Fernando Beltrame, CEO da Eccaplan, defende que o país adote uma estratégia progressiva e baseada na inclusão social, com foco em inovação, florestas e comunidades tradicionais
Por Eccaplan | Com mais de 36 mercados regulados de carbono em operação no mundo, o Brasil tem diversas referências para se tornar uma potência climática. É o que defende Fernando Beltrame, especialista em Net Zero e CEO da Eccaplan. Para ele, o país precisa aprender com modelos bem-sucedidos – como os do Chile, Austrália, Costa Rica e Nova Zelândia – e desenvolver uma estrutura própria, robusta e conectada à realidade social e ambiental brasileira.
O Chile, por exemplo, implementou em 2021 o Chile Carbon Market, um sistema de comércio de emissões que começou pelo setor energético e agora se expande para outras áreas. O país estabeleceu a meta de ser carbono neutro até 2050 e já incentiva a substituição de fontes fósseis por renováveis, com forte apoio institucional e legal.
A Costa Rica tornou-se referência global em projetos REDD+ ao conseguir reverter o desmatamento, elevando sua cobertura florestal de menos de 50% na década de 1980 para mais de 60% atualmente. Esse avanço resultou principalmente da implementação de políticas inovadoras de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que recompensam financeiramente comunidades locais e indígenas pela preservação das florestas. Ao contrário de outros países, a Costa Rica estabeleceu um modelo financeiro sustentável, onde a conservação ambiental é financiada por meio de impostos sobre combustíveis fósseis. Esse modelo de sucesso rendeu reconhecimento internacional ao país, que se tornou um dos primeiros a obter pagamentos do Fundo de Carbono do Banco Mundial por resultados efetivamente comprovados em ações de REDD+.
A Austrália, por sua vez, adotou o Emissions Reduction Fund, que oferece apoio financeiro direto a empresas e agricultores que implementam ações sustentáveis. A Nova Zelândia foi além: incluiu o setor agrícola em seu sistema de comércio de emissões e estabeleceu um dos primeiros mercados de carbono com créditos provenientes de práticas rurais regenerativas e florestas nativas.
“Esses modelos mostram que é possível começar por setores estratégicos, fortalecer a regulação e garantir benefícios reais para quem protege o meio ambiente. O Brasil pode fazer o mesmo, de forma progressiva e sustentável”, destaca Fernando Beltrame.

De acordo com a consultoria McKinsey & Company, o mercado voluntário de carbono pode movimentar até US$ 50 bilhões por ano até 2030. Com seus vastos recursos naturais, o Brasil está entre os países com maior potencial para atender essa demanda global.
A demanda por soluções de compensação cresce à medida que grandes empresas e países assumem metas de zerar emissões líquidas. Isso gera uma janela de oportunidade para o Brasil, especialmente em áreas com vegetação nativa, biodiversidade e comunidades tradicionais – todas com potencial de gerar créditos de alto valor socioambiental.
“Estamos falando de uma ferramenta que pode movimentar a economia verde, gerar emprego e renda no campo, atrair capital estrangeiro e ainda reforçar a imagem do Brasil no comércio global. É uma equação rara, que precisa de coragem para ser viabilizada”, analisa o executivo da Eccaplan.
Para Fernando Beltrame, o momento é favorável. Com a crescente demanda global por créditos de carbono, o Brasil pode transformar seus ativos naturais em desenvolvimento sustentável.
“O mercado de carbono é uma das grandes ferramentas que temos para alinhar economia e preservação ambiental. Ele pode atrair investimentos, gerar renda em comunidades tradicionais e estimular novos mercados em tecnologia e sustentabilidade”, explica.
O executivo lista seis formas de o país se beneficiar diretamente com essa expansão:
- Geração de receita e atração de capital internacional para projetos em energia renovável e manejo florestal;
- Desenvolvimento tecnológico, com inovações em sensoriamento remoto, blockchain e monitoramento de emissões;
- Inclusão social, com geração de renda para populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas;
- Fortalecimento da imagem internacional, abrindo portas para exportações com menor pegada de carbono;
- Mitigação de riscos climáticos, com conservação da biodiversidade e serviços ecossistêmicos;
- Estímulo a políticas públicas e incentivos fiscais para práticas sustentáveis.
“O Brasil tem tudo: floresta, conhecimento técnico e capacidade de mobilização. O que falta é consolidar uma estrutura que garanta integridade, transparência e impacto positivo. Podemos, sim, ser líderes nesse mercado, e de forma justa e inclusiva”, finaliza Fernando Beltrame.