Para saber mais sobre a campanha Pare o Tsunami de Plástico e as ações da Oceana, acesse brasil.oceana.org.
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