O Brasil perdeu 87,2 milhões de hectares de áreas de vegetação nativa de 1985 a 2019, o equivalente a 10% do território nacional. Essa área é maior que o tamanho de países como Alemanha, Inglaterra, Itália e Portugal somados. Ou 3,5 vezes a área do estado de São Paulo.
Mais da metade dessa vegetação, 44 milhões de hectares, foi destruída na Amazônia. Já o Cerrado perdeu 28,5 milhões de hectares. Proporcionalmente, porém, o Cerrado foi o bioma que mais viu a sua área desaparecer, superando 21% do total da savana. E o Pantanal, que enfrenta em 2020 uma situação de queimadas crítica, perdeu 12% de sua área nas últimas décadas.
Os dados são do recém-divulgado levantamento do MapBiomas, projeto que mapeia ano a ano o uso do solo no Brasil. No geral, mais de 90% de toda a perda de vegetação natural no Brasil, incluindo todos os biomas, foi em função da agropecuária, que se expandiu em 78 milhões de hectares, com 43% de crescimento desde 1985.
A acurácia do levantamento atual do MapBiomas é de 91%, explica Tasso Azevedo, coordenador da plataforma, que envolve uma rede de especialistas de diversas formações, ONGs, universidades e empresas de tecnologia.
Além dos dados históricos consolidados desde 1985, revelados pela primeira vez, a última versão do MapBiomas também traz dados de desmatamento e regeneração, como a velocidade de perda de vegetação nativa por bioma e os territórios onde há mais vegetação secundária —áreas anteriormente degradadas que hoje cobrem 9% do país. Em algumas regiões, as florestas secundárias já superam as primárias.
“O MapBiomas é um produto vivo”, diz Tasso Azevedo. A cada ano, segundo ele, novas camadas de informação são adicionadas e as versões anteriores são atualizadas de acordo com informações de satélite e de pesquisa mais precisas. A chamada Coleção 5 da plataforma também incluiu o monitoramento de áreas de lavouras como soja e cana, além de melhorias nos mapeamentos de pastagem e agricultura no Brasil.
Agora é possível entender como a expansão da soja, commodity da qual o Brasil é o maior produtor mundial e uma das principais responsáveis pelo desmatamento, aconteceu ano a ano entre 2000 e 2019. Em 2020, a safra de soja atingiu o recorde de 247,4 milhões de toneladas. Por trás desses números está sobretudo a destruição do Cerrado, bioma mais afetado pela expansão da leguminosa.
Já culturas consideradas perenes, como o café, aparecem pela primeira vez no MapBiomas. Os dados devem ser aprimorados nos próximos anos. Uma boa notícia revelada por essa rodada de informações da plataforma é que a área de pastagens com sinal de degradação caiu de 72% em 2010 para 60% em 2018. Um número ainda altíssimo, mas que revela uma queda acentuada em pouco tempo.
A explicação para isso, segundo Azevedo, é que como o desmatamento teve uma tendência de queda na última década. Além das políticas para o clima que foram implementadas, parte dos pecuaristas foram obrigados a melhorar a produtividade, um problema crônico do setor.
A tendência do desmatamento, no entanto, está sendo fortemente revertida nos anos de governo Bolsonaro. A destruição da Floresta Amazônica aumentou 34% entre agosto de 2019 e julho de 2020 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Mesmo áreas protegidas por lei, como unidades de conservação e terras indígenas, viram uma alta de 40% na devastação no mesmo período.
Enquanto anuncia o fim de ações de combate ao desmatamento por “falta de verba” e volta atrás em seguida, o Governo Federal ignora o trabalho minucioso de plataformas como o MapBiomas, além dos levantamentos do próprio Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e anuncia que irá gastar R$ 145 milhões em um novo satélite de monitoramento.
Para Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, o governo Bolsonaro faz uma campanha aberta contra o Inpe porque “esse é um governo que não gosta da verdade”. O objetivo seria colocar no lugar do Inpe “algum mecanismo que publique apenas o que o governo acha que é bom para ele”. É por isso que Bolsonaro “ignora esses órgãos que fazem pesquisa e ciência”, critica Astrini.
Tasso Azevedo concorda que, se o objetivo do satélite adquirido pelo governo for ajudar a combater o desmatamento, esse é um investimento que não resolverá nada, já que os sistemas de monitoramento disponíveis hoje para a Amazônia são extremamente efetivos e confiáveis, tidos como referências mundiais.
“Não existe nenhuma floresta no mundo hoje, não só tropical, mais monitorada do que a Amazônia. A informação que temos é muito mais do que suficiente. O que falta é ação. Esse recurso poderia ser usado para ações de fiscalização e de controle remoto, que foram paralisadas. Essas duas coisas juntas dariam resultados rápidos e objetivos”, avalia Azevedo.
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