A população brasileira está envelhecendo cada vez mais rápido. Prova disso é uma análise da Organização das Nações Unidas (ONU), prevendo o pico populacional do País para 2045, quando deverá contar com 229,6 milhões de habitantes. A partir daí, a tendência é de redução gradual, chegando a 180 milhões de brasileiros em 2100.
Nesse cenário, a previsão é só de crescimento para aqueles com 60 anos de idade ou mais. Em 2019, essa faixa etária representava 14% da população e deve chegar a 29% em 2050, mais que o dobro. Já em 2100, nada menos do que 40% da população brasileira deverá ter mais de 60 anos de idade.
No processo de envelhecimento da população, o que chama a atenção dos especialistas é a mudança de perfil desse idoso. Segundo Paulo Fernandes Formighieri, geriatra e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, trata-se de “uma população que tem conseguido alcançar as idades mais avançadas com um grau de funcionalidade e independência cada vez maior, e um estilo de vida mais individualizado”.
Para o professor, hoje os idosos têm maiores perspectivas, sonhos, desejos, e, o mais importante de tudo, têm condições para realizar essas aspirações. Contudo, apesar de cada vez mais proativa, participativa e exigente nas suas demandas, essa população “ainda tem características próprias, que são diferentes das da população mais jovem, e que precisam ser entendidas e atendidas”.
Assim, defende Formighieri, a sociedade precisa priorizar “e disponibilizar recursos, de maneira apropriada, de acordo com as características dessa população idosa e proativa”, garantindo “autonomia e independência e abrindo espaço para a participação desse grupo na comunidade em geral”.
Um fenômeno que atingiu todos os países que passaram pelo mesmo processo, como Japão e países europeus, é que o processo acelerado de envelhecimento populacional e da mudança de perfil desse novo idoso gera um descompasso, principalmente porque a infraestrutura existente não evolui no mesmo ritmo. “E essa infraestrutura não é só física, ela tem a ver com cultura, serviços, compreensão e percepção das demandas dessa população”, afirma Formighieri.
Nesse caso, as políticas públicas precisam estar atentas para as mudanças necessárias em várias áreas do cotidiano, para atenderem às demandas. Em um primeiro momento de ajustes, lembra o professor, as prioridades são nas áreas da saúde, finanças e de acessibilidade a serviços em geral. Mas, depois, é preciso adaptar outros aspectos, como cultura, lazer, educação, acesso e mobilidade.
Como exemplo de falta de adaptação às pessoas idosas, Formighieri cita o ritmo acelerado da digitalização dos serviços financeiros, que, na maior parte das vezes, não leva em consideração a falta de intimidade dos idosos com o digital. Outra mudança que deveria ser observada, segundo o professor, diz respeito aos espaços públicos, que precisam oferecer convívio protegido, arejado, espaçoso e com boa acessibilidade para a circulação dessas pessoas. “Na prática, as políticas públicas passam por todos os aspectos da vida”, afirma.
Por: Ferraz Junior e Robert Siqueira
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